segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Diferença de culto (latria, dulia e hiperdulia).

Alguns protestantes confundem o culto que os católicos tributam aos santos com o culto que se deve a Deus. Para introduzir o assunto da intercessão dos santos é necessário esclarecer a diferença que existe entre os cultos de "dulia", "hiperdulia" e "latria". Em grego, o termo "douleuo" significa "honrar" e não "adorar". No sentido verbal, adorar (ad orare) significa simplesmente orar ou reverenciar a alguém. A Sagrada Escritura usa o termo "adorar" em várias acepções, tanto no sentido de douleuo como de latreuo, como demonstrarei através da "Vulgata", Bíblia católica original e escrita em latim. "Tu adorarás o teu Deus" (Mt 4, 10) "Abraão, levantando os olhos, viu três varões em pé, junto a ele. Tanto que ele os viu, correu da porta da tenda a recebê-los e prostrando em terra os adorou" (Gn. 18,2). Eis os dois sentidos bem indicados pela própria Bíblia: adoração suprema, devida só a Deus; adoração de reverência, devida a outras pessoas. A Igreja católica, no seu ensino teológico, determina tudo isso com uma exatidão matemática. A adoração, do lado de seu objeto, divide-se em três classes de culto: 1. culto de latria (grego: "latreuo") quer dizer adorar - É o culto reservado a Deus 2. culto de dulia (grego: "douleuo") quer dizer honrar. 3. culto de hiperdulia (grego: hyper, acima de; douleuo, honra) ou acima do culto de honra, sem atingir o culto de adoração. A latria é o culto que se deve somente a Deus e consiste em reconhecer nele a divindade, prestando uma homenagem absoluta e suprema, como criador e redentor dos homens. Ou seja, reconhecer que ele é o Senhor de todas as coisas e criador de todos nós, etc. O culto de dulia é especial aos santos, como sendo amigos de Deus. O culto de hiperdulia é o culto especial devido a Maria Santíssima, como Mãe de Deus. Alguns protestantes protestam dizendo que toda a "inclinação", "genuflexão", etc, é um ato eminentemente de "adoração", só devido à Deus. Já demonstramos, com o trecho do Gênesis, que isso não procede. Todavia, para deixar mais claro o problema, devemos recordar que o culto de "latria" (ou de "dulia") é um ato interno da alma. A adoração é, eminentemente, um ato interior do homem, que pode se manifestar de formas variadas, conforme as circunstâncias e as disposições de alma de cada um. Os atos exteriores - como genuflexão, inclinação, etc -, são classificados tendo em vista o "objeto" a que se destinam. Se é aos santos que se presta a inclinação, é claro que se trata de um culto de dulia. Se é a Deus, o culto é de latria. Aliás, a inclinação pode ser até um ato de agressão, como no caso dos soldados de Pilatos que, zombando de Nosso Senhor, "lhe cuspiram no rosto e, prostrando-se de joelhos, o adoraram" (Mc 15, 19). A objeção protestante, dessa forma, cai por terra. Ou eles teriam que afirmar que havia uma "adoração" por parte dos soldados de Pilatos, o que é absurdo! Eles simulavam uma adoração (ou veneração ao "Rei dos Judeus), através de atos exteriores, mas seu desejo era de zombaria.

Maria, explicação de Deus - Por Chiara Lubich

Uma mãe não deixa de amar o filho porque ele é mau, não deixa de esperá-lo se está longe, nada mais deseja senão reencontrá-lo, perdoá-lo, abraçá-lo, porque o amor de uma mãe é todo revestido de misericórdia. O amor de mãe é algo que está sempre acima de qualquer situação difícil ou condição dolorosa em que se encontre o filho. É um amor que jamais esmorece diante das borrascas morais, ideológicas ou de qualquer outro tipo, que possa envolver o filho. O seu amor, pois que está acima de tudo, tudo quer cobrir, esconder. Se ela vê o filho em perigo não hesita em arriscar seja o que for; não titubeia em jogar-se sob um trem, se o filho está para ser atropelado, ou nas ondas do mar, se corre o risco de afogar-se. Porque o amor de mãe, por sua própria natureza, é mais forte do que a morte. Noticiou-se que uma mãe se jogou da sacada do seu apartamento na tentativa de salvar seu filhinho que lhe escapara dos braços: um ato inútil e desesperado, mas que demonstra o quanto é grande o amor materno. Pois bem, se isto acontece com as mães desta terra, pode-se muito bem imaginar o que é Maria, Mãe humano-divina do Menino que era Deus, e Mãe espiritual de todos nós! Maria é a mãe por excelência, o protótipo da maternidade, portanto do amor humano. Mas, já que Deus é o Amor, ela se nos mostra como a “explicação” de Deus, o livro aberto que explica Deus. O amor em Deus foi tão grande a ponto de morrer por nós com a morte mais cruel. E isto para nos salvar: justamente como o motivo do amor da mãe é o bem do filho. Maria, por ser mãe divina, é a criatura que mais copia Deus e mais nô-lo mostra. Nós devemos reavivar a fé no amor de Maria para conosco, devemos acreditar que ela nos quer bem desse modo. E imita-la, porque é o modelo de todo cristão e o caminho direto que conduz a Deus.

LUTERO ERA DEVOTO DE NOSSA SENHORA.

A IGREJA PROTESTANTE AINDA CONTINUOU DEVOTA DE NOSSA SENHORA POR TRINTA ANOS DEPOIS DA MORTE DE LUTERO. Lutero dizia sobre a Imaculada Conceição de Maria: “É uma doce e piedosa crença esta que diz que a alma de Maria não possuía pecado original; esta de que, quando ela recebeu sua alma, ela também foi purificada do pecado original e adornada com os dons de Deus, recebendo de Deus uma alma pura. Assim, desde o primeiro momento de sua vida, ela estava livre de todo pecado” Fonte: Lutero, Sermão sobre o Dia da Conceição da Mãe de Deus de 1527 Lutero considerava Maria como Mãe dos cristãos: “Esta é a consolação e a transbordante bondade de Deus, que Maria seja sua verdadeira mãe, Cristo seu irmão, Deus seu Pai… Se acreditares assim, então estás de verdade no seio da Virgem Maria e és seu querido filho”. Lutero, Kirchenpostille, ed. Weimar, 10.1, p. 546. Lutero considerava Maria como Mãe de Deus: “Por isso em uma palavra compendia-se toda a sua honra: quando se a chama mãe de Deus, ninguém pode dizer dela maior louvor. E é preciso meditar em nosso coração o que significa ser mãe de Deus”. Lutero, Comentário ao Magnificat, de 1521, [FiM95], pg.1121.Sermão, 1522:WA 7,572 Lutero e Ulrich Zwinglio consideravam Maria sempre Virgem: “Virgem antes, no, e depois do parto, que está grávida e dá à luz. Este artigo (da fé) é milagre divino”. Lutero, já no fim de sua vida: [FiM95], pg.1122 Sermão Natal 1540: WA 49,182 “Ele, Cristo, nosso Salvador, era o fruto real e natural do ventre virginal de Maria … Isto aconteceu sem a participação de qualquer homem e ela permaneceu virgem mesmo depois disso” Lutero, “Sermões sobre João”, cap. 1 a 4, 1537-39 dC “Creio firmemente que Maria, conforme as palavras do Evangelho que afirmam que de uma Virgem nos nasceria o Filho de Deus, permaneceu sempre pura e intacta Virgem durante e depois do nascimento de seu Filho” Ulrich Zwinglio, citado em “Corpus Reformatorum” v.1, p.424 Lutero ensinava a intercessão de Maria e dos santos: “Ninguém nunca se esqueça de invocar a Virgem e os santos, pois eles podem interceder por nós”. Lutero, Prep. ad mortem Lutero venera a Virgem Maria, enaltecendo-a: “Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade”. Lutero, Comentário ao Magnificat “Não há honra, nem beatitude, que se aproxime sequer, por sua elevação, da incomparável prerrogativa, superior a todas as outras, de ser a única pessoa humana que teve um Filho em comum com o Pai Celeste.” Lutero, Deutsche Schriften, 14, 250 “Maria é a maior e a mais nobre jóia da Cristandade logo após Cristo… Ela é nobre, sábia e santamente personificada. Jamais conseguiremos honrá-la suficientemente.” Lutero, Sermão do Natal de 1531 Calvino também era devoto de Maria, a Mãe de Deus: “Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus”. Calvino, Comm. Sur l’Harm. Evang., 20 “Maria é digna de suprema honra na maior medida.” Fonte: art. IX da Apologia da Confissão de fé de Augsburg Documento muito importante do Luteranismo “Somente Deus pode permitir que Maria se dirija ao mundo, através de aparições. Cristãos Evangélicos da Alemanha, deveremos talvez continuar a opor-lhes recusa e indiferença? Temos o direito de examinar tais fatos. Seria o cúmulo da tolice ignorarmos a voz de Deus que fala ao mundo, pela mediação de Maria, e dar-lhe as costas, unicamente, porque Ele faz ouvir sua voz através da Igreja Católica (Fonte: Manifesto de Dresden 05/1982). No seu Magnificat, Maria declara que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos. Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica, tal profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum vestígio da mesma.” Fonte: “Manifesto de Dresden” Maio/1982,Teólogos Luteranos Alemães Mais alguns comentários do próprio Lutero que jamais abandonou Maria até o fim de sua vida. (Martinho Lutero - Comentário do Magníficat). “Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas de Maria, nenhuma criança além dEle. Os ‘irmãos’ significam realmente ‘primos’ aqui: a Sagrada Escritura e os judeus sempre chamaram os primos de ‘irmãos’.” (Martinho Lutero, Sermões sobre João 1-4, 1534-39) “Cristo, nosso Salvador, foi o fruto real e natural do ventre virginal de Maria. Isto se deu sem a cooperação de um homem, permanecendo virgem depois do parto.” (Martinho Lutero, idem.) “Deus diz: ‘o filho de Maria é meu Filho somente.’ Desta forma, Maria é a Mãe de Deus.” (Martinho Lutero, Ibidem) “Deus não recebeu sua divindade de Maria; todavia, não segue que seja conseqüentemente errado afirmar que Deus foi carregado por Maria, que Deus é filho de Maria, e que Maria é a Mãe de Deus. Ela é a Mãe verdadeira de Deus, a portadora de Deus. Maria amamentou o próprio Deus; ele foi embalado para dormir por ela, foi alimentado por ela, etc. Para o Deus e para o Homem, uma só pessoa, um só filho, um só Jesus, e não dois Cristos. Assim como o seu filho não são dois filhos… Mesmo que tenha duas naturezas.” (Martinho Lutero, “Nos Conselhos e na Igreja”, em 1539) “É cheia de graça, proclamada para ser inteiramente sem pecado, algo tremendamente grande. Para que fosse cheia pela graça de Deus com tudo de bom e para fazê-la vitoriosa sobre o diabo.” (Martinho Lutero, Livro Pessoal de Oração, 1522) A veneração de Maria está inscrita no mais profundo do coração humano.” (Martinho Lutero, Sermão em 1º de setembro de 1522.) “Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa mais nobre no Cristianismo depois de Cristo… Ela é a nobreza, a sabedoria e a santidade personificadas. Nós não poderemos jamais honrá-la o bastante. Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma que não ferem a Cristo nem às Escrituras.” (Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.) “Nenhuma mulher é como tu! És mais que Eva ou Sara, sobretudo, pela nobreza, bem-aventurança, sabedoria e santidade!” (Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.) “Devemos honrar Maria como ela mesma desejou e expressou no Magnificat. Louvou a Deus por suas obras. Como, então, podemos nós a exaltá-la? A honra verdadeira de Maria é a honra a Deus, louvor à graça de Deus. Maria não é nada para si mesma, mas para a causa de Cristo. Maria não deseja com isso que nós a contemplemos, mas, através dela, Deus.” (Martinho Lutero, Explicação do Magnificat, em 1521.) Lutero vai além: dá à Bem-Aventurada Virgem Exaltada a posição de “Mãe Espiritual” para os cristãos. “É a consolação e a bondade superabundante de Deus, o homem pode exultar por tal tesouro: Maria é sua verdadeira mãe, Jesus é seu irmão, Deus é seu Pai.” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1522.) “Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe de todos nós, embora fosse só Cristo quem repousou no colo dela… Se ele é nosso, deveríamos estar na situação dele; lá onde ele está, nós também devemos estar e tudo aquilo que ele tem deveria ser nosso. Portanto, a mãe dele também é nossa mãe..” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1529.) LUTERO SOBRE CRUCIFIXOS, IMAGENS E O SINAL DA CRUZ CRUCIFIXOS O costume de segurar um crucifixo diante de uma pessoa que esteja morrendo tem mantido muitos na comunidade Cristã e permitiu-lhes morrer com uma Fé confiante no Cristo crucificado. (Sermão sobre João, Capítulos 1-4, 1539; LW, Vol. XXII, 147) Foi uma prática boa segurar um crucifixo de madeira diante dos olhos dos moribundos ou pressionar nas mãos deles. Isto trouxe o sofrimento e a morte de Cristo a mente, e confortava os moribundos. Mas para os outros, que arrogantemente se basearam em suas boas obras, entraram num céu que continha um fogo crepitante. Pois eles foram afastados de Cristo e falharam em impressionar a Paixão e morte vivificante de Jesus, em seus corações.(Sermão sobre João, Capítulo 6-8, 1532; LW, Vol. XXIII, 360) Quando eu escuto falar de Cristo, uma imagem de um homem pendurado numa cruz toma meu coração, assim como o reflexo de meu rosto aparece naturalmente na água quando eu olho nela. Se não é pecado, mas sim bom em ter uma imagem de Cristo em meu coração, porque deveria ser um pecado de tê-lo em meus olhos? (Contra os Profetas Celestiais, 1525; LW, Vol. 40, 99-100) IMAGENS E ESTATUAS DE SANTOS Agora, nós não pedimos mais do que gentileza em considerar um crucifixo ou a imagem de um santo, como testemunha, para a lembrança, como um sinal, assim como foi lembrado à imagem de César. (Contra os Profetas Celestiais, 1525; LW, Vol. 40, 96) E eu digo desde já que de acordo com a lei de Moises, nenhuma outra imagem é proibida, do que uma imagem de Deus no qual se adora. Um crucifixo, por outro lado, ou qualquer outra imagem santa não é proibida. (Ibid., 85-86) Onde, porém, imagens ou estatuas são produzidas sem idolatria, então a fabricação delas não é proibida. Meus confinadores devem também deixar-me ter, usar, e olhar para um crucifixo ou uma Madonna… Contanto que eu não os adore, mas apenas os tenha como memoriais. (Ibid., 86,88) Porém, imagens para memoriais e testemunho, como crucifixos e imagens de santos, são para ser tolerados… E não são apenas para ser tolerados, mas por causa do memorial e testemunho eles são louváveis e honrados… (Ibid., 91) SINAL DA CRUZ Oração da Manhã De manhã, quando você levantar, faça o sinal da santa cruz e diga: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém… À noite, quando fores dormir, faça o sinal da santa cruz e diga: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. (Pequeno Catecismo, 1529, Seção II: Como o Chefe da Família Deve Ensinar a Sua Família a Orar Pela Manha e Noite, 22-23) Assim se originou e continua entre nós o costume de dizer a graça e retornando graças às refeições, e outras orações de manhã e à noite. Da mesma fonte veio a prática com crianças de benzer-se a visão ou audição de ocorrências aterrorizantes… (Grande Catecismo, 1529, O Segundo Mandamento, seção 31, p.57) Se o diabo coloca na sua cabeça que em você falta a santidade, a piedade e o merecimento de Davi e por essa razão não podem ter certeza que Deus escutará você, faça o sinal da cruz e diga a si mesmo: “ Deixe ser piedosos e dignos aqueles que serão!! Eu sei com certeza que eu sou uma criatura do mesmo Deus que criou Davi. E Davi, independente de sua santidade, não tem um Deus nem melhor nem maior do que eu.” (Salmo 118, LW, Vol. XIV, 61) Se você tiver um poltergeist ou espírito tocando em sua casa, não vá e discuta sobre isso aqui e ali, mas saiba que não existe um espírito bom ao qual não procede de Deus. Faça o sinal da cruz quietamente e confie em sua fé. (Sermão do Festival da Epifania, LW, Vol. 52, 178-79) BIBLIOGRAFIA E FONTES PRIMÁRIAS Grande Catecismo, 1529, traduzido por John Nicholas Lenker, Mineapolis: Augsburg Publishing House, 1935. Os Trabalhos de Lutero (LW-Luther’s Work), Edição Americana, editado por Jaroslav Pelikan (volumes 1-30) e Helmut T. Lehmann (volumes 31-55), São Luis: Concordia Pub House (volumes 1-30); Filadelfia: Fortress Press (volumes 31-55), 1955. Armstrong, Dave. Martinho Lutero sobre os crucifixos, imagens de santos e o Sinal da Cruz. [Traduzido pela colaboradora Ana Paula Livingston]. Disponível em: http://socrates58.blogspot.com/2008/04/martin-luther-on-crucifixes-images-and.html.

