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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ser Coordenador de Pastoral





A palavra "PASTORAL" deriva de PASTOR. Seu significado está estreitamente ligado à alegoria do "Bom Pastor", Jesus intitulou-se pastor das ovelhas. A pastoral, portanto está diretamente ligada a ação do pastor no cuidado das ovelhas. No Quarto Evangelho ouvimos Jesus dizer: "Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância. Eu sou o Bom Pastor" (Jo 10,10).
Essa ação pastoral é assumida pela comunidade como um todo, onde todos são pastores uns dos outros.



Trabalho pastoral, portanto, é toda a tarefa vocacional específica de serviço desenvolvida pela comunidade local, a fim de contribuir no processo de evangelização, transformando os reinos deste mundo, no reino de nosso Senhor Jesus Cristo.



Nenhuma tarefa pastoral específica pode ser confundida com a totalidade da ação da Igreja, pois esta será sempre composta de um conjunto de pastorais sempre interligadas umas as outras. Assim teremos ações voltadas para dentro e para fora da comunidade já existente.



Sendo a Igreja como prolongamento de Cristo, no tempo e no espaço, pode-se dizer:



PASTORAL é toda atividade da Igreja como Igreja. É a própria vida da Igreja quando age e se manifesta em cada situação do mundo atual, edificando-se a si mesma.



Fazer pastoral é continuar a missão de Jesus. É serviço, é ação, trabalho desenvolvido a favor da vida.



É ação organizada da Igreja para atender uma determinada situação, uma realidade específica.



A pastoral é o agir da Igreja no mundo! Similar a ação dos pastores, tem como intenção coordenar, "animar", de "defender" e "alimentar" a evangelização.



O pastor nunca age sozinho, mas em unidade com a Igreja de Cristo; "na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
A pastoral é essencialmente comunitária. É toda a Igreja, hierarquia e leigos, que é responsável pela pastoral. Cada um, porém, conforme seus dons e carismas, isto é, na medida em que participa de Cristo-Pastor.



O objeto da PASTORAL é todo homem e mulher no seu todo (a), isto é, corpo, alma e espírito, que deve ser salvo. Quanto à mensagem a comunicar, refere-se ao Cristo vivo, real, concreto (não apenas uma noção abstrata), o Cristo que é, ao mesmo tempo, doutrina e vida da Igreja, o qual forma uma só unidade com a sua Igreja, o Cristo total, seu Corpo Místico. Portanto, não pode haver "dicotomia" entre doutrina e vida de Igreja.



Objetivos da pastoral
Evangelizar, proclamando o Evangelho de Jesus Cristo, por meio do serviço, do diálogo, do anúncio e do testemunho de comunhão, à luz da evangélica opção pelos pobres, promovendo a dignidade da pessoa, renovando a comunidade, formando o povo de Deus e participando da construção de uma sociedade justa e solidária.

Funções pastorais
A Igreja realiza a sua ação através de três funções pastorais:



Função profética: abrange as diversas formas do ministério da Palavra de Deus (evangelização, catequese e homilia), bem como a formação espiritual dos;



Função litúrgica: refere-se à celebração dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia, à oração e aos sacramentais;



Função real: diz respeito à promoção e orientação das comunidades, à organização da caridade e à animação cristã das realidades terrestres. Neste último aspecto, a ação da Igreja engloba campos da sociedade como a saúde, a juventude, a solidariedade social e a educação.



Os agentes de pastoral são servidores de Cristo e trabalham para que o projeto de Deus seja conhecido e vivido.



A COORDENAÇÂO
A coordenação de pastoral é um serviço importantíssimo nas comunidades. A boa coordenação, aberta a Deus e às pessoas, faz a comunidade prosperar e o Reino de Deus acontecer. É um serviço que deve proporcionar prazer e felicidade.
A coordenação deve ser mais alegria que sofrimento, porque a palavra “Evangelho”, em si, é “Boa Notícia”, e um coordenador estressado, desanimado ou acomodado, não consegue anunciá-lo bem à comunidade.



O COORDENADOR JESUS
Na bíblia, podemos analisar Jesus coordenador:



1) João 13, 1-9 (O lava-pés): Jesus amou seus coordenados ensinando que a coordenação é um serviço à comunidade; o serviço deve ser a marca da comunidade e não a dominação e a servidão. Ensinou que todo trabalho é importante.



2) Marcos 4, 35-41 (A tempestade acalmada): Jesus vê que na outra margem há gente que precisa dele. No barco, acalma os discípulos para depois ensinar que se ele está presente ninguém perece. Às vezes, parece que Jesus dorme nos dias de hoje... O coordenador acalma, transmite esperança e coragem; mantém o equilíbrio, sem apavorar-se diante das dificuldades.



O QUE FAZ UM COORDENADOR?
1) Ele inclui as pessoas. O coordenador cristão soma os dons que o grupo possui.
2) Ele anima e conduz o grupo, nas turbulências (acalmando) e na calmaria (provocando movimento).
3) Ele leva o grupo a atingir seu objetivo.
4) Ele se apresenta para ajudar a resolver os problemas, nunca para provocá-los.
5) Ele delega responsabilidades, tarefas e poderes de decisão.

DE QUE PRECISA PARA COORDENAR BEM?
1) Transitar pelo grupo todo – manter diálogo com todos.



2) Ter uma caminhada comum com o grupo – um bom tempo de participação, para saber o valor das conquistas e o sofrimento dos erros cometidos.



3) Conhecer bem o assunto que coordena e ter noções básicas de outros assuntos ligados ao que coordena.



4) Saber decidir: pessoas indecisas transmitem insegurança. Após examinar bem a realidade, ouvir os envolvidos e buscar o auxílio necessário; cabe ao coordenador a decisão sobre a maioria dos assuntos. Os mais importantes, é claro, são decididos pelo grupo.



5) Ser equilibrado: não estar excessivamente animado ou desanimado; hoje querendo tudo e amanhã nada, controlando seus impulsos para manter-se na linha do objetivo traçado pelo grupo. A abertura para o diálogo com o mundo começa pelo diálogo interior



6) Conhecer seus pontos fortes e fracos: ninguém é perfeito, mas o coordenador será chamado a falar em público, escrever, dialogar, negociar e organizar. Assim, ele deve desenvolver suas aptidões e buscar auxílio para suprir suas limitações.



7) Observar, ouvir e falar com seu grupo: cada pessoa é importante, cada fato deve ser trabalhado e estudado, como também a realidade (particular e coletiva) nunca deve ser esquecida.



8) Fazer partilha com outras pastorais: fomos acostumados a resolvermos apenas os problemas do nosso grupo imediato. O coordenador precisa articular-se com outros coordenadores para resolver problemas comuns, sendo verdadeiramente “Igreja de Cristo”. Colocando em pratica a Pastoral de Conjunto.



9) Fidelidade: afinal, o Reino que buscamos não é meu e nem seu, é de Deus.



COORDENAR EM EQUIPE
A melhor maneira de coordenar se realiza em comunidade, em equipe. Um coordenador que fica no cargo por anos seguidos tende a se desgastar por tanto trabalhar ou a acomodar-se.



O primeiro foge quando pode e o segundo tende a se perpetuar no poder. A solução é montar uma equipe partindo das necessidades do grupo, criando assessorias (e preparando novos líderes): secretário, assessor de comunicação, de liturgia, de formação, de eventos, etc...



É preciso dividir tarefas, responsabilidades e autonomia, formando uma “família” que promova reuniões regulares e divida alegrias e desafios.



Se o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda, pequenino, que se torna a maior das árvores, a coordenação deve ser simples, mas com solidez e competência, criando raízes em Jesus Cristo.



SOMBRAS PASTORAIS (texto extraido do Site da Diocese de Santo André)
1. Messianismo. É a mania de fazer planos pastorais, sem consultar a vontade de Deus. Daí vem o estrelismo das pessoas que se projetam a si mesmas. Deus fica em segundo lugar, serve de estepe para que nossos planos não falhem segundo nossa vontade, nossas ideologias e nossas óticas.



2. Ativismo. Pouca oração e muita agitação. Vale o que eu faço e não o que eu sou. A pastoral vira profissão, burocracia. O ativismo leva à impaciência apostólica. É fruto do vazio interior e da vaidade pessoal.



3. Perfeccionismo. Busca-se o êxito, o sucesso, o resultado. A confiança não está na graça de Deus mas nos planos e ações bem escritas nos livros pastorais e nas pessoas envolvidas. Tudo deve dar certo.



4. Mutismo. Consiste em calar verdades, omitir correções e falar só o que agrada. As grandes verdades silenciadas são: a castidade, o purgatório, o inferno, a infidelidade conjugal, a renuncia. O que importa é agradar. Por isso, há falta de profetismo.



5. Pessimismo: Prega-se problemas, incertezas, azedumes e queixas. A Palavra de Deus não é proclamada. No seu lugar estão as dúvidas, suspeitas e vazios do pregador, do catequista, do pastoralista. Joga-se sobre o povo, problemas pessoais não resolvidos.



6. Falta de esperança. É o pecado do reducionismo que consiste em reduzir a esperança, não crer na ressurreição, na eternidade, na vida futura. Tudo fica reduzido a este mundo, à matéria, à ciência experimental. Sem esperança não há consistência.



7. Burocracia. As pessoas são deixadas de lado e esquecidas. Cumprem-se as leis, marca-se o ponto, tudo vira pura burocracia eclesiástica e administração. O burocrata cumpre o dever, mas abandona as pessoas, os pobres, os sofredores. O que importa é o funcionamento da máquina eclesial.



8. Discriminação. Uns são privilegiados e outros descartados. Uns bem recebidos, outros rejeitados. Faz-se acepção de pessoas. Os ricos, os amigos, os privilegiados têm vez, os outros são discriminados.



9. Sectarismo. É a falta de abertura, de pluralismo e de ecumenismo. Sectário é que secciona, busca o que lhe interessa e agrada. É o grupismo. Só meu grupo, minha espiritualidade, meu movimento, minha pastoral, meu interesse é que vale. O sectário ignora o outro, o diferente e o despreza, critica e combate. Falta o espírito de comunhão e de unidade. É a pastoral de gavetas e sem articulação que acaba no paroquialismo.



10. Carreirismo. É quem busca promoção. Fecha-se na sua experiência e desfaz a experiência dos outros. Eu é que estou certo os outros estão errados. O carreirista acha-se insubstituível e infalível. Não solta os cargos. Perpetua-se no poder. É grudado na sua função. Mata a pastoral pelo apego ao poder. Não quer mudança nem transferência. Não dá lugar para os outros.



11. Individualismo. É quem espera gratificações, recompensas, aplausos e louvores. Precisa toda hora de elogios, pois do contrário cai em aflição ou na crítica azeda. O que vale é a sua imagem, sua fama, a projeção de si.



12. Perda da alegria. Faz tudo por obrigação, cai na rotina, vive na superficialidade. Não tem entusiasmo perdeu a alegria e o humor. Vem a amargura e a dramatização da vida.



13. A mesmice. É quem perdeu a criatividade, caiu na instalação, na mediocridade. Faz tudo sem amor, instala-se nos próprios defeitos e os justifica. Tem explicação para todos os seus erros e desleixos. Não muda e não se dispõe a mudar.



14. Vitimismo. É quem se acha injustiçado, rejeitado e por isso vive na apatia, arranja doenças, apega-se a defeitos psicológicos para justificar o vitimismo. Vive mais cuidando de si do que da pastoral do rebanho.



15. A inveja pastoral. Consiste em menosprezar o trabalho dos outros, aumentar seus defeitos, competir e tratar os outros com cinismo. O invejoso procura bloquear o sucesso alheio. Acontece aqui a “contradição dos bons”, ou seja, não recebemos apoio e incentivo dos nossos colegas, amigos, irmãos de caminhada, pelo contrário, somos invejados, incompreendidos e criticados.
Para uma sadia evangelização precisamos da “conversão pastoral” pela qual venceremos as sombras pastorais, como aponta o Documento de Aparecida.





Dom Orlando Brandes (Arcebispo de Londrina)







Coordenador (a): Reze, peça sabedoria, confesse, comungue, leia muito, informe-se, cresça! Entregue-se nas mãos de Deus e seja feliz!





Bibliografia:
Coordenador de pastoral – Um serviço à comunidade, Ed. Vozes
Postado por diácono luciano às 16:40 4 comentários
Missão da Pastoral Social


O que é a Pastoral Social?



Entendemos por Pastoral Social, no singular, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais. Trata-se de uma sensibilidade que deve estar presente em cada diocese, paróquia comunidade; em cada dimensão, setor e pastoral; na catequese, na liturgia e nas iniciativas ecumênicas; enfim, deve estar presente nas comunidades eclesiais de base, nos movimentos... Em outras palavras, deve ser preocupação inerente a toda ação evangelizadora. Pastorais Sociais, no plural, são serviços específicos a categorias de pessoas e/ou situações também específicas da realidade social. Constituem ações voltadas concretamente para os diferentes grupos ou diferentes facetas da exclusão social, tais como, por exemplo, a realidade do campo, da rua, do mundo do trabalho, da mobilidade humana, e assim por diante.



“Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (Bento XVI, Papa. Deus Caritas Est, nº 25).
A pastoral social é expressão desta caridade e da solicitude da Igreja com as situações nas quais a vida está ameaçada.



“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles e aquelas que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos discípulos e discípulas de Cristo” (Gaudium Et Spes)
Sua finalidade



A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas a solicitude da Igreja diante de situações reais de marginalização. Alertar para a tarefa de identificar, entre os filhos e filhas de Deus, os rostos mais sofridos, com vistas a dedicar-lhes uma solicitude pastoral específica.



A Pastoral social procura integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aqui é preciso superar as dicotomias entre “os que só rezam” e “os que só lutam”, “os que louvam e celebram” e “os que fazem política”. Na verdade, a verdadeira fé desdobra-se naturalmente em compromisso diante dos pobres. A ação social é condição indispensável da vivência cristã. O compromisso sócio-políttico não é um apêndice da fé. Ao contrário, faz parte inerente de suas exigências. A fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social.



Seguindo Jesus
Os diferentes serviços das pastorais Sociais colocam-se na dinâmica do seguimento de Jesus, para que nele os marginalizados, os excluídos – pobres, mulheres, crianças e adolescentes, sem terra, sem casa, os considerados “insignificantes” para o sistema, camponeses, indígenas, afro-descendentes, povos tradicionais, migrantes, itinerantes... – tenham vida e a tenham num ambiente preservado.


No Brasil
A identidade da Pastoral Social da Igreja no Brasil é resultado de uma caminhada de longos anos, durante os quais foi criado um “rosto” próprio, fruto das muitas ações que aqui e ali se articulavam para firmar o compromisso social das comunidades cristãs. Para moldar este rosto, a Igreja do Brasil teve que conhecer o seu próprio Deserto.



O Deserto
“O Deserto” é o lugar para onde Jesus dirigia-se para estar com o Pai. É a etapa do silencio, do contato íntimo com Deus, do discernimento, do enfrentamento das tentações. A missão que levamos adiante não nos pertence, ela é de Deus. O deserto é o lugar da escuta amorosa e obediente, do diálogo com Deus.



Não é qualquer “deus” que nos envia. É o Deus de Jesus Cristo quem nos interpela e nos convoca para a missão. É o Deus da Vida o Emanuel.



Dom Hélder Câmara dizia que “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear pelos problemas do pequeno mundo a que pertencemos; a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então, missão é partir até os confins do mundo”



Incompreensões e conflitos
Cristãos e cristãs envolvidos com as Pastorais Sociais enfrentam, cotidianamente, a situação de miséria, opressão e violência nos âmbitos econômico, político, social, cultural e de gênero, ou seja, enfrentam uma realidade marcada pela injustiça institucionalizada.
Este enfrentamento supõe situações de conflito e embates políticos, pois em seu compromisso com o estabelecimento de uma sociedade justa e solidária, esses agentes de pastoral, associados a outros movimentos sociais, mexem em interesses de grupos privilegiados ou que não desejam que haja mudanças.