O Doce Nome de Maria .

O nome de Maria vem do Céu. Veio de Deus e foi-lhe imposto por ordem divina. A Santíssima Trindade Vos conferiu este nome, ó Maria, que é superior a todo nome, depois do nome do Vosso Filho; Ela enriqueceu-o de tanto poder e majestade, que o proferí-lo quer que se dobrem os joelhos dos que estão no Céu, na terra e no inferno. Vários privilégios outorgou o Senhor ao nome de Maria. O Vosso nome, ó Mãe de Deus, está cheio de graças e bênçãos divinas, diz São Metódio. E segundo São Boaventura ninguém o pode proferir devotamente sem dele tirar algum fruto. Por mais endurecido e frouxo que esteja um coração, se chega a invocar-Vos, ó benigníssima Virgem, milagrosamente desaparece a sua dureza, tão grande é a garça do Vosso nome. Sois Vós quem infunde a esperança do perdão e da graça. Vosso nome, diz Santo Ambrósio, é um bálsamo oloroso a exalar o perfume da divina graça. Sim, a lembrança do Vosso nome consola os aflitos, reconduz os transviados para a senda da salvação e livra os pecadores do desespero. É a respiração um sinal de vida. Também invocar com frequência o nome de Maria é sinal da posse ou da breve aquisição da graça divina, pois esse poderoso nome tem a virtude de alcançar auxílio e vida a quem o pronuncia devotamente. É Ele como torre fortíssima que livra o pecador da morte eterna, até os maiores pecadores acham nessa celeste fortaleza, salvação e defesa. Essa fortíssima torre não só livra de castigos os pecadores, mas defende os justos também dos ardores do inferno. Depois do nome de Jesus, nenhum outro nome há no qual resida socorro e salvação para os homens como no Excelso Nome de Maria. Especialíssima é sua força para vencer as tentações contra pureza. Isto experimentam seus devotos todos os dias. E isto se deduz das palavras de São Lucas: E o nome da Virgem era Maria – Lucas 1, 27. Fá-lo para nos dar e entender que o nome da puríssima Virgem é inseparável da pureza. Vem aí a frase de São Pedro Crisólogo: “O nome de Maria é indício de castidade; quem duvida se pecou nas tentações impuras, tem um sinal certo de não ter caído, quando se lembra de haver invocado o nome de Maria.” O nome de Maria é doce sobretudo na hora da morte. Dulcíssimo é, pois, na vida, aos devotos de Maria, seu Santíssimo nome, porque lhes alcança graças extraordinárias. Muito mais doce, porém, ser-lhes-á na última hora, proporcionando-lhes uma suave e santa morte. Esta breve oração, Jesus e Maria… é fácil de conservar na memória, doce para meditar e forte para defender os que lhe são fiéis, contra os inimigos da salvação. Bem-aventurado aquele que ama teu doce nome, ó Mãe de Deus. É ele tão glorioso e admirável, que quem se lembra de o invocar em artigo de morte, não teme os assaltos do inimigo. Roguemos pois a Deus que nos conceda a graça de ser o nome de Maria a última palavra que nossa língua pronuncie. Ó doce e segura morte, a que é acompanhada e protegida com este Nome de salvação, o qual Deus só concede proferir àqueles que quer salvar. (Extraído do livro Coração de Mãe cheio de bondade, Servus Mariae, Edições Paulinas, 5ª Edição, 1976, págs. 16/17).

Divina Pastora !

Oh Divina Pastora, levai-me a Jesus, o Bom Pastor, para que nada me falte. Fazei-me repousar em verdes pastagens. Conduzi-me junto às águas refrescantes. Restaurai as forças de minha alma. Levai-me pelos caminhos retos, por amor ao nome de Jesus. Ainda que atravesse o vale escuro, que eu nada tema, pois estais comigo. Que o Vosso cajado seja meu amparo. Amém! UM POUCO DA HISTÓRIA Nossa Senhora Divina Pastora Nossa Senhora Divina Pastora (também invocada sob os nomes de Divina Pastora das Almas, Mãe Divina Pastora ou ainda Mãe do Bom Pastor) é um dos muitos títulos pelos quais a Igreja Católica venera a Bem-aventurada Virgem Maria, sendo, sob essa invocação, particularmente cultuada em Portugal, Espanha e América Latina. As origens da devoção a Nossa Senhora Divina Pastora são imprecisas, mas as primeiras manifestações surgem no século XVIII. Existem referências à Virgem Maria vestida de pastora na vida de São João de Deus, de São Pedro de Alcântara, da Venerável Maria de Jesus de Ágreda e de Santa Maria das Cinco Chagas. Inicialmente chamada de "Virgen Zagala" (que significa: "a pastora que cuida do seu rebanho"), esta invocação simboliza uma mãe que cuida de seus filhos. No entanto, a invocação mariana de Nossa Senhora Divina Pastora começou a tornar-se mais conhecida a partir da cidade de Sevilha, em Espanha. De acordo com a tradição, a Virgem Maria terá aí aparecido no dia 8 de Setembro de 1703 - data na qual se comemora a festa da Natividade de Nossa Senhora. Ela ter-se-á revelado sentada numa rocha, vestida como uma pastora e num local onde pastavam algumas ovelhas. Desde logo, um conhecido frade capuchinho, Frei Isidoro, tornou-se num grande divulgador desta devoção (tendo mesmo solicitado a um pintor da Escola Pictórica de Sevilha, Alonso Miguel de Tovar, que fizesse a primeira representação da Virgem Maria sobre esta invocação). Posteriormente, o artista Francisco Ruiz Gijón esculpiu a primeira imagem em tamanho natural da Divina Pastora. Essa imagem foi levada na sua primeira procissão, em Outubro de 1705, com grande solenidade, até à Igreja Paroquial de Santa Marina e na qual foi desde logo constituída a "Irmandade Primitiva do Rebanho de Maria" (a primeira Irmandade dedicada a Nossa Senhora Divina Pastora). As autoridades eclesiásticas acabaram por aprovar o culto em 1709, tendo também autorizado a criação das várias Irmandades da Divina Pastora (e a uma das quais o próprio Rei de Espanha se associou. Divina Pastora de Málaga, esculpida por José Montes de Oca no século XVIII. A partir de 1705 começou a propagar-se por todo o território do Reino de Espanha e da América Latina esta invocação mariana. Nesse aspecto, teve um importante papel o Beato Diego José de Cádiz. Tendo em consideração a enorme propagação do culto a Nossa Senhora Divina Pastora no sul de Espanha, além da cidade de Sevilha, também Cantillana, Málaga, Santa Marina e Cádiz se tornaram importantes lugares de veneração à Santíssima Virgem Maria sob esta invocação. Na América Latina, o principal santuário da Divina Pastora é o da Ilha da Trindade, nas Antilhas. Este culto chegou também à Venezuela, através dos Frades Menores Capuchinhos, por volta do ano 1778. Na Venezuela, o culto a Nossa Senhora Divina Pastora atingiu tal proporção que até se utiliza a expressão "Ó Divina Pastora, a Venezuela é Tua!", tendo-se tornado na padroeira do Estado de Lara. Já no Brasil até existe, no estado de Sergipe, uma cidade chamada Divina Pastora, elevada a vila em 1836, e cuja Igreja Matriz é dedicada a Nossa Senhora sobre esta invocação. Por curiosidade, o famoso pintor Cândido Portinari executou um belo fresco da Divina Pastora para a casa de campo do Barão de Saavedra em Correias, município de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.

Ave verum !

Ave verum corpus natum de Maria Virgine Salve, ó verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria Vere passum, immolatum in cruce pro homine Que verdadeiramente padeceu e foi imolado na cruz pelo homem Cuius latus perforatum fluxit aqua et sanguine De seu lado transpassado fluiu água e sangue Esto nobis praegustatum mortis in examine Sê para nós remédio na hora tremenda da morte O Iesu dulcis, o Iesu pie, o Iesu fili Mariae. Ó doce Jesus, ó bom Jesus, ó Jesus filho de Maria.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA DE JESUS.

O Verbo Eterno se fez homem “Vim trazer o fogo à Terra; e o que desejo senão que ele se inflame?” (Lc 12, 49) OS JUDEUS CELEBRAVAM uma festa chamada “Dia do Fogo” em memória do fogo com que Neemias consumou a vítima oferecida a Deus, quando ele voltou com seus compatriotas do cativeiro da Babilônia. A festa do Natal deveria também, e com muito mais razão, chamar-se “Dia do Fogo”, porque nesse dia um Deus veio ao mundo sob a forma de uma criancinha para atear o fogo do amor no coração dos homens. “Vim trazer o fogo à Terra”, disse Jesus Cristo, e o trouxe de fato. Antes da vinda do Messias, quem amava a Deus sobre a Terra? Ele era apenas conhecido numa pequena região do mundo, isto é, na Judeia; e mesmo lá, quão poucos eram os que o amavam no tempo da sua vinda! No resto da Terra, uns adoravam o sol, outros os animais, as pedras ou criaturas mais vis ainda. Mas, depois da vinda de Jesus Cristo, o nome de Deus se espalhou por toda parte e foi amado por muitos. Desde então os corações abrasaram-se das chamas do divino amor, e Deus foi mais amado em poucos anos do que nos quatro mil aos que decorreram depois da criação. Muitos cristãos costumam preparar com bastante antecedência em suas casas um presépio para representar o nascimento de Jesus Cristo. Mas há poucos que pensam em preparar seus corações, a fim que o Menino Jesus possa neles nascer e repousar. Sejamos nós desse pequeno número: procuremos dispor-nos dignamente para arder desse fogo divino, que torna as almas contentes neste mundo e felizes no Céu. Consideremos o Verbo Eterno de Deus que se fez homem para inflamar-nos com seu divino amor. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe que nos iluminem sobre tal mistério, e comecemos. Mistério da Encarnação: o milagre dos milagres — milagre incompreensível! PECA NOSSO PAI, ADÃO. Ingrato para com Deus, do qual recebera tantos benefícios, revolta-se contra Ele e transgride a sua lei comendo do fruto proibido. Em consequência Deus vê-se obrigado a expulsar imediatamente o homem do paraíso terrestre e a privá-lo e a seus descendentes, no futuro, do paraíso celeste e eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Ei-los pois condenados a uma vida de sofrimentos e de misérias, e excluídos para sempre do Céu. Mas também, para expressarmos à maneira de Isaías, eis que Deus parece afligir-se e queixar-se. E agora, diz Ele, que me resta no paraíso, já que perdi os homens, nos quais encontrava as minhas delícias? Mas, meu Deus, Vós que possuis no Céu tão grande multidão de serafins e outros anjos, como podeis sentir tão vivamente a perda dos homens? Vossa felicidade não é perfeita sem eles? Sempre fostes e sempre sois feliz em Vós mesmo. Que pode pois faltar à vossa felicidade, que é infinita? Tudo isso é verdade, responde o Senhor, como o imagina dizer o Cardeal Hugo, explicando o texto citado de Isaías; tudo isso é verdade, mas, perdendo o homem, penso que perdi tudo, que nada mais me resta; as minhas delícias consistiam estar com os homens, e eu os perdi; ei-los condenados a viverem longe de mim para sempre!... Sacrifício do Inocente para salvar o pecador Mas como pode Deus dizer que os homens são as suas delícias? — Ah!, responde Santo Tomás, é que Deus ama o homem, como se o homem fosse seu Deus, e como se não pudesse ser feliz sem o homem. São Dionísio acrescenta que, devido ao amor que tem aos homens, Deus parece fora de si mesmo. Há um provérbio que diz que o amor põe fora de si aquele que ama: Amor extra se rapit. Não, disse Deus, não quero perder os homens; haja um Redentor que satisfaça por eles à minha justiça, e os resgate das mãos de seus inimigos e da morte eterna que mereceram... Aqui São Bernardo, contemplando esse mistério, julga ver uma contenda entre a Justiça e a Misericórdia de Deus. — Estou perdida, diz a Justiça, se Adão não for punido. — Estou perdida, diz por sua vez a Misericórdia, se o homem não obtiver perdão. O Senhor põe fim a essa contenda:“Morra um inocente, diz ele, e salve-se o homem da pena de morte, em que incorreu”. Na Terra não havia esse inocente. Então, disse o Padre Eterno, já que entre os homens não há quem possa satisfazer a minha justiça, qual dos habitantes do Céu descerá para resgatar a humanidade? Os anjos, os querubins, os serafins, todos se calam, ninguém responde. Só responde o Verbo Eterno e diz: — Eis-me aqui, mandai-me. Meu Pai, uma pura criatura, um anjo, não poderia oferecer a Vós, Majestade infinita, uma digna satisfação pela ofensa recebida do homem. E mesmo que vos quisésseis contentar com uma tal reparação, pensai que até esta hora nem os nossos benefícios, nem as nossas promessas e ameaças puderam decidir o homem a amar-nos. É que ele não sabe ainda a que ponto o amamos; se quisermos obrigá-lo a amar-vos infalivelmente, eis a mais bela ocasião que possamos ter: eu, vosso unigênito Filho, encarregar-me-ei de resgatar o homem perdido, descerei à Terra, tomarei um corpo humano, morrerei para pagar a pena que ele deve à vossa justiça; esta será assim plenamente satisfeita e o homem se persuadirá do nosso amor para com ele. — Mas, pensa, meu Filho, responde o Padre Eterno; pensa que, se te encarregares de satisfazer pelo homem, terás de levar uma vida cheia de trabalhos e dores. — Não importa, eis-me, mandai-me... — Pensa que terás de nascer numa gruta, que será estábulo de animais; que depois terás de fugir para o Egito a fim de escapar das mãos desses mesmos homens que procurarão, desde a infância, tirar-te a vida. — Não importa, mandai-me... — Pensa que, voltando do Egito, terás de levar vida extremamente penosa e abjeta como auxiliar de um pobre artífice. — Não importa, mandai-me... — Pensa enfim que, quando apareceres em público para pregar tua doutrina e te manifestar ao mundo, terás sim discípulos, mas serão pouquíssimos; a maior parte dos homens te desprezará, te tratará de impostor, de mago, insensato, samaritano e não deixará de perseguir-te, enquanto não te fizer morrer nos mais ignominiosos tormentos e suspenso num patíbulo infame. — Não importa, mandai-me... Lavrado o decreto de que o Filho de Deus se faria homem para ser o Redentor do gênero humano, o arcanjo Gabriel foi enviado a Maria. A humilde Virgem consente em tornar-se a Mãe de Deus e o Verbo Eterno se faz carne. Eis pois Jesus no seio de Maria; e entrando no mundo, Ele diz com a mais profunda humildade e inteira obediência: — Meu Pai, já que os homens não podem aplacar vossa justiça por suas obras nem por seus sacrifícios, eis-me aqui, o vosso Filho unigênito, revestido da carne humana, e pronto a expiar as faltas humanas por meus sofrimentos e por minha morte. Assim o faz falar São Paulo: Entrando no mundo, diz: Não quiseste hóstia, nem oblação, mas me formaste um corpo... E eu disse: Eis-me que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade (Hb 10,5). Assim, pois, por nós míseros vermes e para ganhar o nosso amor, é que Deus quis fazer-se homem. Sim, isso é de fé, como a Santa Igreja o proclama: “Por nossa causa e para nos salvar, Ele desceu do Céu..., diz ela, e se fez homem”. Sim, um Deus fez isso para nos obrigar a amá-lo. Encarnação do Verbo de Deus revela a divina bondade Quando Alexandre Magno venceu a Dario e se apoderou da Pérsia, para cativar o afeto daqueles povos, se vestiu à moda deles. O nosso Deus empregou, de certo modo, o mesmo meio para cativar os corações dos homens: tomou a sua semelhança e mostrou-se ao mundo feito homem. Quis assim manifestar até aonde ia o seu amor a nós: O amor de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens (Tt 2,11). O homem não me ama, parece dizer o Senhor, porque não me vê; vou mostrar-me a ele e conversar com ele, e assim me fazer amar. Ele foi visto sobre a Terra, disse o profeta, e viveu familiarmente com os homens (Br 3,38). O amor de Deus pelo homem é imenso, e o foi desde a eternidade: Eu te amei com amor eterno, diz-nos Ele, e por misericórdia te tirei do nada (Jr 31,3). Mas esse amor não se manifestara em toda a sua incompreensível grandeza. Apareceu realmente quando o Filho de Deus se fez ver sob a forma de uma criança reclinada sobre palha num estábulo. Foi então que, como diz o Apóstolo, se manifestou a bondade, a ternura, ou, segundo o texto grego, o amor singular do nosso Deus Salvador aos homens (Tt 3,4). Deus já havia mostrado o seu poder criando o mundo, observa São Bernardo, e sua sabedoria governando-o. Na encarnação do Verbo, porém, manifestou a grandeza de sua misericórdia. Antes que Deus aparecesse sobre a Terra revestido da natureza humana, continua o mesmo Santo, os homens não podiam fazer-se uma justa idéia da bondade divina. Por isso Ele se encarnou a fim de descobrir aos homens toda a extensão de sua bondade. . E de que outro modo poderia o Senhor provar ao homem ingrato a sua bondade e amor? Desprezando a Deus, diz São Fulgêncio, o homem separara-se dele para sempre. Mas não podendo mais o homem voltar-se para Deus, o Senhor veio procurá-lo sobre a Terra. Santo Agostinho havia já expressado o mesmo pensamento:“Como não podíamos ir ao nosso celeste médico, ele dignou-se vir a nós”. De diversos modos, diz São Leão, havia Deus beneficiado o homem. Jamais, porém, manifestou melhor o excesso de sua bondade para conosco do que enviando seu unigênito Filho para nos resgatar, ensinar o caminho da salvação e proporcionar a vida da graça. Então, assim se expressa o santo, “Ele saiu dos limites ordinários de sua ternura, quando, na pessoa de Jesus Cristo, a Misericórdia desceu aos pecadores, a Verdade se apresentou aos desviados, e a Vida veio em socorro dos que estavam mortos”. Santo Tomás pergunta por que a Encarnação do Verbo se diz obra do Espírito Santo: Et incarnatus est de Spiritu Sancto. É certo que todas as obras de Deus chamadas pelos teólogos Opera ad extra, isto é, que têm por objeto as criaturas, pertencem às três pessoas divinas. Por que então a Encarnação é atribuída só ao Espírito Santo? A principal razão, alegada pelo Doutor Angélico, é que todas as obras do amor divino são atribuídas ao Espírito Santo, que é o amor substancial do Pai e do Filho; ora, a obra da Encarnação foi o puro efeito do amor imenso que Deus tem para com o homem. Isso quis significar o profeta dizendo que Deus viria ao lado do meio-dia, expressão que designa, segundo o Abade Ruperto, o grande amor de Deus para conosco. Também Santo Agostinho afirma que o Verbo Eterno veio ao mundo, principalmente para que o homem soubesse quanto Deus o ama. E, segundo São Lourenço Justiniano, “Jamais Deus fez resplandecer aos olhos dos homens a sua adorável caridade, como quando se fez homem”. Porém o que mais faz conhecer o amor divino para com o gênero humano, é que o Filho de Deus veio buscá-lo, quando este dele fugia. É a isso que alude o Apóstolo quando diz referindo-se ao Verbo divino: Não tomou a natureza dos anjos, e sim a carne dos filhos de Abraão. A palavra apprehendit empregada aqui, observa São João Crisóstomo, significa que ele se apoderou do homem à maneira de quem persegue um fugitivo a quem deseja prender. Sim, Deus desceu do Céu como para prender o homem ingrato que dele fugia, como se lhe dissesse: “Homem, vê quanto te amo; desci do Céu à Terra expressamente para te buscar. Por que foges de mim? Pára, ama-me; não fujas mais de mim que tanto te amo”. De Criador, criatura enquanto natureza humana, nascida de uma criatura Deus veio pois procurar o homem perdido; e a fim de melhor lhe testemunhar o seu amor e movê-lo a amar enfim Aquele que tanto o tinha amado, o Senhor quis, ao manifestar-se-lhe pela primeira vez, aparecer sob a forma de uma tenra criancinha reclinada sobre a palha. “Felizes palhas, mais belas do que as rosas e os lírios!, exclama São Pedro Crisólogo; Que terra afortunada vos produziu? E que felicidade é a vossa por haverdes servido de leito ao Rei dos Céus! Ah!,continua o Santo, sois bem frias para Jesus, porque não podeis acalentá-lo na gruta úmida, onde Ele tirita de frio; mas sois para nós fogo e chama, pois que acendeis em nossos corações um incêndio de amor que todas as águas dos rios não poderiam apagar”. Não bastou ao amor divino, diz Santo Agostinho, ter feito o homem à sua imagem, quando criou nosso primeiro pai Adão; quis fazer-se à nossa imagem para resgatar-nos. Adão comeu do fruto proibido por instigação da serpente, que dissera a Eva que lhe bastaria provar desse fruto para se tornar semelhante a Deus, quanto à ciência do bem e do mal. Eis por que o Senhor disse então:“Adão se fez como um de nós” (Gn 3,22). Deus falava assim por ironia, e para censurar a Adão a sua temeridade; “Mas nós, observa Ricardo de São Vítor, depois da Encarnação do Verbo, podemos dizer em verdade: Eis que Deus se fez como um de nós”. “Considera esse prodígio, ó homem”, exclama Santo Agostinho: “O teu Deus se fez teu irmão”, tornou-se semelhante a ti; fez-se filho de Adão como tu, revestiu-se da mesma carne, tornou-se passível e mortal como tu. Podia tomar a natureza angélica. Mas não, preferiu unir-se à tua própria carne, a fim de satisfazer à justiça divina com uma carne vinda de Adão pecador, embora isenta de seu pecado. E disso se gloriava chamando-se repetidas vezes o Filho do homem, e autorizando-nos assim a chamá-lo nosso verdadeiro irmão. Um Deus fazer-se homem é um abaixamento incomparavelmente maior do que se todos os príncipes da Terra e todos os anjos e todos os santos do Céu, sem excetuar a Mãe de Deus, se abaixassem ao ponto de não serem mais do que um fio de erva ou um pouco de fumo. Pois que a erva, o fumo, bem como os príncipes, os anjos e os santos são criaturas, enquanto que da criatura a Deus a distância é infinita. — Mas, observa São Bernardo, quanto mais esse Deus se humilhou fazendo-se homem por nós, tanto mais fez conhecer a grandeza de sua bondade.Também o Apóstolo exclama que o amor de Jesus Cristo para conosco é tal, que nos constrange e força extremamente a amá-Lo. Ah! se a fé não nos desse a certeza, quem poderia jamais imaginar que por amor de um verme da terra, como é o homem, um Deus se fez verme da terra como o homem! Se acontecesse, diz um piedoso autor, que passando pela estrada pisásseis casualmente um verme e o matásseis, e que alguém, vendo-vos ter dele compaixão, vos dissesse:Se quereis restituir a vida a esse pobre verme, deveis primeiro tornar-vos como ele, e depois abrindo-vos as veias, banhá-lo em vosso sangue; — que responderíeis? — Que me importa, diríeis certamente, que o verme ressuscite ou fique morto, por que eu tenha de buscar a sua vida com a minha morte? Essa seria com mais razão a vossa resposta, se se tratasse não de um verme inocente, mas de um áspide ingrato que, depois de beneficiado por vós, vos tentasse tirar a vida. Mas se, não obstante isso, levásseis o amor ao ponto de sofrer a morte para restituir a vida a essa malvado réptil, que diriam os homens? E se esse animal salvo assim pela vossa morte tivesse raciocínio, que não faria por vós? Mas Jesus Cristo fez isso por ti, mísero verme da terra; e tu ingrato tentaste muitas vezes tirar-lhe a vida, e os teus pecados O teriam matado realmente, se Ele ainda estivesse sujeito à morte. Tens sido mais vil a respeito de Deus do que o verme a teu respeito! Que importava a Deus que ficasses ou não no pecado, presa da morte e da condenação segundo o teu mérito? E esse Deus teve tanto amor por ti que, para livrar-te da morte eterna, primeiro se fez verme como tu, e depois para salvar-te quis derramar todo o seu sangue e sofrer a morte que merecias. Sim, tudo isso é de fé: O Verbo se fez carne, diz São João, e amou-nos a ponto de nos lavar em seu próprio sangue (Ap 1,5). A Santa Igreja, ao considerar a obra da Redenção, declara-se aterrada. E ela não faz senão repetir as palavras do profeta ao exclamar: Senhor, eu ouvi a tua palavra, e temi; tu saíste para a salvação do teu povo, para o salvar com o teu Cristo (Ha 3,2-13). Santo Tomás tem, pois, razão de chamar o mistério da Encarnação o milagre dos milagres; milagre incompreensível, em que Deus mostra o poder de seu amor pelos homens; pois que, de Deus que é, esse amor O faz homem; de Criador, criatura nascida de uma criatura, diz São Pedro Damião; de soberano Senhor, simples servo; de imortal, sujeito às penas e à morte. É assim que, segundo a palavra da Santíssima Virgem, Ele fez brilhar o poder de seu braço. São Pedro de Alcântara, ao ouvir uma vez cantar o Evangelho que se reza na terceira missa de Natal: In principio erat Verbum etc., contemplando esse mistério ficou de tal modo inflamado de amor para com Deus que em êxtase se elevou nos ares e, embora distante, foi levado para diante do Santíssimo Sacramento. E Santo Agostinho dizia que não se saciava nunca em considerar a grandeza da bondade divina na obra da Redenção dos homens. É sem dúvida por causa da grande devoção a esse sublime mistério, que o Senhor mandou escrever sobre o coração de Santa Maria Madalena de Pazzi estas palavras: E o Verbo se fez carne. Encarnação do Verbo: belo incêndio de amor divino QUEM AMA, NÃO AMA SENÃO PARA SER AMADO; assim, diz São Bernardo, Deus que tanto nos amou, só quer de nós o nosso amor. Dirigindo-se depois a cada um de nós, ajunta: “Homem, qualquer que seja, viste o amor que Deus te mostrou fazendo-se homem, sofrendo, morrendo por ti; quando é que Deus verá por experiência em tuas ações o teu amor a Ele?” Ah! ao ver que um Deus se quis revestir da nossa carne, levar vida tão penosa, e padecer morte tão cruel por nós, cada homem deveria arder de amor para com esse Deus tão amoroso. Oxalá romperás tu os Céus, e descerás de lá! Os montes se derreteriam diante da tua face; as