A luta das Pastorais Sociais é árdua. Muitas vezes o preço é a perseguição e a morte. Não raro surgem incompreensões por parte dos próprios irmãos das comunidades. Muitas vezes, ouvem-se acusações de que as Pastorais Sociais confundem-se com política, partidos ou movimentos sociais.




As pessoas envolvidas com a dimensão social da fé são, por vezes, acusadas de não cultivar a espiritualidade ou simplesmente de fecharem-se à dimensão transcendente e interessarem-se exclusivamente pela ação histórica.



Isto sem falar dos fracassos, das frustrações e da sensação de impotência frente aos poderes do mal e do sistema de morte. Outras vezes, é o cansaço e o desânimo que nos abate, devido sobretudo à sobrecarga de atividades. Na verdade, são poucos os que se aventuram por esse caminho, embora o trabalho seja imenso.



O campo de ação das Pastorais Sociais é, pois, conflitivo, porque elas movem-se em situações de fronteira e de deserto. Agindo nestes campos, os cristãos são chamados a manifestar a presença, posicionando-se segundo os critérios da ação de Jesus. E isto não é fácil, pois a realidade, em si mesma, muitas vezes, não é clara ou é difícil de ser percebida em sua totalidade. A conflitividade exige permanentemente a capacidade de discernir os espíritos, pois sempre estamos sujeitos às tentações e aos atropelos.



O encontro com o pobre
No encontro com o mundo dos pobres, os agentes das Pastorais Sociais recebem a força e a coragem para seu engajamento, pois no rosto dos excluídos e marginalizados encontra-se a razão da ação solidária. Os Bispos, em Aparecida, recordaram que “o encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino”. (DA, nº257).



Estar com os pobres é condição para reconhecer seus valores, suas lutas, seu modo próprio de expressar a fé e sua maneira de celebrá-la. Na religiosidade popular encontram-se também exemplos de resistência, criatividade, coragem, esperança.
A convivência e a amizade com as pessoas que vivem em situação de pobreza, marginalização e exclusão são capazes de estabelecer relações novas, que fazem dos excluídos sujeitos de sua libertação. O agente está junto, incentiva, colabora. Ao mesmo tempo, aprende, humaniza-se e experimenta a presença amorosa de Deus, que acompanha e sustenta o povo.



A Palavra de Deus dá os critérios e sustenta a ação dos cristãos, por isso, eles são convidados a ter grande intimidade com ela. A Palavra de Deus não é somente lida no livro. Ela é consultada no coração. É ali, guardada com afeto, tornada vida, que ela é capaz de orientar e ajudar na decisão. (DA, 249).



Se não mais existissem pessoas em situação de miséria, fome, abandono absoluto, não haveria mais necessidade de praticas de socorro. Porém existem tais pessoas e elas devem não apenas ser socorridas, mas o socorro deve ser realizado como reconhecimento de um direito social básico: o direito à vida.



Em todas as práticas das Pastorais Sociais, um elemento essencial é a implementação de ações que ajudem as pessoas a superarem limites que são fruto da marginalização e da exclusão que atingiram sua existência. Trata-se, por exemplo, de enfrentar o analfabetismo, a falta de capacitação profissional ou de organização de uma iniciativa. São práticas ligadas ao que se tem denominado “promoção humana”.



Identidade da Igreja
As Pastorais Sociais estão no coração da identidade e da missão da Igreja. Procuram continuar a missão de Cristo, expressa claramente no capítulo quatro do Evangelho de Lucas.(Lc 4,18-19. O Esp. Do Senhor está sobre mim...). Elas reagrupam discípulos de Cristo das classes populares que procuram traduzir sua mensagem de paz e justiça nas estruturas da sociedade. A vitalidade das Pastorais Sociais nas dioceses é sinal da fidelidade da Igreja à sua missão de amor aos pobres. Voz profética dos pobres, elas questionam a sociedade e a Igreja.



É bonita a fé profunda e madura de muitos membros das pastorais Sociais. Sentem-se próximos de Jesus de Nazaré: Sendo filho de Deus, se fez gente do povo, trabalhador, compassivo e solidário, que está ao lado dos pobres. Ele anuncia um Reino de justiça e paz, cura os doentes, confirma a fé de seus discípulos, é vítima do sistema político-religioso de seu tempo, enfrenta livremente a paixão e morte na cruz para libertar seu povo da escravidão. O povo das Pastorais Sociais ama a figura e a pessoa de Jesus que viveu pobre, lutou contra o poder opressor, foi condenado e entregue à morte violenta. O povo reconhece a semelhança entre a vida de Jesus e sua própria vida.



O agente de Pastoral Social
O agente de pastoral é o que dá vida ás Pastorais Sociais. É aquele que acolhe a pessoa em suas necessidades; sabe escutar a voz de Deus que se faz ouvir nas pessoas e nos acontecimentos da vida; sabe amar as outras pessoas sem preconceitos, acolhendo-as do modo como elas se apresentam; coloca-se a serviço da vida, assumindo efetivamente seu compromisso cristão, defendendo, promovendo, cultivando e celebrando os valores presentes na vida dos empobrecidos.



A crise
Frente ao dinamismo profético das décadas de 70 e 80, a Igreja de hoje passa por um sentimento generalizado. Este sentimento não é visível apenas nas CEB’s e nas Pastorais Sociais, mas também no Movimento Sindical e nos Movimentos Sociais.



Uma das causas está na impressionante penetração do atual modelo econômico neoliberal e a mentalidade pós-moderna em todas as esferas da vida humana que, acabou gerando:



A morte das utopias: parece não haver alternativa ao modelo existente. A descrença na tradição familiar, religiosa e política (e a idolatria do relativismo). Um consumismo desenfreado que o Planeta não suporta. A “privatização” da crença e das praticas religiosas, a idolatria do “eu” desprepara a pessoa para lutar por uma causa comum.



Como sair da crise
As Pastorais sociais estão por demais fragmentadas, desintegradas, desarticuladas e despolitizadas. Para enfrentar isso segue algumas sugestões:



· Diminuir o grande número das Pastorais Sociais.
A Igreja não precisa assumir tudo, e é preciso cobrar do poder público que cumpra seu papel. Não esquecer que a organização de cada Pastoral exige: destacar e formar novas lideranças, reservar tempo para reuniões e encontros, planejar e executar ações especificas, etc. na atual estrutura paroquial esta pratica fragmentada é insustentável.



· Criar em cada comunidade uma única coordenação das Pastorais Sociais.
Isto facilita a integração entre as diversas pastorais sociais existentes; cabe a ela fazer ligação também com as outras pastorais (integrar): liturgia, catequese, juventude, etc.



· Articular melhor os diversos níveis das Pastorais Sociais.
A coordenação da Comunidade se representa na Paróquia, da Paróquia na regional, da regional na Diocese, da Diocese nos níveis superiores. Esta articulação é viável apenas quando as ações concretas são decididas em comum, sem imposição.



· Cabe às Pastorais Sociais aprofundar o caráter político de sua intervenção.
O que a Igreja constrói em anos, a Política pode destruir em minutos. Exercer o controle sobre a política cabe a cada cidadão, mas a Igreja, em nome do Evangelho do Reino, tem aí seu objetivo máximo. Cabe às Pastorais Sociais priorizar a constituição de um grupo que dinamize a participação da Igreja neste importante campo da vida humana.



Compaixão
Nesse contexto social, o que significa a compaixão? Palavra composta de outras duas: com - paixão. Estar com na paixão do outro, na cruz do seu sofrimento. Sentir a dor do outro e, juntos, buscar soluções alternativas. Estar com, não significa dar coisas, mas dar-se. Dar o próprio tempo, colocar-se à disposição. Em síntese, significa caminhar junto com aquele que sofre. Assumir sua dor e tentar encontrar saídas para superar os momentos difíceis.
Diz um provérbio chinês que perguntaram a determinada mulher a qual dos filhos ela mais amava. Ela, como mãe, respondeu: ao mais triste até que sorria, ao mais doente até que sare, ao mais distante até que volte, ao mais pequeno até que cresça.



Aqui está o espírito de toda a ação social. Hoje, como no tempo de Jesus, as multidões dos pobres encontram-se “cansadas e abatidas”. Cansadas de tantas promessas não cumpridas, de tanta corrupção e de tanto lutar em vão; abatidas pelo peso da exclusão e da miséria, da fome e da doença, do abandono e do descaso. Hoje, como ontem, a injustiça e a desigualdade social gera milhares de empobrecidos que se tornam excluídos, quando não exterminados. Geram, ainda, desemprego, violência, dependência química, prostituição, racismo e destruição do meio ambiente. Esta situação atinge todo planeta, porém, de forma mais brutal os países subdesenvolvidos.



O Reino de Deus, como sabemos, ultrapassa as fronteiras da Igreja e exige fé e pé na caminhada. Que possamos também nós, nos fazer caminhantes.

A Alma





Alma é um termo que deriva do latim anima, este refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De anima, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animador, ...
Religiosamente definida como um ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo, que se julga continuar viva após a morte do corpo, podendo o seu destino ser a beatitude celestial ou o tormento eterno.
Segundo este ponto de vista, a morte é considerada como a passagem da alma para a vida eterna, no domínio espiritual.
A grande maioria das religiões, cristãs e não-cristãs, concorda em linhas gerais com esta definição. O conceito de uma alma imortal é muito antigo. De facto, as suas raízes remontam ao princípio da história humana.
Conceitos Diferentes

As conotações que o termo "alma" geralmente transmite à mente da maioria das pessoas provêm primariamente, não do uso dos escritores bíblicos, mas da antiga filosofia grega. Os antigos escritores gregos aplicavam psy.khé de vários modos, e não eram coerentes, suas filosofias pessoais e religiosas influenciando seu uso do termo. Segundo os léxicos grego-inglês, fornecem definições tais como "o Eu consciente" ou "ser vivente (humano ou animal)". Até mesmo em obras gregas não-bíblicas, o termo era usado para animais. O termo hebraico para alma é né.fesh. Num sentido literal, exprime a idéia de um "ser que respira" e cuja vida é sustentada pelo sangue.
Os termos das línguas originais (hebraico: né•fesh; grego: psy•khé), segundo usados nas Escrituras, mostram que a “alma” é a pessoa, o animal ou a vida que a pessoa ou o animal usufrui.
As conotações que a palavra portuguesa “alma” geralmente transmite à mente da maioria das pessoas não estão de acordo com o significado das palavras hebraica e grega usadas pelos inspirados escritores bíblicos.
A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” — The New York Times, 12 de outubro de 1962.
A dificuldade reside em que os significados popularmente atribuídos à palavra portuguesa “alma” provêm primariamente, não das Escrituras Hebraicas ou das Gregas Cristãs, mas da antiga filosofia grega, na realidade, do pensamento religioso pagão. Platão, o filósofo grego, por exemplo, cita Sócrates como dizendo: “A alma . . . se ela partir pura, não arrastando consigo nada do corpo, . . . parte para o que é como ela mesma, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando chega ali, ela é feliz, liberta do erro, e da tolice, e do medo . . . e de todos os outros males humanos, e . . . vive em verdade por todo o porvir com os deuses.” — Phaedo (Fédon), 80, D, E; 81, A.
Em contraste direto com o ensino grego sobre a psy•khé (alma) como imaterial, intangível, invisível e imortal, as Escrituras mostram que tanto psy•khé como né•fesh, conforme usadas com referência a criaturas terrestres, referem-se àquilo que é material, tangível, visível e mortal.
A New Catholic Encyclopedia (Nova Enciclopédia Católica) diz: “Nepes [né•fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êx 21.23; Dt 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gn 35.18; Jó 41.13[21] ), sangue [Gn 9.4; Dt 12.23; Sl 140(141).8 ], desejo (2 Sm 3.21; Pr 23.2). A alma no A[ntigo] T[estamento] significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no N[ovo] T[estamento] significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mt 2.20; 6.25; Lu 12.22-23; 14.26; Jo 10.11, 15, 17; 13.37).” — 1967, Vol. XIII, p. 467.
A tradução católica romana, The New American Bible (A Nova Bíblia Americana), em seu “Glossário de Termos de Teologia Bíblica” (pp. 27, 28), diz: “No Novo Testamento, ‘salvar a alma’ (Mr 8:35) não significa salvar alguma parte ‘espiritual’ do homem, em contraste com o seu ‘corpo’ (no sentido platônico), mas a inteira pessoa, com ênfase no fato de que a pessoa está viva, desejando, amando e querendo, etc., em adição a ser concreta e física.” — Edição publicada por P. J. Kenedy & Sons, Nova Iorque, 1970.
Né•fesh evidentemente provém duma raiz que significa “respirar”, e, num sentido literal, né•fesh poderia ser traduzido como “alguém que respira”. O Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Léxico dos Livros do Velho Testamento; Leiden, 1958, p. 627), de Koehler e Baumgartner, a define como segue: “a substância respiradora, que torna o homem e o animal seres viventes Gn 1,20 , a alma (estritamente distinta da noção grega da alma), cuja sede é o sangue Gn 9,4ss Lv 17,11 Dt 12,23 : (249 X) . . . alma = ser vivente, indivíduo, pessoa.”
Quanto à palavra grega psy•khé, os léxicos grego-inglês fornecem definições tais como “vida” e “o eu consciente ou personalidade como centro de emoções, desejos e afeições”, “um ser vivente”, e mostram que até mesmo em obras gregas não-bíblicas o termo era usado “para animais”. Naturalmente, essas fontes, que lidam primariamente com os escritos gregos clássicos, incluem todos os significados que os filósofos gregos, pagãos, davam à palavra, inclusive o de “espírito que partiu”, “a alma imaterial e imortal”, “o espírito do universo” e “o princípio imaterial do movimento e da vida”. Evidentemente, porque alguns dos filósofos pagãos ensinavam que a alma emergia do corpo na morte, o termo psy•khé também era aplicado à “borboleta ou mariposa”, criaturas estas que passam por uma metamorfose, transformando-se de lagarta em criatura alada. — Greek-English Lexicon (Léxico Grego-Inglês) de Liddell e Scott, revisado por H. Jones, 1968, pp. 2026, 2027; New Greek and English Lexicon (Novo Léxico Grego e Inglês) de Donnegan, 1836, p. 1404.
Os antigos escritores gregos aplicavam psy•khé de vários modos, e não eram coerentes, suas filosofias pessoais e religiosas influenciando seu uso do termo. Sobre Platão, a cuja filosofia podem ser atribuídas as idéias comuns sobre a palavra portuguesa “alma” (como geralmente se reconhece), declara-se: “Ao passo que às vezes ele fala de uma das [supostas] três partes da alma, a ‘inteligível’, como necessariamente imortal, ao passo que as outras duas partes são mortais, ele também fala como se houvesse duas almas em um só corpo, uma imortal e divina, e a outra mortal.” — The Evangelical Quarterly (Publicação Trimestral Evangélica), Londres, 1931, Vol. III, p. 121: “Idéias Sobre a Teoria Tripartida da Natureza Humana”, de A. McCaig.
Em vista de tal incoerência dos escritos não-bíblicos, é essencial deixar que as Escrituras falem por si, mostrando o que os escritores inspirados queriam dizer ao usarem o termo psy•khé, bem como né•fesh. Né•fesh ocorre 754 vezes no texto massorético das Escrituras Hebraicas, ao passo que psy•khé aparece sozinha 102 vezes no texto de Westcott e Hort das Escrituras Gregas Cristãs, perfazendo um total de 856 ocorrências. Esta freqüência de ocorrências torna possível um conceito claro do sentido que tais termos transmitiam à mente dos inspirados escritores bíblicos e o sentido que seus escritos devem transmitir à nossa mente. Um exame mostra que, embora o sentido destes termos seja amplo, com diferentes matizes de significado, entre os escritores bíblicos não havia nenhuma incoerência, confusão ou desarmonia quanto à natureza do homem, tal como a existente entre os filósofos gregos do chamado Período Clássico.
Segundo o conceito católico, a alma é criada por Deus e implantada no corpo por ocasião da concepção. Esta doutrina, é um dos fundamentos da filosofia e teologia cristãs. Mas, a aceitação de filosofias gregas significava que abandonava o conceito expresso em Génesis 2:7 de que "o homem veio a ser [e não ter] uma alma vivente." Segundo a Enciclopédia Judaica, "a crença na imortalidade da alma chegou aos judeus através do contacto com o pensamento grego e principalmente através da filosofia de Platão (427-347 a.C.), seu principal expoente". Apartir de meados do 2.° Século d.C., os primitivos filósofos cristãos adotaram o conceito grego da imortalidade da alma.
Na doutrina espiritualista, o ser humano é um espírito preso
Ciência moderna
De uma forma geral, a ciência moderna estuda o homem sem fazer referências a uma alma imaterial, uma vez que, se existe, não pode ser observada nem medida. Apesar disso, alguns cientistas têm tentado encontrar evidências da existência e da natureza da alma humana. Muitas das pesquisas científicas nesse assunto vão em direção das experiências de quase-morte, porém até o momento não existem provas conclusivas de que realmente os pacientes saíram do próprio corpo ou se sofreram de alucinações. Há também alguns cientistas como Ian Stevenson e Brian Weiss que conduziram estudos de caso sobre crianças narrando experiências anteriores ao nascimento, e que poderiam sugerir uma possibilidade de reencarnação (portanto, existência da alma), embora não tenham demonstrado o processo pelo qual isto poderia ocorrer.Tampouco descartavam hipóteses lógicas como as narrativas serem fruto da imaginação.