águas arderiam em fogo (Is 64, 1). Meu Deus, exclamava o profeta antes da vinda do Messias, dignai-vos descer do Céu, tomar a natureza humana e habitar entre nós! Vendo-vos os homens, feito como um deles, as montanhas se derreterão, aplanar-se-ão para eles todos os obstáculos, todas as dificuldades que os impedem de observar os vossos preceitos e os vossos conselhos; e as águas arderão em fogo: a chama que acendereis nos corações penetrará nas almas mais glaciais e as abrasará de amor por vós! E de fato, depois da encarnação do Verbo, que belo incêndio de amor divino se viu resplandecer em tantas almas generosas! Desde que Jesus Cristo veio habitar entre nós, Deus foi certamente mais amado pelos homens num só século, do que o fora durante os quarenta séculos que precederam sua vinda. Quantos jovens, nobres e até monarcas renunciaram às riquezas, às honras e à dignidade régia, retiraram-se ao deserto ou ao claustro, e abraçaram uma vida pobre e desprezada a fim de melhor mostrar a Deus o seu amor! Quantos mártires caminharam jubilosos e sorridentes aos tormentos e à morte! Quantas tenras virgens recusaram a mão dos grandes do mundo e derramaram seu sangue por Jesus Cristo a fim de retribuir de alguma maneira a um Deus que quis encarnar-se e morrer por seu amor! Sim, tudo isso é verdade; mas consideremos agora o que nos deve fazer chorar. Tem-se visto igual maneira de agir em todos os homens? Têm todos procurado corresponder a esse grande amor de Jesus Cristo? Ah! a maior parte lhe pagou e ainda paga com ingratidão. E tu, meu irmão, dize-me: qual tem sido o teu reconhecimento para com um Deus, que tanto te amou? Tens-lhe sempre agradecido? Tens considerado o que significam as palavras: um Deus feito homem e morto por ti? Um homem que assistia uma vez a missa sem devoção, como fazem tantos, não fez nenhum sinal de reverência ao ouvir dizer no fim: “E o Verbo se fez carne”. O demônio deu-lhe uma rude bofetada dizendo: “Ingrato, lembra-te que Deus se fez homem por ti, e tu nem te dignas inclinar-te? Ah! se Deus tivesse feito outro tanto por mim, eu lhe ficaria grato eternamente” Dize-me, cristão, que mais poderia Jesus Cristo fazer para merecer o teu amor? Se o Filho de Deus tivesse de salvar da morte a seu próprio Pai, que mais poderia fazer do que se abaixar ao ponto de tomar carne humana e sacrificar sua vida para resgatá-lo? Digo mais: Se Jesus Cristo fosse um simples homem e não uma pessoa divina, e quisesse por qualquer prova de afeição obter o amor de seu Pai, poderia Ele fazer mais do que fez por ti? E se um dos teus servos tivesse dado o seu sangue e sua vida por amor de ti, não te prenderia o coração e te obrigaria a amá-lo ao menos por gratidão? E por que Jesus Cristo, mesmo dando por ti a sua vida, não conseguiu ganhar o teu amor? Ah! se os homens desprezam o amor divino, é porque não compreendem, digamos melhor, não querem compreender que felicidade é possuir a graça de Deus, a qual, segundo a expressão do Sábio, é um tesouro infinito, e faz amigos de Deus aos que dela gozam (Ecl. 7,14). Os homens estimam e procuram o favor de um príncipe, de um prelado, de um rico, de um sábio, até de um desclassificado na sociedade; e há infelizes que não fazem caso da graça de Deus: renunciam-na por uma fumaça, um prazer brutal, um pouco de terra, um capricho, um nada. E tu, caro irmão, que dizes? Queres ser também do número desses ingratos? Se Deus não te satisfaz, diz Santo Agostinho, vê se podes encontrar algo que valha mais. Vai, pois, procura um príncipe mais benfazejo, um protetor, um irmão, um amigo mais amável, e quem te tenha amado mais do que Deus; procura alguém que, mais do que Deus, te possa fazer feliz nesta vida e na outra. Quem ama a Deus nenhum mal tem a temer; pois Deus assegura que não pode deixar de amar a quem O ama; e quando alguém é amado por Deus, que temor poderá ter? É assim que falava Davi: O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem pois temerei? E as irmãs de Lázaro contentaram-se em dizer ao Senhor que seu irmão estava enfermo, pensando: Jesus o ama e isso basta; Ele não podia deixar de ir em seu auxílio e curá-lo. De outro lado, como pode amar a Deus quem despreza o seu amor? Ah! resolvamo-nos uma vez a pagar com amor a um Deus que tanto nos tem amado. Peçamos-lhe sem cessar nos conceda o grande dom de seu amor. Segundo São Francisco de Sales, é essa a graça que devemos desejar e pedir mais que toda outra graça, porque com o amor divino obtemos todos os outros bens como no-lo assegura o Sábio. Eis por que Santo Agostinho dizia: “Amai e fazei o que quiserdes”. Quem ama alguém foge de tudo que o possa desgostar e procura agradar-lhe sempre mais. Assim quem ama verdadeiramente a Deus nada faz que O possa desagradar, mas aplica-se a fazer o possível para lhe causar prazer. Para obtermos mais depressa e mais seguramente esse precioso dom do divino amor, recorramos Àquela que mais amou a Deus, digo, a Santíssima Virgem Maria sua Mãe: o seu coração era tão inflamado de amor por Deus, que os demônios, no dizer de São Bernardino de Sena, não ousavam aproximar-se d´Ela para tentá-la. Ricardo ajunta que os próprios serafins podiam descer do Céu para aprender de Maria o modo de amar a Deus. E já que o coração de Maria era sempre todo abrasado do divino amor, continua São Boaventura, Ela comunica o mesmo fogo a todos os que a amam e d´Ela se aproximam, tornando-os semelhantes a Ela. O VERBO ETERNO DE GRANDE SE FEZ PEQUENO “Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um filho” (Is 9, 6). PLATÃO DIZIA QUE O AMOR ATRAI O AMOR:Magnes amoris, amor. Daí o provérbio citado por São João Crisóstomo: Se queres ser amado, ama. De fato, o mais seguro para cativar-se o afeto de uma pessoa, é amá-la e dar-lhe a entender que é amada. Mas, Jesus meu, essa regra, esse provérbio é para os outros, para todos os outros e não para Vós. Os homens são gratos para com todos, menos para convosco. Não sabeis o que mais fazer para testemunhar aos homens o amor que lhes tendes; nada mais vos resta a fazer para conquistardes o coração dos homens. E quantos são os que vos amam? Ah! a maior parte, digamos melhor, quase todos não só não vos amam, mas nem sequer vos querem amar. Ainda mais: vos ofendem e desprezam. Queremos também nós ser do número desses ingratos? Oh! não, que não o merece esse Deus tão bom, tão amante que, sendo grande, e de uma grandeza infinita, quis fazer-se pequeno para ser amado por nós. — Peçamos a Jesus e Maria nos esclareçam. Que são os homens diante da infinita grandeza de Deus? Para se compreender qual foi o amor que determinou a um Deus fazer-se homem e criancinha em favor dos homens, seria preciso ter uma ideia da grandeza de Deus. Mas que homem ou que anjo poderia compreender a grandeza divina que é infinita? Segundo Santo Ambrósio, dizer de Deus que Ele é maior que os Céus, que todos os reis da Terra, que todos os santos é fazer-lhe injúria, como seria injuriar a um príncipe dizer que ele é maior do que um cálamo de erva ou uma mosca. Deus é a grandeza mesma, e toda a grandeza é apenas mínima parcela da grandeza de Deus. Considerando essa divina grandeza, convencido de sua absoluta incapacidade para compreendê-la, Davi exclamou: “Senhor, onde encontrar uma grandeza comparável à vossa?” De fato, como poderia uma criatura, cuja inteligência é finita, compreender a grandeza de Deus, a qual não tem limites: Grande é o Senhor, cantava o mesmo profeta; Ele é digno de todo o louvor, e sua grandeza é infinita. — Não sabeis, disse Deus aos judeus, que Eu encho o Céu e a Terra? De sorte que para falarmos segundo o nosso modo de entender, não passamos de atomozinhos imperceptíveis nesse imenso oceano da essência divina. Dizia o Apóstolo: “Nele temos a vida, o movimento e o ser”. Que somos nós em relação a Deus? Que são todos os homens, todos os monarcas da Terra, e mesmo todos os santos e todos os anjos do Céu diante da infinita grandeza de Deus? Somos menos que um átomo relativamente ao mundo inteiro; e para falarmos como Isaías, todas as nações são na presença de Deus como a gota d’água suspensa no bordo do vaso, como o peso que faz pender apenas a balança; e todas as ilhas não são senão um pouco de pó; numa palavra, todo o universo é diante d’Ele como se não existisse. Ora esse Deus tão grande se fez criança, e para quem? Por nós. Nasceu-nos um Menino, disse ainda Isaías. Mas para que fim? Santo Ambrósio responde: “Fez-se pequeno para nos tornar grandes; quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à Terra a fim de que pudéssemos subir ao Céu”. Eis pois o Ser imenso feito criança; Aquele que os Céus não podem conter, ei-lo enfeixado em pobres paninhos, e deitado num presépio estreito e grosseiro, sobre um pouco de palhas que lhe servem de leito e de travesseiro! São Bernardo exclama: Vinde ver um Deus que pode tudo, preso em paninhos de sorte a não poder mover-se; um Deus que sabe tudo, privado da palavra; um Deus que governa o Céu e a Terra, necessitando ser carregado nos braços; um Deus que nutre todos os homens e todos os animais, precisando de um pouco de leite para viver; um Deus que consola os aflitos, que é a alegria do paraíso, e que chora, que geme e que procura quem o console! Em suma, diz São Paulo que o Filho de Deus vindo à Terra se aniquilou a si próprio. E por quê? Para salvar o homem e para ser por ele amado. “Meu divino Redentor,exclama São Bernardo, na medida em que vos abaixastes fazendo-vos homem e criança brilharam a misericórdia e o amor que nos mostrastes a fim de ganhar os nossos corações”. Soberano, mas nascido numa manjedoura em fria gruta Embora os hebreus tivessem claro conhecimento do verdadeiro Deus que se lhes manifestara por tantos milagres, não estavam satisfeitos. Queriam vê-lo face a face. Deus achou o meio de contentar também esse desejo dos homens. Tomou a natureza humana e tornou-se visível a seus olhos, diz São Pedro Crisólogo. E para melhor se insinuar aos nossos corações, continua o mesmo santo, quis mostrar-se primeiro como uma criancinha, porque nesse estado Ele devia parecer-nos mais grato a nossos afetos. Sim, acrescenta São Cirilo de Alexandria, Ele se abaixou à humilde condição de uma criancinha a fim de se tornar mais agradável a nossos corações. Era esse, com efeito, o meio mais próprio para se fazer amar. O profeta Ezequiel tinha pois razão de dizer: ó Verbo encarnado, que a época da vossa vinda à Terra devia ser o tempo do amor, o tempo dos que amam. E, com efeito, por que motivo Deus nos amou tanto e nos deu tantas provas de seu amor, senão para ser amado por nós? Deus só ama para ser amado, diz São Bernardo. Aliás, o Senhor mesmo o declarou desde o início: E agora, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que O temas... e O ames? (Dt 10,12). Para obrigar-nos a amá-Lo, Deus não quis confiar a outrem a tarefa de nossa salvação, mas quis fazer-se homem e vir resgatar-nos em pessoa. São João Crisóstomo tem uma bela observação sobre a expressão de que se serve São Paulo ao falar desse mistério; Ele nunca tomou a natureza dos anjos, mas tomou a carne dos filhos de Abraão. Por que, pergunta ele, o Apóstolo não diz simplesmente que Deus se revestiu da carne humana, mas que a tomou como que à força, segundo a significação própria do vocábulo apprehendit? E responde: afirmou assim como metáfora, para explicar que Deus desejava ser amado pelo homem, mas o homem lhe voltara as costas e não queria reconhecer o amor que Deus lhe votava. Eis por que desceu do Céu e tomou um corpo humano para se fazer conhecer e amar, como que à força, pelo homem ingrato que d´Ele fugia. É por isso que o Verbo Eterno se fez homem, e é também por isso que Ele se fez criança. Ele poderia apresentar-se sobre a Terra como homem feito à semelhança do nosso primeiro pai Adão, mas o Filho de Deus preferiu mostrar-se ao homem sob a forma de uma graciosa criança, a fim de ganhar mais depressa e com mais força o seu coração. As crianças são amáveis por si mesmas e atraem o amor de quem as vê. O Verbo divino fez-se menino, diz São Francisco de Sales, a fim de conciliar o amor de todos os homens. Ouçamos São Pedro Crisólogo: “Não é porventura desse modo que deveria vir a nós Aquele que queria banir o temor e fazer reinar o amor? Que alma haverá tão feroz que não se deixe vencer pelos encantos dessa criança? Que coração tão duro que não se enterneça à sua vista? E que amor não exige Ele de nós? Assim pois quis nascer Aquele que desejava ser amado e não temido”. O Santo Doutor nos faz compreender que, se o divino Salvador quisesse, vindo ao mundo, fazer-se temer e respeitar pelos homens, ter-se-ia apresentado sob a forma de um homem perfeito e cercado da dignidade régia. Mas, como procurava apenas ganhar nossos corações, quis aparecer no meio de nós como uma criança, e como a criança mais pobre e humilde, nascida numa fria gruta entre dois animais, colocado sobre a palha num presépio, sem lume e envolta em paninhos insuficientes para defendê-la do frio. Assim quis nascer Aquele que almejava ser amado e não temido! O Pai Eterno não despreza o sangue de Jesus vertido por nós E falando em geral do que concerne a todos, como podemos recear não obter o perdão de nossos pecados, quando pensamos em Jesus Cristo? Não foi para reconciliar os pecadores com Deus que o Verbo Eterno se humilhou a ponto de revestir-se da natureza humana? Não vim chamar os justos, disse ele, mas os pecadores. Digamos-lhe, pois com São Bernardo: “Sim, Senhor, abaixando-vos assim por nós, mostrastes até onde se estendeu a vossa misericórdia e a vossa caridade para conosco”. E tenhamos confiança, como nos exorta São Tomás de Vilanova com as palavras: “Que temes, pecador? Se te arrependeres de teus pecados, como te condenará aquele Senhor que morre para não te condenar? E se queres voltar novamente à sua amizade, como te repelirá Aquele que veio do Céu para te procurar?” Não tema pois o pecador que não quer mais ser pecador, mas deseja amar a Jesus Cristo; não se apavore mas confie. Detesta o pecado e procura a Deus, longe de se afligir, alegre-se, como a isso o convida o Salmista. O Senhor protesta que anseia se esquecer de todas as ofensas de um pecador que se arrepende. Se o ímpio fizer penitência, já não me recordarei de todas as suas iniquidades. E para nos inspirar ainda mais confiança, nosso divino Salvador se fez menino. “Quem temeria aproximar-se de uma criança?”, pergunta São Tomás de Vilanova. As crianças nada têm de terrível, respiram só doçura e amor. Alegrai-vos, pois, ó pecadores, exclama São Leão, o nascimento de Jesus é a aurora de alegria e de paz. — Ele é chamado por Isaías o Príncipe da paz. Jesus é Príncipe, não de vingança contra os pecadores, mas de misericórdia e de paz. Constituiu-se Mediador de paz entre Deus e os pecadores. Se não podemos pagar a justiça divina, diz São Agostinho, o Pai Eterno não pode desprezar o sangue de Jesus Cristo, que satisfaz por nós. O célebre duque Afonso de Albuquerque, transpondo os mares, viu certo dia o seu navio em risco de arrebentar contra os escolhos. Julgava-se já perdido, quando, percebendo uma criança que chorava, tomou-a nos braços e erguendo-a para o céu exclamou: “Senhor, se eu não mereço ser atendido, atendei ao menos os prantos desta criança inocente, e salvai-nos”. Terminada a prece, a tempestade acalmou-se e desapareceu o perigo. — Sigamos esse exemplo, nós, miseráveis pecadores. Temos ofendido a Deus. Merecemos ser condenados à morte eterna. Com razão a justiça divina quer ser satisfeita. Que devemos fazer? Desesperar? Oh!, não, ofereçamos a Deus essa terna criancinha que é seu Filho. E digamos-Lhe com confiança, se não podemos expiar as ofensas que vos temos feito, lançai os olhos sobre o divino Infante, que geme, que chora, que treme de frio sobre a palha nesta gruta; Ele satisfaz por nós e vos pede misericórdia. Se não merecemos o perdão de nossos pecados, considerai os sofrimentos e as lágrimas do vosso Filho inocente, que os merece por nós e Vos pede misericórdia. Intercessão da augusta Mãe junto de seu divino Filho Esse meio de salvação é precisamente o que Santo Anselmo nos indica. Ele diz que Jesus mesmo, não querendo nos ver perdidos, encoraja a quem se acha réu diante de Deus nestes termos: “Pecador, toma ânimo; se tuas iniqüidades já te fizeram escravo do inferno e não tens meio de te livrares dele, toma-me, oferece-me a meu Pai; assim escaparás à morte e te salvarás. Será possível imaginar-se maior misericórdia?”. A Mãe de Deus ensinou o mesmo à Irmã Francisca Farnese. Colocou-lhe nos braços o Menino Jesus e disse-lhe: “Eis meu Filho; aproveita-te dele oferecendo-o muitas vezes a Deus”. E se quisermos estar ainda mais seguros do perdão, reclamemos a intercessão dessa augusta Mãe, que é todo-poderosa junto de seu divino Filho para obter o perdão aos pecadores, como ensina São João Damasceno. E com razão, porque, segundo São Antonino, as preces de Maria junto de um Filho que tanto a quer e deseja vê-la honrada, têm o valor de ordens. É isso que leva São Pedro Damião dizer que quando a Santíssima Virgem vai pedir a Nosso Senhor em favor de algum de seus servos, Ela parece antes mandar que pedir: “Vós vos aproximais do trono de Jesus, não só para lhe suplicar, mas para, em certo sentido, lhe dar ordens, e antes como Rainha do que como serva, porque, para honrar-vos, o vosso Filho nada do que lhe pedis vos recusa”.Também São Germano acrescenta que Maria, em virtude da autoridade materna que exerce, ou, para melhor dizer, que exercera outrora sobre a Terra a respeito de seu divino Filho, pode impetrar o perdão aos maiores pecadores.

AS DORES DE NOSSA SENHORA.

Introdução 1.ª Dor - Profecias de Simeão 2.ª Dor - Fuga de Jesus para o Egito 3.ª Perda de Jesus no Templo 4.ª Encontro com Jesus caminhando para a Morte 5.ª Morte de Jesus 6.ª A lançada e a descida da Cruz 7.ª Sepultura de Jesus Resumo histórico Duas vezes no ano lembra-se a Igreja das Dores de Maria Santíssima: na Sexta-feira que antecede ao domingo de Ramos, e no dia 15 de setembro. Já antes dessas solenidades vinha o povo cristão consagrando terna lembrança às Dores da Mãe de Deus. No século XIII a tendência geral fixa-se na celebração das Sete Dores. A Ordem dos Servitas, principalmente, fundada em 1240, muito contribuiu para propagar essa devoção. Pois seus membros deviam santificar a si e aos outros pela meditação das Dores de Maria e de Seu Filho. Pelos fins do século XV era quase geral no povo cristão o culto compassivo das dores de Maria. Os poetas de vários países consagraram-lhe inúmeras poesias. O hino Stabat Mater dolorosa tem por autor o franciscano Jacopone da Todi (1306). A festa foi primeiramente introduzida pelo Sínodo de Colônia em 1423, sob o título de Comemoração das Angústias e Dores da Bem-aventurada Virgem Maria, para expiação das injúrias cometidas pelos Hussitas contra as imagens sagradas. Propagou-se rapidamente, tomando o nome de festa de Nossa Senhora da Piedade. Em 1725 introduziu-a o papa Bento XII no Estado Pontifício, e em 1727 estendeu-a para a Igreja universal. Mas, porque perdia um pouco de seu valor, por estar na quaresma, Pio VII, em 1804, mandou que fosse celebrada também no terceiro domingo de setembro. Com a reforma do Breviário, por Pio X, veio a festa a ter uma data fixa no dia 15 de setembro (Nota do tradutor). I. MARIA FOI A RAINHA DOS MÁRTIRES POR CAUSA DA DURAÇÃO E INTENSIDADE DE SUAS DORES Quem poderia ouvir sem comoção a história mais triste que jamais houve no mundo? Uma nobre e santa senhora tinha um único filho, o mais amável que se possa imaginar. Era inocente, virtuoso e belo. Ternamente retribuía o amor de sua mãe. Nunca lhe havia dado o mínimo desgosto, mas sempre lhe havia testemunhado todo respeito, toda obediência, todo afeto. Nele, por isso, a mãe tinha posto todo o seu amor, aqui na terra. Ora, que aconteceu? Pela inveja de seus inimigos, foi esse filho acusado injustamente. O juiz reconheceu, é verdade, a inocência do acusado e proclamou-a publicamente. Mas, para não desgostar os acusadores, condenou-o a uma morte infame, como lhe haviam pedido. E a pobre mãe, para sua maior pena, teve de ver como aquele tão amante e amado filho lhe era barbaramente arrancado: na flor dos anos. Fizeram-no morrer diante de seus olhos maternos, à força de torturas e esvaído em sangue num patíbulo infamante. Que dizeis, piedoso leitor? Não vos excita à compaixão a história dessa aflita mãe? Já sabeis de quem estou falando? Esse Filho, tão cruelmente suplicado, foi Jesus, nosso amoroso Redentor. E essa Mãe foi a bem-aventurada Virgem Maria, que por nosso amor se resignou a vê-lO sacrificado à justiça divina pela crueldade dos homens. Portanto é digna de nossa piedade e gratidão essa dor imensa que Maria sofre por nosso amor. Mais Lhe custou sofrê-la, do que suportar mil mortes. E se não podemos corresponder dignamente a tanto amor, demoremo-nos hoje, ao menos por algum tempo, na consideração de Suas acerbíssimas dores. Digo, por isso: Maria é Rainha dos mártires, porque as dores de Seu martírio excederam às dos mártires 1º em duração; 2º em intensidade. PONTO PRIMEIRO: Duração do martírio de Maria 1. Maria é realmente uma mártir Jesus é chamado Rei das dores e Rei dos mártires, porque em Sua vida mortal padeceu mais que todos os outros mártires. Assim também é Maria chamada com razão Rainha dos Mártires, visto ter suportado o maior martírio que se possa padecer depois das dores de Seu Filho. Mártir dos mártires é por isso o nome que lhe dá Ricardo de S. Lourenço. E bem lhe pode aplicar o texto do profeta Isaías: Ele te há de coroar com uma coroa de amargura (22, 18). A coroa, com a qual foi constituída Rainha dos mártires, foi justamente Sua dor tão acerba, que excedeu à de todos os mártires reunidos. É fora de dúvida o real martírio de Maria, como assaz o provam Dionísio Cartuxo, Pelbarto, Catarino e outros. Pois, conforme uma sentença incontestada, para ser mártir é suficiente sofrer uma dor capaz de dar a morte, ainda que em realidade se não venha a morrer. S. João Evangelista é reverenciado como mártir, não tenha embora morrido na caldeira de azeite fervendo, senão haja saído dela mais robustecido, como diz o Breviário. Para a glória do martírio, segundo Tomás, basta que uma pessoa leve a obediência ao ponto de oferecer-se à morte. Maria, no sentir do Abade Oger, foi mártir não pelas mãos dos algozes, mas sim pela acerba dor de Sua alma. Se não lhe foi o corpo dilacerado pelos golpes do algoz, foi Seu bendito coração transpassado pela Paixão de Seu Filho. E essa dor foi suficiente para dar-Lhe não uma, porém mil mortes. Vemos por aí que Maria não só foi verdadeiramente mártir, mas que Seu martírio excedeu a todos os outros por sua duração. Pois que foi Sua vida, senão um longo e lento martírio? 2. Duração do martírio de Maria Assim como a Paixão de Jesus começou com Seu nascimento, diz S. Bernardo, também assim sofreu Maria o martírio durante toda a Sua vida por ser em tudo semelhante ao Filho. Como observa S. Alberto Magno, o nome de Maria significa, entre outras coisas, amargura do mar. Aplica-lhe o Santo por isso o texto de Jeremias: Grande como o mar é a minha dor (Jr 2, 13). Com efeito, e o mar amargo e salgado. Assim foi também toda a vida de Maria sempre cheia de amarguras, porque não Lhe desaparecia do espírito a lembrança, da Paixão do Redentor. Mais iluminada pelo Espírito Santo que todos os profetas, compreendia melhor do que eles as predições a respeito do Messias, registradas na Escritura. Está isso acima de toda e qualquer dúvida. Assim instruiu um anjo a S. Brígida, e ainda ajuntou que Nossa Senhora sentia terna compaixão com o inocente Salvador, mesmo antes de Lhe ser Mãe. E tudo por causa do conhecimento que possuía sobre as dores a serem suportadas pelo Verbo Divino, para a salvação dos homens, e sobre a cruel morte que O aguardava em vista de nossos pecados. Já então começou, portanto o padecimento de Maria. Mas sem medida tornou-se essa dor, desde o dia em que a Virgem ficou sendo Mãe de Jesus. Sofreu daí em diante um perene martírio, observa Roberto de Deutz, tendo em vista as dores que esperavam por Seu Filho. E também o que significa a visão de S. Brígida, em Roma, na igreja de S. Maria. Aí lhe apareceu a Santíssima Virgem em companhia de S. Simeão, e de um anjo que trazia uma longa espada a gotejar sangue. Essa espada era um emblema da mui longa e acerba dor que dilacerou o coração de Maria, durante toda a sua vida. O supra-citado abade põe nos lábios de Maria as seguintes palavras: Almas remidas, filhas diletas, não vos deveis compadecer de mim, só por aquela hora em que assisti à morte de meu amado Jesus. Pois a espada, prenunciada por Simeão transpassou minha alma em todos os dias de minha vida. Quando eu aleitava Meu Filho, o aconchegava ao colo, já contemplava a morte cruel que Lhe estava reservada. Considerai por isso que áspera e intensa dor eu devia sofrer! Maria, pois, teve razão para dizer com Davi: A minha vida se consome na dor e os meus anos em gemidos (SI 30, 11). A minha dor está sempre ante os meus olhos (SI 37, 18). Passei toda a Minha vida entre dores e lágrimas, porque a minha dor, que era a compaixão com Meu Filho, nunca se apartava dos Meus olhos. Eu estava sempre contemplando todos os Seus tormentos e a morte que Ele um dia havia de sofrer. Revelou a Divina Mãe a S. Brígida que, mesmo depois da morte e da ascensão de Seu Filho ao céu, continuava viva e recente em Seu materno coração, a lembrança dos sofrimentos dEle. Acompanhava-A até nos trabalhos e nas refeições. Vulgato Taulero escreve, por isso, que a Virgem passou toda a Sua vida em perpétua dor, carregando no coração luto e pesar. 3. O tempo não mitigou os sofrimentos de Maria O tempo, que costuma mitigar a dor dos aflitos, não pôde aliviá-la em Maria. Aumentava-Lhe, pelo contrário, a aflição. Crescendo, ia Jesus mostrando cada vez mais a Sua beleza e amabilidade. Mas de outro lado ia também se avizinhando da morte. Com isso cada vez mais a dor por haver de perdê-lO apertava também o coração da Mãe. Tal como a rosa que cresce por entre espinhos, crescia a Mãe de Deus em anos no maior dos sofrimentos. E como crescem os espinhos à medida que a rosa desabrocha, cresceram também em Maria - rosa mística do Senhor - os penetrantes espinhos das aflições. Passemos agora à consideração da intensidade das dores de Nossa Senhora. PONTO SEGUNDO: Intensidade do martírio de Maria Maria é Rainha dos mártires Pois entre todos os martírios foi o Seu o mais longo e também o mais doloroso. Quem lhe poderá medir jamais a extensão? Ao considerar o sofrimento dessa Mãe dolorosa, não sabia Jeremias a quem compará-lA. Pois não exclama: A quem te compararei? Porque é grande como o mar o teu desfalecimento. Quem te remediou? (Jr 2, 13). "O Virgem bendita, como a amargura do mar excede todas as amarguras, assim Vossa dor excede todas as outras dores", - desta forma explica Hugo de S. Vítor o citado texto. Na opinião de Eádmero, a dor de Maria era suficiente para causar-Lhe a morte a cada instante, se Deus não Lhe tivesse conservado a vida por um singular milagre. E S. Bernardino de Sena chega a dizer que a intensidade de Seu sofrimento tão aniquiladora foi, que, dividida por todos os homens, bastaria para fazê-los morrer todos, repentinamente. 1- Os mártires sofreram tormentos no corpo, Maria sofreu-os na alma Vejamos, contudo as razões por que o martírio de Maria foi mais doloroso que o de todos, os mártires. Devemos refletir, em primeiro lugar, que, estes sofreram em seus corpos por meio do fogo e do ferro enquanto a Virgem padeceu o martírio na alma. Nesse sentido lhe dissera Simeão: E uma espada transpassará até a tua alma (Lc 2, 35). O santo ancião queria dizer: Ó Virgem sacrossanta, os outros mártires hão de ter o corpo ferido pela espada, porém vós tereis a alma transpassada e dilacerada pela Paixão de Vosso Filho. Quanto a alma é mais nobre que o corpo, tanto a dor de Maria foi superior à de todos os mártires. Não são as dores da alma comparáveis aos tormentos do corpo, disse o Senhor a S. Catarina de Sena. Por isso, escreve Amoldo de Chartres: Por ocasião do grande sacrifício do Cordeiro imaculado, que morria por nós na cruz, poderíamos ter visto dois altares: um no Calvário, no corpo de Jesus, outro no Coração de Maria. Enquanto que o Filho sacrificava Seu corpo pela morte, Maria sacrificava Sua alma pela compaixão. 2- Os mártires sofreram imolando a própria vida, enquanto Mana sofreu oferecendo a vida de Seu Filho. A estas palavras dá S. Antonino por motivo: Maria amava a vida do Filho muito mais que a própria vida. Sofreu por isso no espírito tudo o que no corpo padeceu o Filho. Mais ainda. Seu coração afligiu-se mais presenciando os tormentos do Filho, do que se Ela própria os tivesse sofrido em Si. Semdúvida alguma a Virgem padeceu em Seu coração todos os suplícios com que viu atormentado o Seu amado Jesus. Sabem todos que as penas dos filhos são também penas das mães que os vêem sofrer. Quanto suplício de espírito não suportou a mãe dos Macabeus, à vista do martírio dos seus sete filhos! Isto considera S. Agostinho e diz: Vendo-os, sofreu com todos; amava-os a todos e por isso Só em vê-los sentiu o que eles experimentaram no corpo. Deu-se o mesmo com Maria. Todos os tormentos, açoites, espinhos, cravos e a cruz afligiram, juntamente com o corpo de Jesus, o coração de Maria para lhe consumar o martírio. O que Jesus suportou na Sua carne, em Seu coração o suportou a Mãe, comenta o Beato Amadeu. Este tornou-se, pois, como que um espelho, diz; S. Lourenço Justiniano. As pancadas, as chagas, os ultrajes, e tudo mais que sofreu Jesus, se via refletido nesse espelho. Segundo S. Boaventura, as mesmas chagas que estavam espalhadas pelo corpo de Jesus, se achavam todas reunidas no coração de Maria. Assim a Virgem, por Sua compaixão para com o Filho, em Seu terno coração foi flagelada, coroada de espinhos, carregada de opróbrios, pregada à cruz. Às citadas palavras que nos descrevem a Mãe no Calvário, segue-se a pergunta do suposto S. Boaventura: Dizei-me, Senhora; onde estáveis então? Porventura junto da cruz, apenas? Não; melhor posso dizer que estáveis na própria cruz, crucificada juntamente com Vosso Filho. Com Isaías diz o Redentor: Eu calquei o lagar sozinho e das gentes não se acha homem comigo (63, 3). Sobre isto observa, Ricardo de S. Lourenço: Senhor, tínheis razão de dizer que padecestes sozinho, quando da Redenção do gênero humano, e que nenhum homem tivestes compadecido de Vós. Porém, uma mulher, Vossa Mãe, sofreu em Seu coração tudo quando sofrestes em Vosso corpo. Mas tudo isso ainda é dizer pouco sobre as dores de Maria. Como já se disse, a Santíssima Virgem mais sofreu à vista de Seu atormentado e querido Jesus, do que se pessoalmente houvesse suportado os tormentos e a morte do Filho. Erasmo, falando dos pais em geral, diz: Mais do que as próprias, sentem os pais as dores dos filhos. Nem sempre isso é verdade. Mas certamente o era em Maria, porque amou imensamente mais a Seu Filho e a vida dEle, que a si mesma e as mil vidas que tivera. É bem acertada por isso a observação do Beato Amadeu, ao dizer que Maria, diante das dolorosas penas de Seu amado Jesus, padeceu muito mais do que se tivesse sofrido toda a Sua Paixão. E é clara a razão de tudo. Pois não está a alma humana mais com aquilo que ama, do que com aquilo que anima? E não afirmou o próprio Salvador: Onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração? (Lc 12, 34). Assim, pois, Maria, se pelo amor vivia mais no Filho do que em Si mesma, ao vê-lO morrer tinha de suportar dores incomparavelmente mais acerbas; do que se A fizessem sofrer a morte mais cruel do mundo. 