História evolutiva do conceito
Chegou a uma altura na história da humanidade em que o Homem começou verdadeiramente a assumir a existência de uma alma.
A Alma sempre foi motivo de controvérsia entre as diferentes denominações religiosas e crenças, mesmo porque nunca foi totalmente compreendida, explicada ou observada. Antes que o homem concluísse que a possibilidade de uma alma em evolução em conjunto com a mente de um indivíduo e com a paternidade de um espírito divino, julgou-se que ela residia em diferentes órgãos físicos – nos olhos, no fígado, nos rins, no coração e, posteriormente, no cérebro. Os selvagens associavam a alma ao sangue, à respiração, às sombras e aos reflexos do seu eu na água.
Mais tarde os hindus conceberam o atman. Os mestres hindus realmente aproximaram-se duma avaliação da natureza e da presença de um espírito, mas houve uma falha provável quando não distinguiram a co-presença da alma em evolução, potencialmente imortal.
Os chineses, contudo, reconheceram dois aspectos num ser humano, o yang e o yin, a alma e o espírito.
Os egípcios e muitas tribos africanas também acreditavam em dois factores, o ka e o ba; e não acreditavam geralmente que a alma fosse preexistente, apenas o espírito. Os antigos habitantes das terras que circundavam o vale do Nilo acreditavam que todo indivíduo favorecido tinha recebido à nascença, ou pouco depois, um espírito protector a que chamavam ka. Eles ensinavam que esse espírito guardião permanecia com o sujeito mortal ao longo da vida e que passava, antes dele, para o estado futuro. Nas paredes de um templo em Luxor, onde está ilustrado o nascimento de Amenhotep III, o pequeno príncipe está retratado nos braços do deus do Nilo e, próximo a ele, está uma outra criança, idêntica ao príncipe na aparência, que é o símbolo daquela entidade a que os egípcios chamavam ka. Essa escultura foi terminada no décimo quinto século antes de Cristo. Julgava-se que o ka era um génio de espírito superior, que desejava guiar o mortal ligado a ele em caminhos melhores na vida temporal; porém, mais especialmente, ele desejava influenciar a sorte do sujeito humano na próxima vida. Quando um egípcio desse período morria, era esperado que o seu ka estivesse aguardando por ele do outro lado do Grande Rio. A princípio, supunha-se que apenas os reis tivessem kas, mas afinal, acreditou-se que todos os homens rectos possuíam-nos.
Toda esta rica ideologia cresceu, fomentando as raízes que derivaram posteriormente nos conceitos actuais da alma, base de muitas religiões cujos seguidores acreditam possuir almas, ou serem acompanhados por elas e mesmo até serem eles próprios as almas.

Historia das Religiões Orientais




Introdução geral:


1- A religião, por que falar?

2- A religião, o que é sociologia da religião?

3- A religião, como?

1º a) secularização b) secularismo c) fundamentalismo d) cristianismo



a) Legitima autonomia das realidades temporais que estão neste mundo, separa o domínio da fé das realidades temporais.

b) É a visão autonomista do homem e do mundo que faz abstração da dimensão do mistério não o considerando e negando-o.

c) Contrario ao secularismo, faz entrar todas as dimensões da vida na religião, leis religiosas que medem tudo, não separando as leis civis das religiosas.

d) Fé e não religião, “religare” (Latim), estar ligado; religião conjunto de crenças, dogmas e praticas rituais que regem o homem com a potência divina. Segundo o dicionário, a fé é, encontro com Deus, confiança nele.



O cristianismo é fé praticada, se vive interior e exteriormente gerando um discurso social. Fé que se concretiza na vida e sua totalidade.



2º Religião o que?



Não há uma religião e sim religiões.

Na historia, não há ninguém sem religião, e, nos domínios da religião esta a alimentação, sexualidade, ciências, visão do mundo, questões de vida e de morte, tempo passado, presente e futuro, mitos, crenças religiosas e comportamento moral.

As religiões panteístas, tudo é deus, não há relação pessoal com deus.

Pelo cristianismo, estas religiões estão classificadas como correntes filosóficas.

Os sociólogos R. Otto e Emil Durkeim, dizem que religião é o fato de ligar com o domínio do sagrado, o sagrado e o profano, relações imanentes e transcendente.

A religião supõe a universidade da crença e o dualismo da personalidade humana, corpo – alma.

Augusto Comte – 1738 – 1857, sociólogo, após a morte da 2ª esposa funda a religião chamada positiva, que direcionava a divindade para a humanidade. O objetivo da divindade seria sempre a humanidade. Comte se apresentava como o papa desta religião. Ele diz: a filosofia é o verdadeiro estado definitivo da inteligência humana a qual ela sempre tende.

Karl Marxs: Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo, de agora em diante, é importante transformá-lo, ele diz que é preciso destruir a religião para que o homem viva.

O discurso religioso no politeísmo, é que o mais importante é a ordem cósmica. Na pratica, o “Eu” pode se apropriar das forças do mundo.



3º A religião como?

a) Panteístas

b) Dualistas

c) Monoteístas


a) Hinduísmo – Budismo

O hinduísmo, o homem tem um ãtmam, um ser impessoal, permanente que existe metafisicamente, ultrapassa a física, muda em formas físicas que renascem em diversas formas, “transmigração” identificando-se com BRAHMAN = ser impessoal, os ãtmans são faíscas do Brahman, que é absoluto e superior a qualquer coisa.

Budismo = Buda morreu em 480 antes de Cristo, era hinduísta e se tornou budista, diz que no fundo de qualquer coisa há o absoluto. Não podemos dizer se é imanente ou transcendente, é alem de qualquer expressão. Somente o absoluto é realidade.

O budismo da 1ª escola: o absoluto é uma ilusão que flutua acima.

b) Dualismo – Nasce 1º século depois de Cristo e no 2º século se estende na zona Ciro palestina- Grécia e Roma.

A gnose é uma forma de conhecimento religioso que tem por objetivo a realidade verdadeira do homem espiritual, as divindades infernais não se encontram no subterrâneo, elas invadiram o mundo, o mundo é o lugar deles.

O gnóstico é aquele que recusa, condena este mundo; a prática dele é o mundo da plenitude divina. Não há necessidade de celebrar o mistério da potencia, por ser invisível, a redenção é o fato de conhecer a grandeza que não se pode ver.

c) Monoteísmo – Judaísmo – Cristianismo – Islamismo

L. Gentium: Não Cristãos, os que não receberam o Evangelho podem obter a salvação, basta viver uma vida santa.

Sumário
I- Religiões antigas: a religião egípcia

II- Religiões antigas: Zoroastrismo – masdeismo

III- Hinduísmo

IV- Budismo

V- Confucionismo

VI- Sikhismo

VII- Judaísmo

VIII- Islamismo

IX- Cristianismo
I- Religiões antigas: A religião egípcia

1- Nomes a conhecer:

ANKH = símbolo da vida levado pelos reis e rainhas e pelos deuses, por aqueles que tem poder de dar e de remover a vida.

Deuses: Osiris (bom) – Seth (mau) – Isis (esposa de Osiris) – Horus (filho de Osiris e Isis).

Osíris era o deus da fertilidade, podia criar a vida a partir do solo inerte, o culto de Isis é a origem independente de Osiris e localizado no deuta do Nilo, e, se uniu mais tarde com Osiris para construir um mito e um culto do sol morrendo e renascendo todos os dias.

Bastet = deusa gata, filha do deus sol, simbolizava o poder de fazer madurar o trigo, divindade mais popular, pelas estatuas espalhadas pelo Egito, eram venerados os gatos como animais Bastet.


2- Um pouco de historia:

No Egito antigo é o protótipo de como uma religião pode viver por um longo período. O Egito tem 1500 Km de comprimento, o Nilo fertilizava o território do baixo Egito ao norte, o alto Egito ao sul era isolado pelo deserto e pelas cataratas, o deuta se abria ao comercio e pelo poder forte e centralizado o território ficava junto, unido.

Os faraós preenchem este papel de unificar o território. O reino faraônico dura de 3100 antes de Cristo até 323 antes de Cristo, e este faraós são tidos como deuses. O deus solar Rã, de Heliópolis = cidade do sol, este deus é associado aos faraós para serem chamados de filhos de Rã. Os sacerdotes se encarregavam de colocar ordem na acumulação de divindades entre os faraós. O mais audacioso dos faraós é Amenophis IV – 1379 – 1362 – Este declara que um certo Aton – deus disco solar, abrindo os braços, era o único deus, os outros são seus servos, quando Amenophis morre, esta teoria acaba.


3- Vida e morte

Como reis de deus, os faraós não podiam ser destruídos mesmo pela morte. A sua pretensão a imortalidade recebeu apoio quando os egípcios descobriram a técnica do embalsamento aos cadáveres, colocados dentro dos caixões.

A vida eterna deles se abriga dentro das pirâmides. Desde 1567, aqueles que podiam pagar funerais asseguravam a imortalidade. Alguns livros são escritos para guiar estes mortos, são eles: os textos dos sarcófagos e o livro egípcio dos mortos.



II- Religião do Zoroastrismo, localizada no Irã – oriente médio

1- Nomes a conhecer:

Zaratustra/Zoroastre = fundador sacerdote profeta, + ou – 1200 a.C., acreditava num certo deus: AHURA MAZDA = criador da vida e do bem, este, pessoalmente deu a Zaratustra a missão por uma série de visões. Este deus é ajudado por anjos bom e espíritos chamados AHURA.

Angra Mainyu = deus destruidor, ajudado por demônios chamados de EVA.

Cinvat = ponte de julgamento, para o qual a alma é conduzida para ser julgada.

Daxima = torre do silencio, feita especialmente para os cadáveres.

Parsis = os que seguem esta religião e que imigraram para a Índia no17 de nossa era.



2- Ensino

A sorte de cada um depois da morte depende da escolha da sua vida, da sua responsabilidade pessoal. Atos bons, paraíso; atos maus, inferno chamado casa de mentira.

O ensino desta religião é otimista, pois não é difícil escolher o bem. O fundador seria aquele que foi o único bebe do mundo que no nascimento sorriu ao invés de chorar. Rejeitam sacrifícios de sangue, o que conta é a pureza da alma que agrada a deus.

Os cadáveres são considerados como lugares onde ANGRA MAINYU esta presente com poder, por isso, não podemos enterrá-los nem jogar no mar, e, nem queimá-los. O único jeito, é, entregá-los aos abutres, colocando-os na torre Daxima, feita para eles.

Os seguidores são tolerantes a outras religiões, porque o julgamento é feito sobre as obras de cada um e não por sua fé.

O ensino influenciou outras religiões como o judaísmo na Babilônia. Com o reinado de Ciro, alguns ensinamentos e crenças do zoroastrismo influencia o judaísmo, como: a crença no julgamento final, anjos, ressurreição, céu-inferno.


Historia:

Como se espalhou no mundo? Como começou?

Começou 7 séc. a.C., e se espalhou no território do Irã e no reinado de Ciro se torna a religião do Estado, se espalhando pela Grécia – Egito – Irã e Índia do Norte.

No séc. 3 d.C., no Irã, algumas etnias como Sassânidas ajudados por sacerdotes, fizeram guerra contra parte dos povos do Norte, fundando uma dinastia grandiosa e o império se fundi à religião,mas com a conquista islâmica sete séculos depois de Cristo, este império terminou. Neste século, os Zoroastristas são obrigados a deixar as aldeias e irem para a índia, e são lá chamados de Persas, este nome recebem no séc. dez.

De 1796 – 1925, uma dinastia chamada Qajares perseguiu muito o zoroastrismo, mas um grupo de fieis resistiu, e em 1925 um responsável político, REZA SHAH PALLAVI conquistou e matou o ultimo dos Qajares e deu um alto valor ao Zoroastrismo, considerando esta religião como patrimônio do Irã. Na Índia, os Persas tiveram grande papel na igreja regional e até hoje garantem a existência desta religião no mundo.


3- Hinduísmo:

No hinduísmo o símbolo é (OM), ou 3e 0. O 3 representa a tríade dos deuses, criador – protetor – destruidor. A letra 0 é o símbolo do silencio, para ter acesso a deus.


1- Historia:

Nome dado no séc. XIX, ao conjunto das religiões que existe na índia. Com uma população de um bilhão de pessoas, onde oitenta por cento se considera hindu, tendo passado por várias fases de formação.

1ª fase: Védica, 1200 a.C., fase dos primeiros escritos sagrados, chamados VEDA, o sagrado conhecimento. Fase de criação dos hinos e textos sacrificiais que dão os princípios do conhecimento sobre deus e os homens. De 700 a 300 a.C., a especulação religiosa deu inicio a criação dos livros da floresta, ARANYAKA, e a livros filosóficos e de reflexão sobre o sentido do ritual, VPANISHAD, que ensinam os segredos da floresta, e também PURANA, que trata de vários assuntos, como mitos de deuses.



2ª fase: BRAHMANICA – 500 a.C., constituição da classe sacerdotal esperta na relação com os deuses, com a natureza e com a vida humana. Os Brahmanes bebem uma SOMA – remédio da imortalidade durante o ritual.



3ª fase: Hinduísmo, fase do inicio de movimentos ligados a algumas divindades abandonando outras dentro do próprio hinduísmo, e, o desenvolvimento das duas fase precedente.



2- Deuses do hinduísmo:

Fase histórica: Indra = deus da tempestade, era rei de todos os deuses, mas perde sua importância ao passar para a outra fase. Ele se torna enfurecido quando seus adoradores o abandonaram por KRISHNA, outro deus, jovem herói AVATAR, encarnação de VISHINU que tem 10 modos de apresentação – formas.

Deus AGNI, deus do fogo, mediador entre terra e céu, ele intervem dentro do sacrifício, pois levanta as oferendas.

2ª fase: deuses hinduísmo. TRIMURTI: 1- Brahama, 2- VISHNU, 3- SHIVA.

Brahma cria o universo no inicio de cada ciclo cósmico. No momento, como tudo já foi criado, ele esta descansando. É adorado em menor gral que os outros dois, pois já cumpriu sua função e, só na próxima criação ele voltara a estar à frente dos outros. Ele tem oito mãos, e nelas, ele tem quatro livros, VETRA, colar de pérolas, cetro, água e flor de lótus, símbolo da criação, ele é o deus dos sábios. Ele tinha quatro cabeças, mas criou a quinta cabeça quando namorou com SARASVATÊ, para poder ficar de olho nela, mas a quinta cabeça foi destruída por SHIVA, porque foi ofendido por BRAHMA.

VISHINU protege o universo, na fase anterior não tinha importância. Ele vem de um antigo deus solar, e, tem 10 avatares (encarnações), tem poderes de conservação e proteção e restauração manifestados em encarnações terrenas que se reproduzem para fazer as desgraças ou o bem na terra. Citemos dois destes avatares:

KRISHNA, deus que dá proteção, é deus amor entre pastores e filhos de pastores.

BUDA, despertador, iluminador, ele aparece no fim da 3ª fase do mundo, que apresenta o ponto culminante da degradação cósmica.

VISHINU é chamado onipresente, toma todas as formas para assegurar a sustentabilidade do universo.

Ele tem uma companheira, LAKSHMI, deusa da sorte.



3-SHIVA, destruidor do universo, mas também criador e protetor, deus da morte e da vida; seu primeiro nome era RUDRA, divindade menor, citado só três vezes nos livros, se torna importante quando ganha características do deus da fertilidade. Uma vez enraivecido, pode mandar tempestades destruição e morte. Mas também pode proteger e reproduzir.

Shiva é o criador dos sete rios sagrados da Índia, entre eles, o Grage. As companheiras de Shiva são: DURGÂ = poder, KALI = terrível, PARVATI = modesta.

Os seguidores de Shiva são reconhecidos pela marca vermelha na fronte e pelas linhas cinzas na testa. Uma deusa do Hinduismo é MAHADEVI, ela inclui dentro de si todas as outras divindades, deusas do hinduísmo.


Vias / caminhos de libertação, MOKSHA.

O hindu procura objetivos que pode ser realizado na vida; proteção de doenças, inimigos, conseguir boa vida e a libertação do ciclo de renascimentos, libertando-se dos desejos e das ligações terrenas, seguindo o conhecimento a devoção e a ação.

São-nos apresentadas cinco vias: 1ª Oferecer sacrifícios nos templos pelos sacerdotes, oferecer PUJÂ.

2ª via moral, respeitar as classes sociais (castas), sacerdotes, comerciantes, manobristas, guerreiros. Seguir as virtudes, humildade, etc.

3ª Ascetismo, caminho do conhecimento místico, freando os desejos afetivos, (sexuais)

4ª Yoga, união; disciplina o corpo para que este ajude o Espírito no objetivo de atingir um estado de consciência superior; meu “EU” se une com o “EU” Alma universal.

5ª Tantrinismo hinduísta, caminho eterodóxico, diversificado do hinduísmo; não seguimento dos caminhos normais, procuram poderes sobrenaturais; magia. Se privam do vinho, carne, peixe, grão e relação sexual.



4 – festas: misturam o culto com o prazer e servem para desviar as influencias malignas, e, para unir o tecido social e estimular a vida. As festas mais importantes são: HOLI – DUSSERAH – DIUVALI.

Holi é a festa da primavera, acontece no mês de março, também conhecida como festa da fertilidade, renascimento.

Dusserah é a festa da vitória do bem sobre o mal, acontece no mês de setembro.

Diuvali é a festa que marca o inicio do ano financeiro, festa da prosperidade, durante ela as pessoas trocam presentes, é a festa da luz, e dura cinco dias, acontece no mês de outubro, e, sempre o papa manda uma carta para os Hindus desejando uma ótima festa.



BUDISMO: seu símbolo é à roda da lei, chamada de Dharma, colocada em movimento por Buda.

A vida de Buda: + ou – 560 a 480 a.C.

Seu nome originário: Siddaharta Gautama, nasceu em família real da tribo de Shakeja no Nepal. Sua mãe morre sete dias depois do seu nascimento, pois Buda tem que ser filho único.

Introdução: O budismo não é só uma religião, mas também um sistema ético e filosófico. Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a idéia de que o ser humano está condenado a reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta idéia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.

Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores adotam uma dieta vegetariana.

A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada a dor, a origem da dor é a falta de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos os caminhos apresentados, a meditação é considerado o mais importante para atingir o estado de nirvana.

A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir: não maltratar os seres vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa, não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes. Seguindo estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte.



As 4 nobres verdades:

1- Dukha = mal estar e sofrimento

2- Tanhar = desejo

3- Bodhi = eliminação do desejo

4- Nirvana = perfeita iluminação

As 4 são divididos em dois grupos:

1- Sofrimento e causas dele (desejo)

2- Cessação do sofrimento e os caminhos para deixar o sofrimento.



5- O nobre caminho, Octuplo (oito caminhos)

a) Prajna = sabedoria que purifica a mente

1. Engloba, ver a realidade como ela é não apenas como parece ser.

2. Intenção de renuncia.



b) Sila = ética

3. Falar de uma maneira verdadeira e não ofensiva

4. Agir de uma maneira não prejudicial

5. Os meios de viver a vida devem seguir o que foi anteriormente citado acima



c) Samadhi = procura por uma melhora

6. Esforço para melhorar

7. Consciência de ver a realidade presente sem aversão de fora

8. Meditação correta, concentração



• O caminho do meio

Descoberto por Buda antes de sua iluminação

Apresentaremos três definições de várias existentes:

1. Pratica de não extremismo

2. Visões metafísicas, escolher o caminho do meio

3. Dualidades aparentes (bem – mal) são ilusórias, muitos fieis acreditam que um fiel pode acordar para uma iluminação de repente, sem passar por várias reencarnações.



• Cosmologia Budista



O cosmos não é permanente nem criado, o universo é composto por vários sistemas mundiais, com seus ciclos de nascimento – desenvolvimento e declínio, que dura, bilhões de anos. No sistema mundial existem seis reinos no total de 31 níveis:



1- Reino dos infernos

2- Reino animal

3- Reino espiritual

4- Reino anti-deuses

5- Reino humano

6- Reino dos deuses



• Budismo e Hinduísmo

Buda aceitava o contesto geral das idéias índias, mas alterou várias idéias radicalmente. Admitia uma serie de renascimento, chamada Samsâra, dependente da lei do Karma, lei da causalidade moral. Para Buda não tinha uma alma encarnada, ATMAN, pois para ele nada é permanente. A morte apresenta somente uma passagem a uma nova aparência, seja humana, infernal ou celestial. Mesmo os deuses, são aparências temporárias.

O budismo esta contrario aos sacrifícios, como os praticados no hinduísmo.



• Escrituras e Mosteiros

Buda não escreveu nada, ainda no ano de sua morte, em um concilio na cidade de Rajaghara (480 a.C), discípulos de Buda recitaram ensinamentos perante uma assembléia de monges que os transmitiram, de forma oral aos seus discípulos.

No primeiro século a.C. os seus ensinamentos começaram a ser escritos no Sirilanka, mais ou menos 52 a.C., esses escritos receberam o nome de cânone Pali, mas até hoje, não existe um livro sagrado no budismo.



• Festa principal

Vesak (aniversário de Buda), festa da existência e da iluminação do vigésimo quarto Buda, comemorada na lua cheia de maio.



• Difusão do budismo

Tezin Gyatso (1935), líder religioso; monge e doutor na filosofia budista, em 1959 deixou o Tibet. e passa a viver exilado na índia, de onde prega a paz.



• Budismo Japonês

1- 784 – Nara – primeiro período

2- 794 – 1185 – Heian – segundo período

3- 1185 – Pós Heian – terceiro período

• Escolas do segundo período

1º escola Terra Pura – maior no Japão e Ásia

2º escola Zen (Rimzai, Satô, Obaktu), enfatizava a libertação através da meditação.



Nos últimos dez anos, muitos templos budistas estão se fechando, cerca de 1000 por ano, apresentando um declínio no Japão.



• Budismo Tantrico / Vajrayana – veículo do diamante.

Tantrismo nasceu no VI século d.C. é fundado nos textos chamados Tantra, desenvolvimento dos primeiros textos, recorre à meditação, ao ritual, ao símbolo e à magia.



 O confucionismo



• Historia e fundador

O confucionismo é um sistema filosófico chinês criado por Kung-Fu-Tzu (Confúcio). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política, a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses como Junchaio (ensinamentos dos sábios). Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou uma continuidade histórica única.



• Doutrina e seguidores

Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng zi (Mêncio, ou Mâncio) e Xun Zi um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois originais autores buscaram compreender o confucionismo dentro de uma perspectiva naturalista, recorrente nas forças que atuavam na sociedade em seus períodos de vida.

Meng acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, que teria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O ser humano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo a evitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana.



Já Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Ele acreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos de preservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pela necessidade de ordenação, tal como no fundamento das lendas de fundação chinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz de articular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas que para isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana.

Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, mas as classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas. Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.).



De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.



O confucionismo é ainda praticado em vários países. Além da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, é sentido em grupos de indivíduos que estudam religiões não cristãs.



 O Sikhismo / siquismo



• Historia e fundador

O sikhismo ou siquismo é uma religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab (região atualmente dividida entre o Paquistão e a Índia) pelo Guru Nanak (1469-1539).

Habitualmente retratado como o resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do misticismo do islão (o sufismo), o sikhismo apresenta contudo elementos de originalidade que obrigam a um repensar desta visão redutora.



• Significado e Doutrina

termo sikh significa em língua punjabi "discípulo forte e tenaz". A doutrina básica do sikhismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhidas no livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.

Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos.

O sikhismo ensina que os seres humanos estão separados de Deus devido ao egocentrismo que os caracteriza. Esse egocentrismo (haumai) faz com que os seres humanos permaneçam presos no ciclo dos renascimentos (samsara) e não alcancem a libertação, que no sikhismo é entendida como a união com Deus. Os sikhs acreditam no karma, segundo o qual as acções positivas geram frutos positivos e permitem alcançar uma vida melhor e o progresso espiritual; a prática de acções negativas leva à infelicidade e ao renascer em formas consideradas inferiores, como em forma de planta ou de animal.

Deus revela-se aos homens através da sua graça (Nadar), permitindo a estes alcançar a salvação. O Divino dá-se a ouvir, revelando-se enquanto nome. Segundo os ensinamentos do Guru Nanak e dos outros gurus, apenas a recordação constante do nome (nam simaram) e a repetição murmurada do nome (nam japam) permitem os seres humanos libertar-se do haumai.



O sikhismo coloca ênfase em três deveres, descritos como os Três Pilares do sikhismo:

• Manter Deus presente na mente em todos os momentos (Nam Japam);

• Alcançar o sustento através da prática de trabalho honesto (Kirt Karni);

• Partilhar os frutos do trabalho com aqueles que necessitam (Vand Chhakna).

O rito principal é o da admissão entre os khalsa, fraternidade dos "puros", geralmente celebrado na puberdade.

O principal templo sikh, Harimandir Sahib (o Templo de Ouro, em Amritsar), é um lugar de peregrinação.

 O Judaismo



• Historia

De acordo com a tradição judaico-cristã a origem do judaísmo estaria associada ao chamado de Abraão à promessa do Senhor. Abraão, originário de Ur, teria sido um defensor do monoteísmo em um mundo de idolatria, e pela sua fidelidade ao Senhor teria sido recompensado com a promessa de que teria um filho, Isaque do qual levantaria um povo que herdaria a Terra da promessa. Abraão é chamado de primeiro hebreu, e passa à viver uma vida nômade entre os povos de Canaã.



Era bíblica



• Séculos XX -XVII a.C. - Primeira emigração dos hebreus para Canaã. Os Patriarcas bíblicos.

• Séculos XVII-XIII a.C.- Israelitas no Egito.

• Séculos XIII-XII a.C. - O Êxodo e a ocupação da Palestina .

• Séculos XII-XI a.C. - Época dos juízes.

• 1067 -1055 a.C. - Reinado de Saul.

• 1055 -1015 a.C. - Reinado de Davi.

• 1015-977 a.C. - Reinado de Salomão.

• 977-830 a.C. - Cisma entre Judá e Israel.

• 722 a.C. - Fim do reino de Israel.

• 586 a.C. - Destruição de Jerusalém.

• 537 a.C. - Ciro permite o retorno dos judeus à Judéia.

• 520-516 a.C. - Reconstrução do Templo em Jerusalém.



Era talmúdica

• 332 a.C. -Alexandre Magno conquista a Judéia.

• 320-198 a.C. - Domínio Ptolomeu.

• 198-167 a.C. - Domínio selêucida.

• 167 a.C. - Revolução dos macabeus.

• 140 a.C. - A Judéia conquista a independência.

• 63 a.C. - Pompeu conquista Jerusalém.

• Século I d.C. - Início e expansão do Cristianismo .

• 6-40 d.C. - Procuradores romanos na Judéia.

• 66-73 -Primeira revolta judaica .Destruição de Jerusalém.

• 70- Fundação da Academia de Iavne.

• 115-117 - Segunda revolta judaica. Guerra de Kitos

• 132-135 - Terceira revolta judaica. Revolta de Bar Kokhba

• 200 - Redação da Mishná.

• 500 - Término da redação do Talmud da Babilônia.



Era contemporânea

• 1948- Criação do Estado de Israel.Primeira guerra árabe-israelense.



Judaísmo na atualidade

Na maior parte das nações ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a África do Sul, muitos judeus secularizados deixaram há muito de participar nos deveres religiosos. Muitos deles lembram-se de ter tido avôs religiosos, mas cresceram em lares onde a educação e observância judaicas já não eram uma prioridade. Desenvolveram sentimentos ambivalentes no que toca aos seus deveres religiosos. Por um lado, tendem a agarrar-se às suas tradições por razões de identidade, mas por outro lado, as influências da mentalidade ocidental, vida cotidiana e pressões sociais tendem a afastá-los do judaísmo.





 O Islamismo



A vida do profeta maomé



Nascido em Meca, Arabia saudita (570), Maomé foi durante a primeira parte da sua vida um mercador que realizou extensas viagens no contexto do seu trabalho. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos montes perto de Meca. Os muçulmanos acreditam que em 610, quando Maomé tinha quarenta anos, enquanto realizava um desses retiros espirituais numa das cavernas do Monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à humanidade. Maomé deu ouvidos à mensagem do anjo e, após sua morte, estes versos foram reunidos e integrados no Alcorão.

Maomé não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos.

Muitos habitantes de Meca rejeitaram a sua mensagem e começaram a persegui-lo, bem como aos seus seguidores. Em 622 Maomé foi obrigado a abandonar Meca, numa migração conhecida como a Hégira (Hijra), tendo se mudado para Yathrib (atual Medina). Nesta cidade, Maomé tornou-se o chefe da primeira comunidade muçulmana. Seguiram-se uns anos de batalhas entre os habitantes de Meca e Medina, que se saldaram em geral na vitória de Maomé e dos seguidores. A organização militar criada durante estas batalhas foi usada para derrotar as tribos da Arábia. Por altura da sua morte, Maomé tinha unificado praticamente o território sob o signo de uma nova religião, o islão.



• Sussessores:



Kalifas:

1- Abu Baki

2- Omar

3- Osman

4- Ali - primo de e guenrro de Maomé. Com a morte de Alí, o reino é transferido para Damasco, causando a divisão do Islã entre Sunitas e Xiitas.



• Os cinco pilares do Islã



Os cinco pilares são:

• Professar e aceitar o credo (Chahada ou Shahada);

• Orar cinco vezes ao longo do dia (Salá, Salat ou Salah);

• Pagar dádivas rituais (Zakat ou Zakah);

• Observar as obrigações do Ramadão (Saum ou Siyam);

• Fazer a peregrinação a Meca (Hajj ou Haj).







 O Cristianismo



O Cristianismo começou como uma seita judaica e é classificada como uma religião abraâmica. Originária do Leste do Mediterrâneo, cresceu rapidamente em tamanho e influência dentro de poucas décadas. Pelo século IV, havia se tornado a religião oficial do Império Romano. Durante a Idade Média, grande parte da Europa foi cristianizada. Entretanto, os cristãos ainda eram uma minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da África e em partes da Índia. Após a Era dos Descobrimentos, através da obra missionária e das colonizações, o Cristianismo se espalhou para a América, Austrália e no resto do mundo. Por isso, o cristianismo é a filosofia de vida que mais fortemente caracteriza a sociedade ocidental.



• O Credo



O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde.

As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

• A crença na Trindade;

• Jesus é simultaneamente divino e humano;

• A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;

• Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;

• A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);

• Os mortos ressuscitarão.

Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.

A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia.



Os principais concilios que determinaram o credo foram:

Nicéia 325 – Constantinopla 381 – Éfeso 431 – Calcedonia 451.



A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental (separada do catolicismo em 1054) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XIV). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações.

• Organização

Até o primeiro século, a organização era democrática, mas depois da romanização se torna uma organização hieráquica, Bispos – Padres – Diáconos – Leigos.