3. Os mártires sofreram consolados, Maria padeceu sem consolo. Há ainda uma circunstância a mostrar-nos como o martírio de Maria excedeu incomparavelmente ao dos mártires todos. Não só Ela sofreu dores indizíveis, como também as sofreu sem alívio algum, na Paixão de Seu Filho. Padeciam os mártires os tormentos a que os condenavam maus tiranos, porém o amor de Jesus lhes tomava as dores amáveis e suaves. Quanto não sofreu um S. Vicente, por exemplo! Atormentaram-no sobre um cavalete descamando-o com unhas de ferro, com lâminas candentes o queimaram também. Entretanto, dele que vemos e ouvimos? S. Agostinho nos diz: Parecia ser um a sofrer e outro a falar. Com tal fortaleza de ânimo e tal desprezo dos tormentos falou o mártir ao tirano, que parecia ser um Vicente que sofria, e outro que falava. Tanta lhe era a doçura do amor com que Deus o confortava naquelas torturas! Dolorosos suplícios teve de suportar também um S. Bonifácio. Picaram-no, meteram-lhe pontinhas de ferro debaixo das unhas, entornaram-lhe pela boca chumbo derretido. Mas o Santo repetia sem cessar: Eu vos dou graças, Senhor Jesus Cristo. Horrivelmente sofreram igualmente um S. Marcos e S. Marcelino, com os pés pregados numa estaca. Disse-lhes então o tirano: Miseráveis, retratai-vos e sereis livres dessas penas! - Mas de que penas falais? Nunca passamos tempo tão delicioso como este, em que estamos sofrendo voluntariamente por amor de Jesus Cristo, responderam-lhe os santos. Um S. Lourenço, enquanto assava sobre uma grelha, sofria horrores. Mas a chama interior do amor divino, diz S. Leão, era mais poderosa para consolar-lhe a alma, que o fogo externo para lhe atormentar o corpo. Tal era o ânimo que lhe comunicava esse amor, que o Santo chegava a desafiar o tirano, dizendo: Queres comer minha carne? Anda depressa; já de um lado está assada, Vira e come! Ah! responde S. Agostinho, é que ele estava embriagado com o vinho do amor divino, e por isso não sentia os tormentos nem a morte. Quanto mais os santos mártires amavam, pois, a Jesus, menos sentiam os tormentos e a morte. Bastava-lhes a lembrança dos sofrimentos de um Deus crucificado para consolá-lo. Podia, porém, nossa Mãe dolorosa achar consolo no amor a Seu Filho e na lembrança de Seus sofrimentos? Não; justamente esse padecimento era todo o motivo de sua maior dor. Único e crudelíssimo algoz Lhe foi tão somente o amor que consagrava ao Filho. Todo o martírio de Maria consistiu em vê-lO, amado e inocente, sofrer tanto, e em compadecer-se de Suas dores. Tanto mais acerba e sem alívio lhe era a dor, quanto mais O amava. Grande como o maré a tua dor e quem te curará? (Jr 2, 13). Ah! Rainha dos céus, aos outros mártires o amor mitigou as penas e pensou as feridas. A Vós, porém, quem suavizou jamais a grande aflição? Quem curou jamais as chagas doloríssimas de Vosso coração? O Filho que Vos podia dar consolo era a causa única de Vosso penar, e o amor que Lhe tínheis constituía todo o Vosso martírio. Cada um com o instrumento de seu martírio, representam-se os mártires: S. Paulo com a espada; S. André com a cruz; S. Lourenço com a grelha. No entanto Maria é representada com o Filho morto, nos braços. Só Jesus foi o instrumento de seu martírio, por causa do amor que Lhe consagrava. Ricardo de S. Vítor reduz tudo isso à concisa sentença: Nos mártires o amor era um consolo nos sofrimentos, em Maria, pelo contrário, cresciam as penas e o martírio na proporção de Seu amor. É certo que; quanto mais se ama uma pessoa, tanto mais se sente a pena de perdê-la. A morte de um irmão, de um filho, aflige mais, certamente, que a de um amigo. Cornélio a Lápide diz, por isso: Para medir a dor de Maria pela morte do Filho, é preciso ponderar a grandeza do amor que Lhe devotava. Mas quem poderá medi-lo? Era duplo o amor de Jesus no coração de Maria, observa o Beato Amadeu: um sobrenatural, com que O amava como a Seu Deus, e natural o outro, com que O estremecia como Filho. Esse duplo amor reuniu-se num só, imenso e incalculável amor, a ponto de Guilherme de Paris ousar dizer: Tanto era o amor da Santíssima Virgem a Jesus, que uma pura criatura não seria capaz de amá-lO mais. Ora, conclui Ricardo de S. Vítor, como o amor de Maria não comporta comparações, também não as comporta a Sua dor. Imenso era o amor da Senhora a Seu Filho e também incalculável devia ser a Sua pena ao perdê-lO, observa S. Alberto Magno. Imaginemos que a Mãe de Deus, junto ao Filho moribundo na cruz, nos dirige as palavras de Jeremias: Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor (Jr 1, 12). Ó vós que viveis na terra, e não vos compadeceis de Mim, parai um pouco a contemplar-Me neste momento em que estou vendo morrer Meu Filho diletíssimo. Vede em seguida se, entre todos os aflitos e atormentados, há dor semelhante à Minha dor. Não há, nem pode haver mais amarga tortura do que a Vossa, diz o Ofício das Dores de Maria; pois nunca houve no mundo Filho mais amável que o Vosso. Também S. Lourenço Justiniano afirma: Não houve jamais Filho mais amável que Jesus, nem mãe alguma mais amante que Maria. Se, pois, nunca houve na terra amor semelhante ao de Maria, como poderia haver então sofrimento semelhante ao Seu? Eis por que um escritor não hesita em apresentar como testemunho de S. Ildefonso esta sentença: Ainda é pouco dizer que as dores da Virgem excedem aos tormentos, mesmo reunidos, de todos os mártires. Eádmero acrescenta que os suplícios mais cruéis infligidos aos santos mártires foram leves e como que nada, em comparação ao martírio de Maria. No mesmo sentido escreve S. Basílio de Seleucia: À semelhança do sol que ofusca o esplendor de todos os outros planetas, o sofrimento de Maria fez desaparecer o de todos os mártires. O douto Pinamonti conclui com este belíssimo pensamento: Tamanha foi a dor que essa Mãe sofreu na Paixão de Jesus, que só essa dor foi compaixão digna da morte de um Deus. S. Boaventura, dirigindo-se à Bem-aventurada Virgem, pergunta: Quisestes, Senhora minha, ser também imolada no Calvário? Para remir-nos não bastava porventura um Deus crucificado? E por que então quisestes também Vós, sua Mãe, ser igualmente crucificada? Certamente bastava a morte de Jesus para a redenção do mundo, e até de uma infinidade de mundos. Amando-nos, porém, quis essa boa Mãe concorrer de Sua parte para nossa redenção com o merecimento de Suas dores, suportadas por nós no Calvário. De onde as palavras de S. Alberto Magno: Somos obrigados a Jesus pela Paixão que sofreu por nosso amor, mas o somos também a Maria pelo martírio que, na morte do Filho, quis sofrer espontaneamente pela nossa salvação. Espontaneamente o fez, pois um anjo revelou a S. Brígida que nossa tão compassiva e benigna Mãe preferiu sofrer todas as penas, a ver as almas privadas de redenção e entregues à antiga miséria. Pode-se até dizer, com Simeão de Cássia, que o único consolo de Maria, no meio da acerbíssima dor pela Paixão de Jesus, era pensar no mundo resgatado e ver reconciliados com Deus os homens inimizados outrora com Ele. 4- Maria recompensa a veneração de Suas dores Tão grande amor de Maria bem merece toda a nossa gratidão. Mostremo-lA ao menos pela meditação e compaixão de Suas dores. Queixou-Se, por isso, a Virgem Santíssima a S. Brígida que muito poucos são os que dEla se compadecem: sendo que a maior parte dos homens vivem esquecidos de Suas aflições. Recomendou-lhe em seguida, com muita insistência, que delas guardasse contínua memória. Quanto é agradável a Maria essa meditação de suas dores podemos deduzi-lo da aparição com que contemplou em 1239 aqueles 7 devotos seus, fundadores da Ordem dos Servitas. Apresentou-Se-lhes tendo nas mãos um hábito negro, ordenou-lhes meditassem com freqüência e amor em Suas dores, e que em memória delas vestissem aquela lúgubre roupeta. O próprio Jesus Cristo revelou a S. Verônica de Binasco que Ele mais Se agrada em ver meditados os sofrimentos de Maria, que contemplados os Seus próprios. Filha, disse o Senhor, caras Me são as lágrimas derramadas sobre Minha Paixão; mas, como amo imensamente a Minha Mãe, ainda Me é mais cara a meditação das dores que Ela padeceu, vendo-Me morrer. Assim é que Jesus prometeu graças extraordinárias aos devotos das dores de Maria. Pelbarto refere-nos a seguinte revelação de S. Isabel a esse respeito. S. João Evangelista, depois da Assunção da Senhora, muito desejava revê-lA. Obteve com efeito essa graça e sua Mãe querida apareceu-lhe em companhia de Jesus Cristo. Ouviu em seguida Maria pedir ao Filho algumas graças especiais para os devotos de Suas dores, e Jesus prometer quatro principais graças. Ei-las: 1.º- Esses devotos terão a graça de fazer verdadeira penitência por todos os seus pecados, antes da morte; 2.º Jesus guardá-los-á em todas as tribulações em que acharem, especialmente na hora da morte; 3.º Ele lhes imprimirá no coração a memória de Sua Paixão, dando-lhes depois um prêmio especial no céu; 4.º por fim os deixará nas mãos de Sua Mãe para que deles disponha a Seu agrado, e lhes obtenha todos e quaisquer favores. Comprovando tudo isso, leia-se o exemplo seguinte que mostra quanto é útil à salvação eterna venerar as dores de Maria. EXEMPLO Santa Teresa inflamada de amor Lê-se nas Revelações de S. Brígida que havia um senhor tão nobre pelo nascimento como vil e depravado pelos costumes. Fizera pacto expresso com o demônio, a quem havia servido como escravo durante sessenta anos seguidos, sem se aproximar dos sacramentos, e levando a pior vida que se pode imaginar. Ora, estando para morrer esse fidalgo, Jesus Cristo, para usar com ele de misericórdia, ordenou a S. Brígida que pedisse a seu diretor espiritual que o fosse visitar e exortar a confessar-se. O padre foi, mas o doente respondeu que já se tinha confessado muitas vezes, não necessitando mais de confissão. Foi segunda vez, porém o infeliz escravo do inferno obstinou-se na sua impenitência. Jesus de novo disse à Santa que o padre não devia desanimar. Este voltou terceira vez e referiu ao doente a revelação feita à Santa, dizendo-lhe que tinha voltado por ordem do Senhor, o qual queria usar de misericórdia em seu favor. Isto ouvindo, o infeliz começou a enternecer-se e a chorar. Mas como, (exclamou em seguida), poderei ser perdoado? Durante sessenta anos servi ao demônio, e dele me fiz escravo, e tenho a alma tão carregada de inúmeros pecados! - Filho, respondeu-lhe o padre, animando-o, não duvides; se te arrependeres, prometo-te o perdão em nome de Deus. Começando então a ter confiança, disse o infeliz ao confessor: Meu Pai, eu me julgava condenado e desesperava da minha salvação; mas agora sinto uma dor de meus pecados, que me anima a ter confiança. Com efeito, confessou-se no mesmo dia quatro vezes, com muita contrição. No dia seguinte comungou, e morreu seis dias depois, muito contrito e resignado. Depois de sua morte, Jesus Cristo falou de novo a S. Brígida e disse-lhe que aquele pecador se tinha salvado, que estava no purgatório, e devia a salvação à intercessão da Virgem, sua Mãe, pois apesar da vida perversa que levara, tinha conservado a devoção às Suas dores, recordando-as sempre com compaixão. ORAÇÃO Ó minha Mãe dolorosa, Rainha dos mártires e das dores, chorastes tanto Vosso Filho, morto por minha salvação; mas de que me servirão Vossas lágrimas, se eu me perder? Pelos merecimentos, pois, de Vossas dores, impetrai-me uma verdadeira emenda de vida, com uma perpétua e terna compaixão de Jesus e Vossas dores. E já que Jesus e Vós sendo inocentes, tanto padecestes por mim, obtende-me que eu, réu do inferno, padeça também alguma coisa por amor de Vós. Digo-Vos com S. Boaventura: "Ó minha Senhora, se eu Vos magoei, feri e enternecei meu coração, para castigar-me; se eu Vos tenho servido, fazei-o então em recompensa disso. Considero uma vergonha me ver sem chagas quando Vós e Jesus estais feridos por meu amor". Finalmente, ó minha Mãe, ainda um pedido. Pela aflição que sentistes vendo diante de Vossos olhos Vosso Filho, entre tantos tormentos, inclinar a cabeça e expirar na cruz, suplico-Vos que me alcanceis uma boa morte. Ah! não me abandoneis na última hora, ó advogada dos pecadores. Não deixeis de assistir minha alma aflita e combatida, na terrível e inevitável passagem da vida à eternidade. E como é possível que eu perca então a palavra e a voz, para invocar Vosso nome e o de Jesus, que sois toda a minha esperança, invoco-Vos desde já, a Vosso Filho e a Vós, pedindo-Vos que me socorrais no instante final, e dizendo: Jesus e Maria, a Vós recomendo a minha alma. Amém. (Glórias de Maria por Santo Afonso de Maria de Ligório)
“O único modo de entrar no Paraíso é por meio de Maria e, o modo mais eficiente para chegarmos a essa tão boa Mãe é através do santo Rosário. Assim, podemos dizer que se Nossa Senhora é a porta do Céu, o Rosário, para o batizado, é a chave que nos permite passar por essa santa porta.” MONTFORT, S. Luís Grignion de “Repercorremos alguns acontecimentos do caminho de Jesus, da nossa salvação, juntamente com Aquela que é a nossa Mãe, Maria, Aquela que com mão firme nos guia rumo ao Seu Filho Jesus, Aquela que é a Chave Espiritual da nossa Fé. Maria guia-nos sempre para Jesus.” ( Papa Francisco – Recitação do Santo Rosário – 14 de Outubro de 2013