Fenômeno Religioso




RELIGIÃO
EM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIA

O QUE É RELIGIÃO?

QUAL A DIFERENÇA DE SEITA?
MITOLOGIA É RELIGIÃO?
O QUE É HERESIA?


RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.

Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. SEITA, derivado da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião.

HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judáica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta.

A MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.

MÍSTICA pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um "Mistério".

PRESENÇA DA RELIGIÃO EM TODA A CULTURA HUMANA
Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.
Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.
Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.
Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.

TIPOS DE RELIGIÕES
Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.
A primeira destas características e cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.
Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados.Pessoalmente como um estudioso do assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos.

PANTEÍSTAS
POLITEÍSTAS
MONOTEÍSTAS
ATEÍSTAS

Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais "primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania.

As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.

Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.

E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como um reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.
Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas Nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos.

PANTEÍSMO

As religiões primitivas são PANTEÍSTAS, acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc.
Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.
A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o Feminino e Masculino universal.
É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos.
Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos.

POLITEÍSMO

Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças a tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da longevidade, gera uma série de atividades competitivas e estruturalistas nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas.
Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o POLITEÍSMO, onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas a Água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a água.
No princípio as características dessas divindades não são muito afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes, traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e divindades, sem qualquer caráter transcendente.
Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas religiões são Pan ou Politeístas. Mesmo no estágio Panteísta por vezes pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das entidades divinas, mas algumas características como as citadas no parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o Animismo, Fetichismo e Totemismo.
Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância a medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião politeísta caminha junto com filosofias da natureza.
É sempre nesse estágio também que as sociedades desenvolvem escrita, ou pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais elaborados, no caso do politeísmo asiático, egípcio e europeu por exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo.
Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma Revelação propriamente dita.
Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da Monolatria, onde a adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de partida para o Monoteísmo.

MONOTEÍSMO

Chega um momento onde o Politeísmo está tão confuso, que parece forçar o "inconsciente coletivo", ou a "intuição global" a buscar uma nova forma de crença. Alguém precisa pôr ordem na casa, surge então um poderoso Deus que acaba com a confusão e se proclama como o Único soberano. Acabam-se as adorações isoladas e hierarquiza-se rigidamente as deidades, de modo a se submeter toda a autoridade do universo a um ente máximo.

O MONOTEÍSMO não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma. A própria teologia judáico-cristã-islâmica adota hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos específicos da natureza.

Um elemento que caracteriza mais claramente o MONOTEÍSMO mais específico, Zoroastrista, Judáico, Cristão, Islâmico e Sikh, é antes de tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e sua desatribuição parcial de qualidades humanas, nem sempre bem sucedida. Já as entidades secundárias são comumente retratadas artisticamente.
A própria mitologia grega através da Monolatria, já estaria a dar sinais de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu, ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, embora ainda impregnadas fortemente de Politeísmo a até de reminiscências Panteístas no caso do Bhramanismo. Zeus assomava-se cada vez mais como o regente absoluto do universo. Entretanto um certo obstáculo teológico impedia que tal mitologia atingisse um estágio sequer semi-Monoteísta. Zeus é filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus Uno e absoluto como Bhraman ou Javé.
Um fator complicador é que todas essas religiões apesar de seu princípio Uno, são também Dualistas, pois contrapõem um deus do Bem contra um do Mal. Entretanto não se presta "Sob Hipótese Alguma!", qualquer culto ao deus maligno, como ocorre nas Politeístas. Saber se o deus maligno está ou não sujeito afinal ao deus supremo é uma discussão que vem rendendo há mais de 3.000 anos.
Diferente do estado Panteísta original não ocorre harmonia entre os opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro. Sendo assim onde antes ocorria a divinização dos aspectos Masculinos e Femininos do Universo, e a sacralidade da união, aqui ocorre a associação de um com o maligno, fatalmente do elemento Feminino uma vez que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da humanidade.
O Bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como veneração a manifestações femininas da divindade, não condena a relação sexual e ainda detém a crença reencarnacionista que é uma quase constante no Panteísmo. Do Politeísmo guarda toda um miríade de deuses personificados, com estórias bastante humanas que envolvem conflitos e paixões. Mas a subordinação a um Uno supremo, no caso representado pela trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema.
Já os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta, entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em estado caótico. Ocorre um abafamento da religião anterior pela nova e seu caráter patriarcal e associado a violência, especialmente a partir do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da condição social feminina na sociedade.
Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos, aparentemente renegando o aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos simultâneamente.
Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o golpe fatal em quem se opuser a sua soberania.
Tal união, confere aos deuses monoteístas um poder supremo inigualável, e tal contradição, tal desarmonia intrínseca, resultou não por acaso no período religiosamente mais violento da história. As religiões monoteístas, especialmente o trio Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, são as mais intolerantes e sanguinárias da história.

ATEÍSMO

As religiões aqui caracterizadas como Ateístas negam simplesmente a existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo controle, e talvez seja nesse grupo que se sinta mais radicalmente a ruptura entre Ocidente e Oriente, mas basicamente o Ateísmo religioso tende a funcionar da seguinte forma.

Se o Monoteísmo tenta acabar com o "pandemonium" Politeísta e estabelecer uma nova ordem por algum tempo, acaba por também se mundanizar. As autoridades religiosas interferindo fortemente na política e na estruturação social, enfraquecem como símbolos transcendentes. A inflexibilidade fundamentalista do sistema se revela injustificável ante a problemática social e as conquistas e descobertas filosóficas e científicas e num dado momento o sentimento de descrença é tal que deixa-se de acreditar num deus. Surge o ATEÍSMO.

Esse é o ponto crucial, a razão pela qual de fato não acredito que existam Ateus no sentido mais profundo do termo, no máximo "agnósticos".
Geralmente o ateu não é aquele que desacredita do "invisível", de qualquer forma de Téos, mas sim o que descrê dos deuses personificados e corrompidos. Afinal até o mais materialista e cético dos cientistas trabalha com forças invisíveis! Fenômenos da natureza ainda inexplicáveis.
Gravitação Universal, Lei de Entropia, Mecânica Quântica e etc. não podem ser vistas! Apenas seus efeitos. Tal como sempre se alegou com relação aos deuses.

No que se refere a uma visão do Princípio, não creio fazer diferença acreditar que um corpo é atraído para o centro da Terra por uma força invisível da natureza ou pela vontade de um deus também invisível. Há apenas uma maior compreensão racional do fenômeno, com maiores resultado práticos, mas de um modo ou de outro, a explicação possui um certo caráter de fé, tão racionalmente satisfatório para o cientista quanto para o religioso, capaz de explicar com clareza o funcionamento do mundo e mesmo quando isso não ocorre, admiti-se como mistérios divinos, ou causas científicas ainda desconhecidas.

No caso do Oriente, o Ateísmo religioso surge principalmente na Índia, sob a forma do Budismo e do Jainísmo, e na China, sob o Taoísmo e o Confucionismo. Todas essas religiões possuem textos base com certo grau de respeitabilidade mística ou filosófica, mas o grau de liberdade com que se pode reinterpretar ou mesmo discordar destes textos é incomparável em relação aos livros sagrados Monoteístas.

E nesse nível que muitas posturas passam a ser desconsideradas como religiões, sendo tidas em geral como filosofias. No Ocidente, tal movimento ocorreu também na Grécia Antiga, através de Filósofos da Natureza que estabeleciam como princípio primário universal alguma "substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles colocava o MOTOR IMÓVEL como o princípio primário, e PLOTINO, estabelecia o UNO. Porém essa breve ascensão do Ateísmo filosófico e científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do Monoteísmo cristão.
O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a mistura destas com os Neo Panteísmos e o avanço científico em geral resulta num quadro difícil de se diferenciar.
Mas o ponto mais complexo na verdade, e que Ateísmo e Panteísmo se confundem.

Religiões ATEÍSTAS e NEO-PANTEÍSTAS

As religiões Ateístas não crêem numa entidade suprema central, mas pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o Panteísmo.
Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a harmonia entre a Deusa e o Deus no Panteísmo, e constantemente adotam um posição de neutralidade em relação aos eventos.
Provavelmente não por acaso TAOÍSMO e BUDISMO são as mais avançadas das grandes religiões num sentido metafísico, racional e mesmo científico. São imunes a contestação racional pois seus conceitos trabalham num plano mais abstrato mas ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e fartos de paradoxos escapistas, sendo extremamente mais flexíveis que as religiões monoteístas por exemplo. Não há casos significativos de atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como as monoteístas ou nas politeístas monolátricas.
Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões sejam nesse esquema de divisão, classificadas como Panteístas. TAOÍSMO e CONFUCIONISMO que são chinesas equanto o BUDISMO e o JAINISMO Indianos, são religiões letradas. Possuem seus escritos fundamentais como os Sutras Budistas, o Tao Te-King Taoísta e os Anacletos Confucianos e os textos dos Tirthankaras Jainistas. Todas possuem seus mentores, Buda, Lao-Tsé, Confúcio e Mahavira. E todas são muito desenvolvidas filosoficamente, por vezes sendo consideradas não religiões, mas filosofia. Todas essas características inexistem no Panteísmo primitivo.
Portanto isso me leva a classificá-las como RELIGIÕES ATEÍSTAS, por declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o TAO ou o NIRVANA, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e o Budismo, são uma espécie de Vazio, um Não-Ser.
Já o Neo-Panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos insistam em negar-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo, porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. Tais como: A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em geral se apresenta de forma predominantemente racional. A postura passiva e não proselitista, e muito menos violenta, do Monoteísmo tradicional. A caraterização de seu fundador que mesmo sendo dotado de dons supra-naturais, não reivindica deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante, diferenciando-as principalmente do Monoteísmo "Ocidental", o tratamento totalmente diferenciado dado a questão da existência do "Mal".

O FATO RELIGIOSO

Quando perguntamos a um grupo de pessoas qual a religião de cada uma, podemos ouvir as mais diferentes respostas. Algumas vão dizer que são católicas. Outras, que são crentes. Outras, ainda, que são presbiterianas, evangélicas, mórmos... Ou, então, que praticam uma religião própria. Que conversam diretamente com Deus, sem necessidade de freqüentar igrejas ou de repetir orações. Outras vão demonstrar uma bruta surpresa com a ousadia da pergunta: Religião? Eu?! Ta me estranhando?

Estas últimas parecem ser as mais sintonizadas com os tempos, pois constantemente se diz e se escreve que a ciência já provou as grandes verdades da vida, que o mundo atual não precisa de Deus.

Ao mesmo tempo, diariamente entramos em contato direto com as mais diferentes manifestações religiosas. Nas ruas, nas portas das casas, somos convidados, seja através de folhetos seja através de pessoas que tentam nos convencer das verdades de sua crença, a participar de diferentes tipos de culto. Pelos jornais e TV, acompanhamos guerras entre povos, que tentam destruir-se mutuamente. Às vezes, o problema é colocado em termos de conflito entre adeptos de diferentes religiões, como no caso dos muçulmanos e dos cristãos na Bósnia, dos protestantes e católicos na Irlanda do Norte...

Na escola, podemos ficar surpresos ao saber que um colega, que vivia para festas e namoros, converteu-se a uma religião muito rígida, que não permite nem umas e nem outros.
Nem mesmo admite que se tenha amizade com pessoas do outro sexo ou com quem não pertença ao mesmo grupo religioso.
Para complicar ainda mais, uma colega aparece com um livro sobre horóscopo, ou sobre que oferendas fazer a gnomos e bruxas, ou sobre a utilização dos cristais na meditação...



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Será que tudo isso é religião, ou que religião é apenas isso?


1. O SER HUMANO E SUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS

Quem já observou, numa praia deserta, a irrupção de dezenas de tartaruguinhas recém-saídas do ovo, sabe que elas imediatamente procuram a água. Sem qualquer apoio ou assistência, elas buscam alimento, desenvolvem-se e, no tempo marcado pela natureza, acasalam-se e as fêmeas, por sua vez, dirigem-se a uma praia deserta, a fim de por seus ovos em segurança.

Com o ser humano acontece algo diferente. O recém nascido humano é talvez o ser mais indefeso da natureza. Precisa de cuidados especiais para sobreviver. Apesar das lendas de seres humanos amamentados por animais, como Rômulo e Remo, criados por uma loba, e, na literatura moderna, Tarzan dos macacos, é na relação com os outros seres da sua espécie que o humano pode se desenvolver.

Um dos aspectos mais distintivos desse ser, é a capacidade de perceber a si mesmo e a própria finitude – de tomar consciência de que vai seguir inexoravelmente o destino de todos os seres da natureza: crescer, amadurecer e morrer.

A consciência de si mesmo e do mundo possibilita também a percepção do sofrimento. Quem nunca teve um momento de desânimo ou de desespero diante de problemas ou doença? Conflitos na família, impossibilidade de satisfazer anseios, injustiças sofridas, a perspectiva da morte, fim de namoro... Nessas horas, quando o sofrimento parece maior do que a capacidade de suporta-lo, as pessoas costumam perguntar a si mesmas: Qual o sentido da vida? Para que nascer? Por que morrer? São momentos importantes de reflexão e amadurecimento.

As questões sobre o sentido da vida (de onde viemos, o que fazemos e para onde iremos?) e a certeza de que é impossível eliminar a morte estão na raiz do sentimento religioso e da crença na existência de um ser superior, com o qual o humano estabelece uma relação muito especial. Esse ser superior, de natureza divina, que transcende a vida neste mundo é, nas religiões, chamado Deus.


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Algumas perguntas estão na raiz do fato religioso. Para nós, quais são essas perguntas?


AS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA COM RELAÇÃO À RELIGIÃO


O INTERESSE PELAS RELIGIÕES É MUITO ANTIGO. JÁ Heródoto, no século IX a.C., preocupava-se em descrever as religiões de seu tempo e os pensadores pré-socrático (século VI a.C.) interessavam-se pelo valor dos mitos e a natureza dos deuses. Mas a ciência das religiões, propriamente dita, iniciou-se com Max Mueller, no século passado.

Diferentes ramos da ciência contribuem para a das religiões. A teologia, a antropologia, a sociologia da religião, a psicologia, a fenomenologia religiosa, a história, a filosofia... Não existe ciência humana que não se ocupe de alguma forma do fato religioso. Estas ciências nos ajudam a adquirir um critério claro para distinguir as diversas manifestações religiosas, como a magia, a superstição, o ocultismo, os fenômenos parapsicológicos etc.

Uma conclusão fundamental desses estudos é que não existe, nem existiu, cultura humana, em qualquer época ou lugar do mundo, que não tenha ou tivesse manifestações de uma religião. Isto é, o fato religioso é universal, tão amplo e diversificado quanto a própria humanidade. Está e sempre esteve em todas as culturas, em todos os tempos. Mesmo em túmulos pré-históricos foram encontrados vestígios de ritos funerários, que atestam a crença numa vida depois da morte.




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O fato religioso é universal. Isto é, não existe nem existiu povo que não tivesse algum tipo de manifestação religiosa.
Indique alguns sinais da presença do fato religioso em sua cidade.
Compare o número de festas religiosas com o das festas civis durante o ano.____________________________________________________________________

TODAS AS CULTURAS PRIMITIVAS MANIFESTARAM A INQUIETAÇÃO HUMANA DE SE REFERIR A ALGUÉM VENERADO COMO SAGRADO E DO QUAL ESPERAM RESPOSTA DEFINITIVA PARA SUAS PERGUNTAS SOBRE O SENTIDO DA EXISTENCIA.

INÚMEROS INDÍCIOS O ATESTAM: SEPULTURAS, PINTURAS RUPRESTES, MONUMENTOS MEGALÍTICOS, RITOS FUNERÁRIOS, RITOS DE INICIAÇÃO, MITOS CÓSMICOS, DANÇAS SAGRADAS, OFERENDAS E SACRIFICIOS, BANQUETES SAGRADOS COLETIVOS, FÓRMULAS MÁGICAS, PRECEITOS MORAIS... Todos estes signos testemunham múltiplas crenças que convergem para certas preocupações comuns: A ORIGEM DO MUNDO E DO SER HUMANO, A EXISTENCIA DE PODERES SUPERIORES, O SENTIDO INATO DO SAGRADO NO SER HUMANO, A VIDA DEPOIS DA MORTE... SÃO MAIFESTAÇÕES A PRINCÍPIO MUITO ARCAICAS, POUCO EVOLUÍDAS, MAS CADA VEZ MAIS CONCRETAS E DELIMITADAS NA MEDIDA EM QUE PROGRIDE A HISTÓRIA HUMANA.



Hacia Um Humanismo Cristiano, Margarita Díez Cuesta E Outros, Edelvives, Zaragoza, 1986, P. 63.


A PALAVRA RELIGIÃO

A palavra RELIGIÃO vem do latim “religio”, que pode ter pelo menos dois significados diferentes:
Um dos significados foi dado por Cícero, escritor romano que viveu quase um século antes de Cristo. Para ele, “religiosi”, de relegere, eram aqueles que seguiam com cuidado os costumes dos ancestrais no que se referia ao culto dos deuses. A religião, portanto, era um conjunto de crenças e práticas tradicionais próprias de uma sociedade humana particular, que assim honrava seus deuses. Nesse sentido, religio podia cobrir realidades religiosas bastante diferentes. Esse conceito nada tinha de exclusivo e colocava o acento no ritual, na exterioridade.

Não se pode esquecer que Cícero viveu no mundo romano, no qual os imperadores eram considerados deuses – e a realização cuidadosa das cerimônias de um culto aos deuses vivos e poderosos podia evitar sérios problemas ao cidadão.

Lactâncio, um escritor cristão que viveu no século IV, com a intenção de demonstrar que o ensinamento de Cristo constituía a única sabedoria e a única religião, afirmou, por sua vez, que religio vem de religare, que quer dizer atar, prender, ligar. Nesse sentido, religião é a “ligação pessoal que une o ser humano ao seu Criador, como a pietas romana era o laço de veneração que une o filho a seu pai” (Meslin, H. A experiência humana do divino, Vozes, 1992, p. 24s).

A partir de então, religião afirma preferentemente o sentido, o interior, o que não se pode observar.
Apesar de separadas por séculos de história e diferença de mentalidade, além de um acontecimento fundamental para os cristãos, o advento de Jesus, as duas definições podem ser consideradas complementares, pois o sentimento religioso, como qualquer outro sentimento, busca meios de expressão, traduz-se normalmente em atos. Isto é, o ser humano procura formas de externalizar e de dividir com os demais aquilo que sente. E esse sentimento se diz religioso quando reconhece uma realidade ou ser superior, a divindade, que é aceita e administrada por sua grandeza e à qual se entrega a própria vida. Uma realidade ou um ser superior (a divindade) e a aceitação por parte da pessoa dessa realidade que a supera (a atitude religiosa) são os dois elementos fundamentais do fato religioso.

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Que definição de religião encontramos hoje nos dicionários e que elementos sublinham?______________________________________________________________________


AS DIMENSÕES DO FATO RELIGIOSO

A religião é uma relação no sentido que, através dela, as pessoas procuram ligar-se ao ser transcendente, A Deus. Esta dimensão, a relação com o transcendente, é fundamental no fato religioso. Ela acontece de muitíssimos modos e constitui uma experiência que cada pessoa faz à sua maneira, em algum momento da vida. É tão íntima e tão simples essa experiência que se torna inútil querer provocá-la de fora, santo Agostinho dizia que Deus acontece no mais interior de cada pessoa.

Mas o sentimento religioso não se manifesta apenas na relação individual da pessoa com Deus. Ele se manifesta também na relação com as outras pessoas. A pessoa “religiosa” assume atitudes, comportamentos, inspirados nas suas crenças religiosas. A religião envolve, assim, manifestações coletivas como forma de partilhar o sentimento individual, e dá origem a uma ética que de alguma forma influencia e regula as relações entre os indivíduos.
Nesse sentido, o fato religioso é, também, uma compreensão do mundo, de sua origem, de sua história e sobretudo uma interpretação da pessoa e de seu destino. Essa relação ao futuro, uma utopia, ou seja, um ideal que se deseja que se torne realidade. Onde estamos, para onde vamos e como fazer (que ações) para chegar lá.

Por exemplo, alguns grupos indígenas falam na construção da terra sem males, onde as pessoas possam viver felizes, sem carências, e se realizar plenamente como seres humanos. Os cristão falam na construção do Reino de Deus, o reino da justiça, paz, igualdade e solidariedade. Estes dois exemplos de utopia talvez mostrem a diferença entre duas visões de mundo: Numa sociedade em que existe a injustiça social, o ideal utópico é uma sociedade igualitária. Para outra sociedade, para quem não existe a distribuição desigual dos bens, o ideal utópico é a existência do suficiente, sem os sofrimentos impostos pela natureza indomável.

Finalmente, a religião envolve também a relação do indivíduo consigo próprio. Isto é, as normas éticas não são apenas externas. Ao contrário, elas são internalizadas pela pessoa religiosa e passam a fazer parte da sua identidade. A pessoa religiosa forma assim uma consciência religiosa que a torna capaz de reconhecer e avaliar os próprios atos como conformes ou não às próprias crenças. Daí que se diga com freqüência que a consciência é a voz de Deus em nós. Voz de Deus que nos fala através das idéias e conceitos que recebemos da tradição cultural-religiosa em que vivemos.
Em síntese: “o fato religioso implica um fato psicológico individual, manifestações coletivas e conteúdos morais”.

Mas, mais do que isso: o religioso se apóia na experiência pessoal (“desde dentro”) e esta sempre escapa ao controle absoluto da razão. A religião dá sentido à existência do homem, dando assim a legitimação às pretensões de absoluto que definem fundamentalmente o ser humano.

A religião supõe no homem, ademais, uma abertura ao mistério, mais além das explicações que encontra na razão e na experiência sensível; e um encontro com Deus, que desemboca necessariamente num compromisso de vida, num estilo peculiar de se relacionar consigo mesmo e com o mundo. A religião não pode, pois circunscrever-se a certos momentos isolados, mas se manifesta através da vida como um todo.
Hacia um humanismo Cristiano, p.71



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O fato religioso envolve todas as dimensões da vida. Como percebemos isso no cotidiano?

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AS EXPRESSÕES RELIGIOSAS

Existem tantas expressões religiosas quantas são as culturas humanas, uma vez que cada povo busca sua própria maneira de expressar sua relação com o Transcendente.
As diferenças nos modos de expressão religiosa podem ser explicadas pelas diferenças de economia, cultura e de organização social entre as diversas sociedades humanas. O ser humano não está solto no tempo e no espaço. É um ser historicamente situado: Nasce num tempo e numa cultura determinada, cujos valores apreende através do processo de educação. Assim, o conceito de Deus e a expressão religiosa numa cultura pré-agrícola, na qual as pessoas sobrevivem da caça e da coleta de frutos e raízes, não pode ser a mesma que numa sociedade agrícola, que já aprendeu e pratica a agricultura. Esta, por sua vez, expressa-se de forma diferente de uma sociedade industrial.

Então, antes da plantação, se selecionam os grãos e se faz uma cerimônia. Durante essa cerimônia, as sementes são colocadas num mesmo lugar, entre velas acesas para a terra, a água, o sol, os animais e o universo, ou seja, para o ser humano. Na cultura indígena considera-se o universo, o ser humano. Há uma atitude de respeito para com a semente, porque ela será enterrada em algo sagrado, que é a terra, e terá que se multiplicar para trazer de novo o alimento para todos nós.


Rigoberta Menchú, em Sem Fronteiras, junho/julho 93, p.26


É principalmente através do culto que as diversas sociedades humanas manifestam a relação com o ser ou seres superior (es).

O culto envolve um rito, que compreende cerimônias, palavras, gestos, atitudes, roupas... o rito pode ser celebrado em locais especiais, ou sagrados, em presença de pessoas que organizam ou dirigem a celebração, ou em locais comuns, celebrado pelas pessoas que convivem diariamente.

Os rituais desempenham, ademais, um papel importante na formação da consciência religiosa. É através deles que se faz a “catequese” religiosa nas diversas religiões para aqueles que tem “fé”.

Como forma de expressão de um sentimento, o culto também varia de religião para religião.
Numa sociedade de classes, varia também, de classe para classe. Por exemplo, o catolicismo praticado pelas camadas populares é totalmente diferente daquele praticado pelas camadas mais cultas da população, a ponto de parecerem duas religiões diferentes.

Nem todos os ritos exigem a presença de pessoas especialmente preparadas para a sua realização, como sacerdotes ou sacerdotisas, ou padres, pastores, xamãs etc. Nos primórdios do cristianismo, o culto era realizado em casa, comandado pelo pai de família. Com a institucionalização da religião cristã, o culto foi-se modificando, passando para as igrejas e para os ritos celebrados pelos padres ou ministros.

Muitas vezes, toma-se o rito pela própria religião, isto é o extremo, o aparente é tomado pelo interno, pelo sentimento. Jesus alertou para esse risco e temos, na Parábola do Samaritano, um exemplo da religião dissociada do sentimento.

Mas os ritos mais significativos referem-se aos momentos especialmente importantes da vida em sociedade. Os ritos de iniciação, ou de passagem, representam a morte de um tipo de vida e o nascimento de uma outra, como que seguindo o ciclo do sol, que nasce, morre e renasce. A criança nasce para a comunidade cristã através do batismo. É fortalecida quando jovem com o sacramento da crisma e constitui um lar pelo matrimônio etc.

Nem todos os ritos são necessariamente religiosos. Por exemplo, o casamento civil, a festa de entrega dos diplomas, as paradas militares, os funerais, são entre tantos outros, ritos que acompanham momentos especiais da sociedade.

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Nas nossas comunidades quais são os rituais e o que eles querem expressar? Que rituais religiosos você conhece?______________________________________________________________________


Outra forma de culto, ou de expressão do sentimento religioso, é a oração. Através da oração, a pessoa sente-se diretamente em contato com o Transcendente.

As orações possibilitam a expressão de momentos importantes da vida individual e coletiva: dor, sentimento de perda, alegria, agradecimento, perdão...


UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA


Uma pessoa conta a um amigo um segredo muito importante, um sentimento com relação a alguém, um medo do qual se envergonha, um desejo... O amigo, porém, passa o segredo adiante. Conta para outras pessoas aquilo que foi contado apenas para si. Quebra a confiança nele depositada.

De fato, a confiança é fundamental para qualquer relação profunda. Na religião, ela se exprime na fé. Ter fé importa confiança, entrega, anuência (aceitação) pessoal a Deus.
A fé é um aspecto integrante do sentimento religioso.

No Antigo Testamento, o exemplo por excelência da fé foi Abraão. Tornou-se modelo e ponto de referencia fundamental. Em dois momentos de sua vida a fé encontrou seu ponto alto. A partir deles podemos compreender essa dimensão de entrega, de confiança. Ainda envolvido no mundo dos deuses, Abraão deixa tudo para seguir esse Deus, que lhe promete fazer dele uma grande nação, abençoa-lo, engrandecer-lhe o nome e transforma-lo numa bênção (Gn 12,2). Só em gesto de profunda entrega e confiança nesse Deus pode Abraão lançar-se nessa aventura: arrancar-se de sua terra, parentela e caminhar para o desconhecido, apoiado unicamente na Palavra do Deus que o chamou. Em outro momento, a provação ainda foi maior e a demonstração de fé mais surpreendente e grandiosa. A esperança de realização da primeira promessa pendia da vida daquele menino, Isaac, filho único de sua velhice. O futuro da grande nação concentrava-se na pequenez daquela criança. Ela significava a encarnação da promessa, da bênção de Deus para e em Abraão. E eis que lhe é pedido sacrifica-lo. Só o extremo da fé-confiança, só uma total e radical entrega a Deus pode explicar a coragem de Abraão de preparar-se e encaminhar-se para o ato do sacrifício do filho (Gn22). Assim esses dois exemplos de Abraão nos fazem ver a dimensão pessoal existencial da fé como entrega, compromisso, e o aspecto comunitário, enquanto Abraão assume tal atitude na clara consciência de ser o “Pai de um povo”. (Libânio, pág. 123)

Nas sociedades modernas, nem sempre, porém, temos oportunidade de expressar profundamente a fé, pois somos educados dentro dos valores e conteúdos de uma determinada religião e nem “paramos para sentir” a nossa fé.

As transformações da nossa sociedade, cada vez mais rápidas, também se refletem na questão da fé.

Para os nossos antepassados cristãos, a fé era alguma coisa inquestionável. Aliás, nem podiam duvidar e muitas vezes nem questionar pequenos aspectos da expressão religiosa. Religião e Estado andaram de mãos dadas durante muito tempo. Questionar uma era questionar o outro, com todas as conseqüências que podiam advir.
Mas o mundo foi mudando. Aconteceu a Reforma, e outras religiões cristãs foram surgindo e evoluindo. No Brasil, a religião católica, chegada com o colonizador, encontrou as religiões indígenas, com suas expressões e crenças características. Além disso, sofreu também a influencia das religiões africanas, professadas pelos que para aqui foram arrastadas como escravos.

O desenvolvimento da ciência colocou em xeque muitas crenças religiosas. Se Giordano Bruno e Galileu Galilei foram condenados por suas idéias, hoje as crianças aprendem no primeiro grau que a Terra é um astro a mais no universo. Em conseqüência do embate religião-ciência, o campo da ética também se distanciou da esfera de influencia do mundo religioso. Atualmente, é aqui que se colocam os conflitos mais agudos com a fé nas sociedades ocidentais.


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Em quê, de fato, acreditamos? Como explicamos a fé religiosa?


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SÍMBOLOS E SINAIS


Quando uma pessoa gosta de outra, tem com relação a ela um comportamento especial. Seja uma relação de amor ou de amizade, as pessoas procuram estar juntas, encontra-se constantemente, trocar idéias, saber notícias uma da outra. Trocam presentes e guardam recordações que, para quem não partilha esse sentimento, podem parecer bobagens: uma flor roubada no jardim, um guardanapo da lanchonete, um vaso de pé quebrado... Esses objetos adquirem para as pessoas envolvidas um significado especial e se transformam em sinais da ligação entre elas.

Em outras palavras, “o homem é, por natureza, um ser sociável”. Necessita continuamente comunicar-se com os demais, para transmitir o que pensa ou sente. Ao mesmo tempo, em seus comportamentos sociais não pode renunciar à sua época, à sua civilização, ao meio ambiente em que vive, à influencia da educação recebida, à pressão que exercem sobre ele os meios de comunicação etc. Todas as realidades que constituem a experiência humana podem ser transmitidas aos demais, mas nem todas podem ser traduzidas para a linguagem conceptual, racional, porque se trata muitas vezes de manifestações espontâneas, quase inconscientes, e porque o homem dispõe de muitos recursos, além dos estritamente verbais, para transmitir seu modo pessoas e próprio.

Por isso, precisamos dos símbolos para nos comunicar. São representações arbitrárias, compostas de gestos, palavras ou imagens que variam de acordo com as culturas e os tempos, de realidades que não podem ser expressadas na linguagem conceptual. (BUP 2, pág. 123).

Os símbolos, com seus significados especiais, permitem que cada pessoa seja capaz de transcender seu próprio mundo e se abrir para o geral e universal. Além de sinais e símbolos da ligação entre as pessoas como, por exemplo, as alianças de casamento, existem também sinais e símbolos de ligação da pessoa humana com o Transcendente. É principalmente no mundo religioso que a linguagem simbólica encontra o seu lugar. Não podendo expressar adequadamente a experiência da relação com o Transcendente, a pessoa humana serve-se de imagens, de símbolos, de analogias (semelhanças).
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O símbolo tem três funções principais: assumir as experiências mais fundamentais ou mais profundas da existência humana, traduzir essas experiências para o nível da consciência e expressar ou comunicar essas experiências.
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Segundo Mircea Eliade, o simbolismo desempenha um papel considerável na vida da humanidade. É graças aos símbolos que o mundo se torna “transparente”, capaz de mostrar a transcendência. Graças ao símbolo, o ser humano sai de sua situação particular e se abre para o geral e para o universal.

Embora existam símbolos restritos a um grupo de pessoas ou a uma sociedade, como a cruz para os cristãos, existem também os símbolos universais. A água, em qualquer espaço e tempo religioso, purifica, desintegra, lava os pecados, regenera.