O Rosário.

Na antiguidade, romanos e gregos possuíam o costume de coroar suas estátuas com rosas ou outras flores, simbolizando a homenagem e reverência que a elas prestavam. Adotando para si esse costume, as mulheres cristãs que eram levadas para o martírio, vestiam suas roupas mais belas e adornavam suas frontes com coroas de rosas, mostrando o enormecontentamento que possuíam de irem ao encontro do Senhor. À noite os cristãos recolhiam as flores, e por cada rosa recitavam uma oração ou um salmo pelas mártires. Daí nasceu o costume recomendado pela Igreja de se rezar o rosário, que consistia em recitar os 150 salmos de David, que eram considerados uma oração extremamente agradável a Deus. Entretanto, nem todos podiam seguir essa recomendação: saber ler naquela época era reservado apenas aos cultos e letrados. Para os que não podiam fazê-lo, a Igreja permitiu substituir os 150 salmos por 150 Ave-Marias. A este “rosário” se passou a chamar “o saltério da Virgem”. Pouco antes de findar o século XII, Domingo de Gusmão afligia-se com a situação de decadência de sua época, a gravidade dos pecados e o crescimento da heresia dos cátaros. Um dia, decidiu ir rezar num bosque, e pedindo fervorosamente que Deus interviesse na situação da Cristandade, começou a flagelar-se com dureza tão grande, que acabou por cair desmaiado. Apenas tendo recobrado os sentidos, a Virgem Santíssima lhe apareceu e disse-lhe: a melhor arma para combater a heresia e conseguir a conversão dos hereges não era a flagelação, mas sim a recitação de seu saltério. Dirigindo-se imediatamente à Catedral de Toulouse, São Domingos de Gusmão mandou tocar os sinos e reuniu o povo. Quando ia começar a falar, uma violenta tempestade se desencadeou com raios e trovões. Porém, verdadeiro susto tiveram os presentes quando viram a imagem da Mãe de Deus erguer o braço direito e ameaçá-los com olhar terrível. Nesse momento, São Domingos começou a rezar o Rosário, e com ele todo o povo reunido na catedral. À medida que rezavam a tempestade amainava, até que cessou completamente. Noutra ocasião, São Domingos iria fazer um sermão em Notre Dame de Paris na festa de São João Batista. Preparara primorosamente sua homilia, mas antes de fazê-lo rezou fervorosamente o Rosário, e eis que a Virgem Santíssima lhe apareceu e disse: “seu sermão está bom, mas este que lhe dou está melhor!”, e deu-lhe um que tratava da devoção ao seu Santo Rosário, e o quanto ela agradava a Deus e à Virgem. Por muito tempo a população passou a rezar com devoção o Rosário. Porém, passados uns 100 anos da morte desse grande santo, o Rosário começou a ser esquecido. Em 1349 houve uma terrível epidemia na Espanha que devastou o país, à qual deram-lhe o título de “morte negra”. Foi nessa ocasião que Nossa Senhora teve a condescendência de aparecer, juntamente com seu Divino Filho e São Domingos, ao frei Alano de la Roche, então superior dos dominicanos na mesma província onde nasceu a devoção ao Santo Rosário. Nessa aparição a Virgem Maria pedia que frei Alano fizesse reviver a devoção ao seu Saltério. Sem demora o padre Alano, junto com os outros freis dominicanos, começou a trabalhar na difusão dessa poderosa devoção, que tanto agrada à Santíssima Virgem. Foi com ele que o Rosário tomou a forma que tem até hoje, dividido em dezenas e contemplando os mistérios da vida de Jesus e Maria. A partir de então essa devoção se estendeu por toda a Igreja Quando se instituiu a festa do Santo Rosário? Mar de Lepanto! Uma imensa batalha entre católicos e turcos se desenrola. O entrechoque das embarcações recorda a conflagração final, quando a abóboda celeste enrolar-se-a qual pergaminho. Era o dia 7 de outubro de 1571. Se os católicos perdessem a batalha a Cristandade seria submergida pelos turbantes de Maomé. A religião católica teria desaparecido para sempre. A léguas de distância, em Roma, São Pio V implorava o auxílio divino, por intercessão da Mãe da Igreja. Inspirado, o santo Papa pede ao povo romano que reze o Rosário pela vitória de seus irmãos. Em determinado momento, enquanto despachava assuntos urgentes, mas com sua atenção toda colocada no perigo que corria a Cristandade, aquele venerável ancião interrompe os trabalhos bruscamente e se dirige à janela. Os circunstantes ficam perplexos, não compreendem a atitude. Reina o silêncio por breve espaço de tempo, rompido pela afirmação ainda mais misteriosa do Pontífice: vencemos em Lepanto! Manda reunir os fiéis e preparar a comemoração pela milagrosa vitória de Dom João D’Áustria, comandante da frota. Uma solene procissão tem lugar nas ruas da Cidade Eterna. Dias mais tarde, chegam os emissários da esquadra trazendo a notícia já antes anunciada pelos Anjos. Pouco depois estava instituída a festa de Nossa Senhora das Vitórias no dia 7 de outubro. Um ano mais tarde, Gregório XIII mudou o nome para festa de Nossa Senhora do Rosário, e determinou que fosse celebrada no primeiro domingo de outubro (dia em que se venceu a batalha em Lepanto). Atualmente a festa é celebrada no dia 7 de outubro.

O Ângelus, devoção para honrar a Encarnação do Salvador .

O Ângelus reza-se às 06:00, 12:00 e/ou 18:00 horas. Com ele os católicos glorificam, através de orações especiais, a Anunciação, feita pelo anjo Gabriel a Nossa Senhora, da Encarnação de Jesus Cristo. Cumpriu-se então, o anúncio dos profetas de que uma Virgem conceberia e daria à luz o Salvador tão esperado. É uma das grandes datas da História e do calendário litúrgico, pois marca o início da Redenção. A festa da Encarnação é celebrada o dia 25 de Março, nove meses antes do Natal. Em algumas localidades, os sinos das igrejas tocam de maneira especial. O nome da oração Ângelus deriva da primeira invocação em latim: Angelus Domini nuntiavit Mariæ (O anjo do Senhor anunciou a Maria). As oração consiste em três invocações, com uma resposta cada uma. As três descrevem o mistério da Encarnação. Elas são acompanhadas por uma jaculatória, uma breve oração e três Glórias. Como rezar o Ângelus: 1) O Anjo do Senhor anunciou a Maria Respondem todos: E Ela concebeu pelo poder do Espírito Santo. Ave Maria... 2) Eis aqui a serva do Senhor. Respondem todos: Faça-se em Mim segundo a vossa palavra. Ave Maria... 3) E o Verbo Divino se fez homem, Respondem todos: e habitou entre nós. Ave Maria... 4) Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, Respondem todos: para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Derramai ó Deus, a Vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do Vosso filho, cheguemos por Sua Paixão e Cruz à glória da ressurreição. Por Cristo, Senhor nosso. Amém. Glória ao Pai... (repete-se 3 vezes) A oração Ângelus é atribuída ao Bem-aventurado Urbano II, o Papa que convocou a primeira Cruzada. O costume de rezá-la em três momentos do dia é atribuída ao rei Luis XI da França. Ele, em 1472, ordenou que fosse recitada três vezes por dia. Trata-se de uma das grandes devoções medievais, de grande doçura e unção, que se espalharam pela Igreja toda para maior glória de Nossa Senhora, até o dia de hoje. Ela reafirma também a unicidade da Igreja Católica: a única verdadeira fundada por Deus encarnado em Maria. O grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, conta que o Ângelus era uma devoção habitual da Cavalaria. O original em latim é assim: V/. Ángelus Dómini nuntiávit Mariæ, R/. Et concépit de Spiritu Sancto. Ave Maria, gratia plena, Dóminus técum. Benedicta tu in muliéribus, et benedictus fructus ventris tui, Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatóribus, nunc et in hora mortis nóstræ. Amen. V/. Écce Ancílla Dómini. R/. Fiat míhi secúndum Verbum túum. Ave Maria, gratia plena... V/. Et Verbum caro factum est. R/. Et habitávit in nobis. Ave Maria, gratia plena... V/. Ora pro nobis, Sancta Déi Gènetrix. R/. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi. Orémus: Gratiam tuam quæsumus, Dómine, méntibus nostris infúnde; ut qui, angelo nuntiánte, Christi Fílii tui Incarnatiónem cognóvimus, per passiónem éius et crucem, ad resurrectiónis gloriam perducámur. Per eúndem Christum Dóminum nostrum. Amen. Gloria Patri... três vezes.