A Mãe-Terra dos povos antigos transformou-se hoje em terra natal dos povos ocidentais.

Carl Jung segue linha semelhante, ao afirmar que, “por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razoes por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens” (C.G. Jung, O homem e seus símbolos.).

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O cotidiano está marcado por uma infinidade de símbolos. Enumere alguns desses símbolos, especialmente os religiosos e explique o que eles significam.______________________________________________________________

Conclusão


O fato religioso tem como termos referenciais a pessoa humana (eu), o ser transcendente superior (Deus) e as mediações que põem em contato os dois termos anteriores. No caso da religião católica, essas mediações são designadas sacramentos, a saber: os sete Sacramentos, a Palavra de Deus, o Próximo etc.

Como conseqüência imediata da relação religiosa a vida ganha sentido, isto é, a vida se apresenta como obra não do acaso nem da necessidade ou destino, mas de um desígnio (de um projeto) pessoal amoroso de Deus. Daí que ela, a vida, se orienta para um fim igualmente pessoal, fonte de confiança e de esperança. A história humana é vista, assim, como uma obra comum na qual “as ações dos homens encaminham a todos e cada um, apesar dos retrocessos impostos pela presença do mal, a uma forma de ser que responda às suas aspirações mais elevadas, na qual a justiça se imponha à injustiça, o amor ao ódio, e na qual os valores mais elevados se torne realidade”.



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Para avaliar ou reconhecer a religiosidade de uma pessoa, essas poderiam ser as perguntas iniciais indispensáveis:

· Reconhece a existência de um ser superior?
· Esse reconhecimento se expressa em práticas concretas e particulares?
· Essas práticas procuram dar uma resposta às perguntas do sentido da vida?
· Essas respostas afirmam que a vida vale a pena de ser vivida e em comunhão com todos os outros?
· Tudo isso acontece dentro de uma instituição religiosa particular?
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O espaço sagrado e sacralização do mundo


Bibliografia: Mircea Eliade – O sagrado e o Profano: Introdução e Capitulo 1 – pg. 13 a 57


Apontamentos:

Rudolf Otto, em 1917 fez um estudo de grande repercussão. Ele não estudou as idéias de Deus e de religião, mas sim, as modalidades da experiência religiosa. Ele dá atenção especial para o aspecto irracional da religião e entende que o “Deus vivo” para o crente não é uma idéia abstrata, mas um poder terrível. Descobre o temor religioso diante do mistério, do sagrado. O ser humano tem o sentimento de profunda nulidade frente ao sagrado. Mas, o aspecto da irracionalidade não é a única dimensão do sagrado. O sagrado em sua totalidade é algo muito mais complexo. A primeira definição é que o sagrado se opõe ao profano.

O sagrado se manifesta como algo absolutamente diferente do profano. O ato da manifestação do sagrado se denomina hierofania. A historia das religiões é construída por hierofanias (manifestações do sagrado). Trata-se de um ato misterioso: a manifestação de algo “de ordem diferente” – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte de nosso mundo “natural”, profano.

Para certos povos o sagrado se manifesta em pedras ou arvores. Isso não é ignorância ou superstição, mas o modo de conhecer o mundo. Não se trata de uma veneração da pedra como pedra, mas a pedra é adorada porque “mostra” algo que já não é pedra, mas sim o sagrado. Há uma reelaboração do sentido dos objetos que compõem o mundo. O objeto torna-se outra coisa, embora continue a ser ele mesmo. O sagrado opera uma transformação nas coisas do mundo. O mesmo vale para o ritual católico; na missa, o pão e o vinho se transformam no corpo e sangue de cristo, mas permanecem sob a forma de pão e vinho. É o mesmo que acontece com a pedra. A pedra revela o sagrado. Sua realidade imediata transmuda-se numa realidade sobrenatural.

O ser humano religioso procura estar o mais possível perto do sagrado. A dessacralização do mundo é uma descoberta recente do ser humano (modernidade).

Eliade apresenta o sagrado e o profano como duas formas de ser no mundo. Para a consciência moderna, um ato fisiológico – a alimentação, a sexualidade, é um fenômeno orgânico. Mas podem ser um “sacramento”, ou seja uma comunhão com o sagrado. O sagrado e o profano são duas situações existenciais assumidas pelo ser humano na historia.

Há uma diferença de experiência religiosa que se explica pelas diferenças de economia, cultura e organização histórica social. Ex.: uma sociedade pré-agricola, especializada na caça, não podia sentir da mesma maneira a sacralidade da terra-Mãe.
ESPAÇO SAGRADO


Para o religioso o espaço não é homogêneo. Há espaços sagrados e espaços não sagrados. O espaço real é o espaço sagrado. Quando o sagrado se manifesta (hierofania) há uma ruptura na homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta.

O religioso sempre se esforçou por estabelecer-se no “Centro do mundo”. Por outro lado, para a experiência profana, o espaço é homogêneo e neutro. Todo espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que tem como resultado destacar um território do meio cósmico que o envolve e torna-lo qualitativamente diferente.

Não são os seres humanos que livremente escolhem o terreno sagrado, este espaço é procurado e descoberto com a ajuda de sinais misteriosos. A pessoa religiosa procura construir o espaço sagrado, ou seja consagrar espaços do mundo, isso acontece não como um trabalho humano, mas como reprodução da obra dos deuses.

A terra habitada por um povo é santificada, o território é demarcado do resto do universo. Um determinado povo se constitui como tal e encontra sua unidade ao se pensar como povo de Deus. Para existir, ele precisa encontrar a sua terra, esta é a terra prometida designada pelo poder sobrenatural. O caso do povo judeu na busca da terra prometida é o mais rico exemplo, mas o mesmo ocorre com todos os povos, de uma forma ou de outra.

O que caracteriza as sociedades tradicionais é a oposição entre o seu território habitado e o espaço desconhecido que o cerca: o primeiro é o mundo, o “nosso mundo” o cosmo, o resto é outro mundo, o caos. Da perspectiva das sociedades arcaicas, tudo que não é o “nosso mundo”, ainda não é um mundo. Um território para ser “nosso” precisa ser criado de novo, consagrado. Foi assim que os conquistadores espanhóis e portugueses tomaram posse, em nome de Jesus Cristo, dos territórios que haviam descoberto e conquistado. A celebração da primeira missa é um marco de “inauguração” do Brasil. A colocação da cruz equivalia à consagração da região, um novo nascimento.

O ser humano moderno também está constantemente realizando um esforço de constituição do seu universo, que procura separar um “nós” em relação aos “outros”. Os limites do mundo moderno se ampliaram muito. Mesmo considerando-se que o universo conhecido já envolve o planeta como um todo, resta o temor do que se passa fora da própria terra.

O “outro mundo” é então o interplanetário, e o receio é o de enfrentar os seres extra terrestres. A dimensão do sagrado redefine-se, mas não desaparece. A chegada do homem à lua só se torna real no momento que em seu solo é fincada a bandeira norte-americana, como símbolo sacralizado de uma nação e de um povo, que passa a se sentir “endeusado” por ter sido capaz de conquistar o espaço.

O “nosso mundo” situa-se sempre no centro. Um universo origina-se a partir do seu centro, estende-se a partir de um ponto central que é como o seu “umbigo”. O centro do mundo é o lugar da ruptura de nível, onde o espaço se torna sagrado. O universo se desenvolve a partir do centro. Por isso as Igrejas, sempre construídas no centro das cidades e representando o vinculo com Deus, com o céu e as 4 direções do mundo. Também a cidade é construída a partir do Santuário.



O tempo sagrado e os mitos

Da mesma forma que a visão religiosa define uma perspectiva de espaço, ela define também uma perspectiva de tempo. O tempo sagrado, ao contrário do profano, que avança sempre, é um tempo reversível. Toda festa religiosa tem basicamente essa dimensão: tornar novamente presente um tempo mítico original e instaurador do mundo.
A festa religiosa é comemoração mas, também, rememoração. Participar de uma festa religiosa é, assim, penetrar numa outra dimensão do tempo, penetrar no Tempo mítico e sair da vida cotidiana, “ordinária”.

O que um cristão que vai à missa católica ou a um culto protestante está fazendo é sair do tempo do dia-dia em busca de uma atividade especial, sagrada, que permite re-encontrar as origens e o significado maior da vida. Por isso as festas se repetem regularmente, de tempos em tempos; elas trazem de volta a memória do passado, tornando visível a dimensão cíclica do tempo sagrado, em que as coisas vão e voltam, em que há uma espécie de eterno retorno. Por isso também, passada a festa, é possível começar de novo, esquecendo as figuras do passado e enfrentando com ânimo novo as dificuldades da vida.

A festa revigora porque, celebrando a origem, apaga as agruras do dia-a-dia e permite renovar as esperanças no futuro. Esse constante relembrar das origens para garantir o constante recomeçar, renovar da vida só se torna possível em virtude dos mitos. Mas, afinal, o que são mitos, no sentido religioso do termo?

O mito conta uma historia sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo. Contar uma historia sagrada equivale a revelar um mistério porque os personagens do mito não são seres humanos, são deuses ou heróis civilizadores, e os homens só podem conhecê-los porque suas histórias foram “reveladas”. Uma vez revelado – assumido como tal – o mito se apresenta como verdade absoluta, inquestionável.

Narrando como as coisas vieram à existência, o homem explica-as e responde indiretamente a outra questão: por que elas vieram à existência. O porquê insere-se sempre no como. E isso ocorre em função de o mito revelar a irrupção do sagrado no mundo, causa última de toda existência real.

Nos mitos se apresentam formulações tradicionais de antiguidade quase sempre difícil de estimar. Nesse nível, os mitos são conhecimentos tribais transmitidos, através de reiteradas narrações, de uma geração a outra. Eles têm uma significação vital. Não somente representam mas também são a vida psíquica da tribo primitiva, que se desintegra e percebe instantaneamente ao perder a herança mítica, como o homem que perdeu a alma. A mitologia de um povo é sua religião viva, cuja perda é sempre e em toda parte, mesmo no caso do homem civilizado, uma catástrofe moral.

Em virtude dos mitos, o homem só se reconhece verdadeiramente homem na medida em que imita os deuses, os heróis civilizadores ou antepassados míticos. O homem religioso é alguém que se faz a si próprio, na medida em que procura imitar os deuses ou a orientação que deles provém.

Os mitos são instrumentos de crença para os que os aceitam e por eles pautam suas vidas. A crença, essencial à aceitação do mito, explica-lhe a afetividade num determinado contexto cultural. Se não há homens concretos pautando suas existências por certos significados culturais,estes se tornam coisa morta, quando muito, lembrança do passado. O próprio fato da crença supõe que, subjetivamente, isto é, para quem acredita, o objeto da crença não é mitológico.

Desse modo, embora se possa falar do “mito de Adão e Eva”, pois hoje predomina a noção cientifica da evolução homínida, para muitos Adão e Eva são realidade histórica e não uma forma simbólica de tratar da criação do mundo. Tanto é assim que, nos Estados Unidos, os crentes fundamentalistas, para quem a Bíblia deve ser entendida ao pé da letra, conseguiram garantir judicialmente que nas escolas de determinadas locais sejam ensinadas as duas teorias: a do evolucionismo e a da criação com Adão e Eva.

Para quem acredita, os mitos não são realmente mitos, no sentido de elaborações culturais, senão verdades. Portanto a não crença em determinada narrativa, tradição ou explicação é essencial a sua avaliação como mito, da mesma forma que a crença em sua avaliação como mito, da mesma forma que a crença em sua verdade e validade é essencial a sua aceitação como elemento efetivo de cultura. Não existe o mito por si mesmo.

Parece mais útil, em vez de considerar esse assunto uma falsidade, perceber que os mitos são repositórios de alguma das mais belas tentativas feitas pelos povos, em todo o decorrer da historia, para dar significado aos problemas da condição humana.
Os mitos são, portanto, uma linguagem, uma forma de interpretar a existência e, assim, sua “verdade” está na capacidade que tenham de orientar os homens em suas trilhas.


Religião e magia

E aqui chega ao aspecto crucial das religiões – todas elas operam nos momentos fundamentais em que a vida parece ameaçada, dando aos homens a força necessária para viver. E o mesmo ocorre com a magia, tornando-se estabelecer a distinção entre religião e magia.
Na religião, o indivíduo é considerado subordinado à vontade dos seres sobrenaturais. Na magia, considera-se que, sob certas condições, o individuo pode dominar e controlar as forças sobrenaturais.

Enquanto no estado religioso o individuo reconhece que seu bem-estar depende da superioridade dos poderes sobrenaturais, o mago acredita poder controlar o sobrenatural. Ele crê que tem poder sobre o poder, crença essa que é compartilhada pela comunidade à qual pertence. Se o fiel é humilde, o mago tem certa arrogância ou, pelo menos, autoconfiança.

Tanto na religião como na magia, a participação do grupo é fundamental. Trata-se de experiências coletivas, socialmente construídas e organizadas. Uma mesma visão do mundo é sempre compartilhada pelo grupo. Uma mesma visão do mundo é sempre compartilhada pelo grupo. As práticas religiosas e magia expressam e reforçam a solidariedade de cada grupo, tornando todos os seus membros conscientes da necessidade de lealdade entre si.

O sentido religioso serve, por assim dizer, para cimentar a união do grupo, que se expressa e realiza no compartilhar uma crença comum. São as atividades rituais, decorrentes do mito, que permitem essa união. É também da experiência ritual que surge com nitidez a distinção entre o sagrado e o profano. Os rituais sagrados trazem a marca do incomum, do extraordinário, do que não se deve considerar levianamente, do “fora deste mundo”.

Cria-se pelo rito, que é a atualização do mito, um clima especial, um fervor emocional. As ligações emocionais que se estabelecem através do sagrado são, portanto, diferentes das da vida profana. E as sensações que acompanham a crença no sobrenatural envolvem espanto, sentido de mistério e, às vezes, horror.

Enquanto crenças, a religião e a magia envolvem pensamento, têm a ver com a natureza simbólica do comportamento humano. O pensamento mítico não deixa de diferenciar o mundo natural do sobrenatural, mas isso não é o importante. Na magia, o sucesso ou o fracasso, a felicidade ou a desventura, a vida ou a morte, tudo se sujeita à ação de forças invisíveis. Assim, nada é “impossível”, tudo pode acontecer, poderes ocultos estão sempre prestes a agir.

Ao contrário do pensamento místico nada acontece por acaso. É por isso que muitos antropólogos afirmam que, na magia, há uma preocupação com o estabelecimento de relações que vai mais longe do que na ciência. Assim, por exemplo, se um engenheiro é capaz de explicar por que uma ponte caiu, um mago procurará explicar por que essa ponte caiu exatamente naquela hora, em cima daquelas pessoas. No pensamento mágico, tudo está ligado a tudo; tem-se um modo de explicar o mundo. O mágico acredita que se compreender as leis fundamentais que regem o mundo, é possível intervir nele, controlando-se as manifestações dos fenômenos.
As leis da magia são leis da simpatia, isto é, da afinidade entre seres e coisas. Existem dois tipos de relações simpáticas:

· Relações de contigüidade: elementos que tenham estado em contato continuam unidos após separação, isto é, mesmo à distancia continuam a agir um sobre o outro;
· Relações de similaridade: o semelhante produz o semelhante, isto é, o efeito se parece com a causa.

A essas relações acrescenta-se a de antipatia, isto é, a lei de que “o contrário age sobre seu contrário”. Essa forma de manipulação mágica utiliza a contrariedade: um ritual que atire água sobre o solo visa eliminar a seca; a destruição de uma roupa velha pode servir para abrir caminho a uma vida nova.

Em todos esses casos, a magia pressupõe que às ligações entre idéias vinculam-se relações causais entre as coisas. Por exemplo, o mago pode atuar sobre cabelos, saliva, unhas ou roupas de uma pessoa na intenção de produzir determinados efeitos sobre ela: seduzir, curar, enfeitiçar e até matar. Da mesma forma, é possível atuar sobre imagens da pessoa: uma foto, um boneco, até mesmo o nome.

Nas religiões, ao contrário da magia, o que importa é acatar a vontade divina. Os homens podem interferir nos acontecimentos, mas não diretamente. É preciso aceitar e promover a mediação dos deuses, pedir para que tenham boa vontade, agrada-los para que sejam propícios aos homens. Além do mais, as religiões fornecem a seus seguidores um código de ética, uma orientação sobre como agir no mundo de acordo com os desígnios divinos.


A Questão do sofrimento

Todo esse conjunto vasto de crenças e práticas religiosas e mágicas, ritos e mitos, é, como já afirmamos, de crucial importância para os homens em seus momentos difíceis, pois fornece um quadro explicativo sobre a natureza do universo e o sentido da vida. É exatamente nas circunstancias em que estão mais ameaçados que os homens mais recorrem aos domínios do sagrado.

Que circunstancias são essas? Basicamente, todas aquelas ligadas ao sofrimento e aos medos que ele desencadeia. Parece que aquilo que os homens menos conseguem suportar são as ameaças ao poder de compreensão, as ameaças aos significados que construímos para a vida. Na medida em que o homem só existe como tal no universo da cultura, ou seja, através dos sistemas simbólicos, todas as vezes em que estes parecem falhar se sentem atingidos pelo medo do caos: nos limites de sua capacidade de análise, nos limites de seu poder de suportar o sofrimento e nos limites de sua força moral.

Pode parecer estranho, mas os homens se sentem inquietos e amedrontados quando não conseguem compreender e explicar determinados acontecimentos. Assim, por exemplo, é mais fácil explicar uma praga ou uma seca em função da quebra de um tabu ou de um feitiço do que simplesmente admitir que não sabe o que está ocorrendo.
É mais fácil aceitar uma explicação precária ou insatisfatória para algo perturbador do que conviver com a ausência de uma explicação. O que não faz sentido é aterrador. Por isso é mais fácil acreditar, por exemplo, em demônios ou na vingança dos deuses do que ficar entregue à idéia de que as coisas acontecem por acaso.

As explicações dão aos homens a sensação de que o mundo pode ser controlado se se fizer o que é certo. Assim, por exemplo, uma avalanche, um furação, uma tempestade não deixarão de matar, mas é mais fácil aceita-los como algo que “estava escrito” do que admitir que a natureza pode ser incontrolável. O mesmo ocorre diante da maldade humana, da inveja, da vingança, da injustiça. A religião não as impede, mas fornece recursos para controlar o sofrimento que elas causam.

Da mesma maneira, a religião dá condições para suportar o sofrimento nas situações especiais de doença e luto. Isso não significa que a fé religiosa possa impedir o individuo de sofrer. O que ela faz é um pouco o inverso: torna possível enfrentar a dor, tolera-la, enfim, torna possível sofrer. Veja-se, assim, a maneira como o cristianismo lembra a seus adeptos que, se Cristo sofreu por nós sendo filho de Deus, nós também devemos ser capazes de enfrentar a dor com dignidade. Ou então, quando os espíritas invocam a lei do Carma, pela qual se recebe de volta tudo aquilo que se dá,. Bem ou mal,e,assim, tornam explicável e sofrível o sofrimento do presente.

Como ultimo ponto, o problema da injustiça remete-nos para a questão do mal. Por que os bons sofrem quando muitos maus são beneficiados pela vida? A religião não nega isso, não elimina o fato de que a dor sempre parece injusta para aquele que é afetado. O que a religião faz é construir explicações coerentes para o fato, de que “é assim mesmo”, de que “inocentes podem pagar por pecadores”.

A religião permite, mais uma vez, que a injustiça seja enfrentada, sem que a idéia de justiça caia por terra. Assim, por exemplo, quando em nossa cultura se afirma que “Deus escreve certo por linhas tortas”, o que se está fazendo é dar uma explicação que coloca a dor no plano dos desígnios divinos, de forma que uma razão de ser para ela poderá sempre ser encontrada.

A religião fornece, pois, o fio com que os homens tecem significados para situações difíceis, que, sem ele, se tornariam aterradoras e insuportáveis. Repetindo, portanto, a religião não elimina o sofrimento ma o torna suportável conferindo-lhe uma razão de ser, um SIGNIFICADO. Como dizia Riobaldo, personagem de Grande sertão: veredas, “reza é que sara da loucura”.




INTRODUÇÃO:
AS RELIGIÕES NO BRASIL
CONTEPORÂNEO



Antonio Flavio Pierucci
E Reginaldo Prandi



A religião católica sempre foi majoritária e homogênea no Brasil. Reúne ainda hoje três quartos da população adulta. Entre os católicos, a maioria continua sendo constituída de católicos tradicionais, incluindo tanto os que freqüentam a igreja de modo esporádico, geralmente em ocasiões especiais, como batizado, casamento e cerimônias funerárias, como os que tem freqüência regular aos serviços religiosos, especialmente a missa, mas que não se envolvem em movimentos de renovação ou agremiações que propõem diferentes modelos de reavivamento da vida católica. Do catolicismo tradicional fazem parte também muitas praticas populares de devoção aos santos, de promessas, milagres e peregrinações a santuários, como os de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, na cidade de Aparecida, Estado de São Paulo; o de São Judas Tadeu, em São Paulo; o de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará; as peregrinações a Juazeiro do Norte, na Bahia; de Padre Cícero, no Ceará, e muitas outras.
Porém a maioria dos católicos tradicionais mantém a religião apenas como identidade social, indo à igreja somente para os ritos de passagem. Os católicos tradicionais representam 61% do total dos brasileiros adultos.

Se por um lado, a maioria católica é formada de católicos tradicionais, há por outro lado uma fatia significativa de 14% de brasileiros que vivem o catolicismo a partir de orientação pessoal por uma das diferentes modalidades de internalização ou engajamento. São os católicos das Comunidades Eclesiais de Base. Do Movimento de Renovação Caristámica Católica, das Equipes de Nossa Senhora, dos Encontros de Casais com Cristo, dos Grupos de Jovens, da Comunhão e Libertação e um sem números de movimentos e associações de caráter regional e local, de pastorais coletivas e de organizações de culto. Diferem dos católicos tradicionais sobretudo em virtude do fato de que para eles a religião é uma escolha, em que os valores e atitudes desejados são explicitados e enfatizados. A adesão a esses movimentos implica a idéia de conversão, de reorientação religiosa. Os tradicionais apenas seguem a religião na qual foram criados.

Desse leque católico, interessa sobretudo chamar a atenção para dois movimentos.
As CEBs, movimento formado no curso dos anos 1960 até os de 1970 e hoje em visível declínio, reúnem ainda 2% do total, perto de dois milhões de adeptos. Caracterizam-se por valorização da vivencia religiosa que enfatiza os interesses coletivos das classes sociais desfavorecidas, a famosa “opção pelos pobres”. Acreditam na participação militante dos católicos no mundo, de modo a promover a transformação material da sociedade, que consideram socialmente injusta. Atribuem por isso menos importância à esfera da vida íntima como espaço privilegiado da religião. Por sua politizada concepção de mundo, as CEBs têm estado associadas aos mais deferentes movimentos sociais de reivindicação e de construção de identidades no campo e na cidade, muito próximas dos partidos políticos de esquerda, sobretudo o Partido dos Trabalhadores e, em menor grau, o Partido Comunista do Brasil, tendo-se mostrado eficientes na “produção de militantes”, ou seja, na formação de lideranças comunitárias e partidárias de esquerda. Representantes mais avançados do catolicismo fundado na Teologia da Libertação, esses católicos formam contingentes que atingem 3% em Estados como Paraná, Bahia e Ceará.

O movimento de Renovação Carismática Católica, nascido em Pittsburgh, nos Estados Unidos, no final dos anos 1960 e logo transplantado para o Brasil, alcança presentemente 4% da população do país. Os carismáticos, ao contrário dos católicos das CEBs, centram a vida religiosa na esfera da intimidade, desenvolvem acentuado controle moral no âmbito da família, dos costumes e da sexualidade, desinteressam-se completamente dos problemas de caráter coletivo, e, por conseguinte, da militância política. Dão grande importância aos dons do Espírito Santo, sobretudo à xenoglossia – o dom de falar línguas desconhecidas, quando o Espírito Santo se manifesta nos fiéis em transes coletivos, numa reprodução do episódio bíblico da manifestação do Espírito Santo aos apóstolos no dia de Pentecostes – e o dom da cura divina, o que os aproxima bastante dos evangélicos pentecostais. Marcam porém, e fortemente, sua identidade católica, ao acentuarem a devoção a Nossa Senhora, o apego à Eucaristia e a fidelidade ao Papa. A Renovação Carismática pode ser considerada um movimento de dupla reação: para dentro do catolicismo, opõe-se frontalmente aos católicos da Teologia da Libertação: para fora, compete com os evangélicos pentecostais na disputa pelos conversos desejosos de experiência religiosa sensível, de maior imanência do sagrado (Prandi, 1992).

Dentre as diferentes modalidades religiosas no Brasil de hoje, o movimento carismático é o mais fortemente feminino: nele as mulheres perfazem nada menos que 70% dos adeptos. As mulheres também são majoritárias nas CEBs (57%), como aliás em todas as formas de filiação religiosa. Os homens são maioria somente nos dois extremos do quadro religioso brasileiro: entre os católicos tradicionais (53%) e os que se declaram sem religião (64%). O movimento carismático caracteriza-se pela extração de classe média de seus seguidores, enquanto as CEBs são formadas sobretudo por indivíduos de classes mais baixas.

Os evangélicos totalizam 13% da população, cerca de treze milhões de brasileiros. São normalmente classificados em dois grandes ramos: os protestantes históricos e os pentecostais.

Os protestantes históricos são representados pelas igrejas reformadas de origem européia e norte-americana, instaladas no Brasil desde o século passado. Estão completamente enraizados na sociedade brasileira, caracterizando-se hoje por baixo grau de proselitismo, reproduzindo-se tradicionalmente de geração em geração. Suas principais denominações são: Luterana, Batista, Presbiteriana, Metodista, Episcopal e Congregacional, denominações que, na prática, podem resultar em muitas outras subdivisões. Os evangélicos históricos perfazem hoje 3% da população, alcançando cifras maiores nos Estados do Rio Grande do Sul (7%) e Rio de Janeiro (6%).

Os evangélicos pentecostais tiveram sua origem no reavivamento do protestantismo nos Estados Unidos, caracterizando-se por incansável exercício de conversão dos mais pobres e desamparados. Dos pentecostais, 33% são muito pobres, com renda familiar de até duzentos dólares. A taxa de 8% de desempregados entre os pentecostais está acima da média nacional de 6%, enquanto a taxa de ocupados como trabalhadores por conta própria irregulares – os que vivem de bicos e biscates, componentes da parcela marginal de trabalhadores – chega a 27%, quando a taxa nacional é de 19%. A proporção de analfabetos é bem mais alta entre os pentecostais que entre todos os brasileiros. Esses são indicadores inequívocos de condições sociais que contribuem muito para tornar homens e mulheres incapazes de organizar a própria vida, obrigando-os a buscar lideranças e instituições que se disponham a fazer isso por eles, quer como uma dádiva, com os que estiveram por tanto tempo familiarizados na sociedade brasileira tradicional, quer como aprendizado de uma disciplina de si que os capacite a melhorar de vida.

Os pentecostais têm o culto bastante centrado no apelo emocional, sobretudo no dom das línguas, ou xenoglossia, e no dom de cura. As principais denominações pentecostais de origem estrangeira são a Congregação Cristã no Brasil, a Assembléia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular. A partir de 1970, o pentecostalismo deu origem a diversas denominações constituídas já em solo brasileiro, com ênfase cada vez mais forte no dom da cura, e por isso denominadas pentecostalismo de cura divina. Mais recentemente surgiram as igrejas agora chamadas de neopentecostais (Mariano, 1996). De modo geral, especializaram-se no uso da televisão, voltaram o culto para as massas, em grandes espaços, centrando-o enfaticamente nos exorcismos, pregando e difundindo a Teologia da Prosperidade, originada nos Estados Unidos, onde é chamada HEALTH AND WEALTH GOSPEL, que valoriza a prosperidade e reabilita eticamente o dinheiro e os ganhos materiais. As principais igrejas formadas em solo brasileiro são : O Brasil para Cristo, bastante antiga e considerada uma igreja de transição, Casa da Benção, Nova Vida, Deus é Amor, Igreja Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça Divina e Renascer em Cristo. Essas denominações maiores cindiram-se e continuam a cindir-se em um grande número de igrejas pequenas. Entre os pentecostais, o mal é sempre visto como obra do demônio, adotando por isso as igrejas de formação mais recente o exorcismo, o exercício recorrente da vexação e expulsão dos demônios, que identificam com divindades e espíritos das religiões afro-brasileiras. Os pentecostais insistem na permanência de seus adeptos longe da política, fazem propaganda contra partidos e candidatos de esquerda, mas elegem deputados pastores que procuram, pelos mais diferentes meios, ganhar espaço para o Evangelho, o que na prática significa vantagens e privilégios para as suas igrejas, que eles consideram discriminadas negativamente em um país de cultura católica (Pierucci, 1989; Mariano e Pierucci, 1992).

Os espíritas seguem a religião do francês Alan Kardec, introduzida no Brasil no final do século XVIII e que desde então tem exercido grande fascínio sobre camadas médias urbanas. Representam hoje considerável contingente de 3% dos brasileiros. Cerca de três milhões de brasileiros são espíritas de mesa branca. Valorizam o progresso espiritual e intelectual do individuo, estimulando a mobilidade social por meio da escolarização. Dão grande importância ao trabalho assistencial aos desvalidos de toda sorte. Mostram grande capacidade de organização burocrática e forte apego a um tipo de literatura religiosa amplamente produzida, através da psicografia, pelos espíritos de mortos ilustrados.

Os Kardecistas se destacam dentre todos os grupos religiosos pela sua elevada escolaridade: 35% de seus adeptos tem segundo grau e nada menos que 25% tem curso superior. Suas mais altas concentrações estatísticas verificam-se na cidade de São Paulo (8%) e Rio de Janeiro (8%). Mais da metade dos Kardecistas, alias, encontra-se nas capitais e regiões metropolitanas (53%), outros 36% em cidades grandes e médias e apenas 11% residem em cidades pequenas do interior – cidades que somam 33,5% da população brasileira, o que reforça sua característica de religião urbana.

Abrangendo perto de um milhão e meio de brasileiros adultos, as religiões afro-brasileiras são formadas primeiramente pelas religiões tradicionais de origem africana, com 0,5% da população, as quais recebem nomes regionais: candomblé na Bahia, no Rio de Janeiro e, agora, em São Paulo e nas demais regiões do país por onde se tem disseminado nos últimos vinte anos; Xangô em Pernambuco e Estados vizinhos; tambor de mina no Maranhão e nos Estados da região amazônica; Batuque no sul do país. Até os anos 1960, as religiões tradicionais afro-brasileiras estavam circunscritas às populações negras como religiões étnicas, perdendo aos poucos esse caráter para se constituir em religiões universais, abertas a todos, desde os mais pobres até segmentos das classes médias e altas urbanas. Abertas a todos, sobretudo aos metropolitanos de todo tipo e classe, mas sem distinção racial. Conforme esperado, a maior concentração de seguidores desse grupo religioso encontra-se em Salvador, a chamada Roma Negra, capital da Bahia, com uma taxa de 2%. Embora os números das religiões tradicionais sejam relativamente pequenos, sua profunda penetração na cultura nacional lhes dá grande visibilidade na cena religiosa brasileira.

Outro importante ramo das religiões afro-brasileiras é a Umbanda, nascida no Sudeste nos anos 1930, resultante do contato entre o espiritismo Kardecista e o candomblé. Rapidamente espalhada por todo o pais, hoje reunindo 1% dos brasileiros, a umbanda guarda características de suas religiões fundamentais, sendo desde logo uma religião que mantém em torno de si vasta clientela que a procura para soluções de problemas de saúde, emprego, família, vida afetiva etc., soluções que são buscadas através de oferendas propiciatórias às divindades.

As religiões afro-brasileiras, de ritual bastante complexo, desenvolveram pouco ou nada uma orientação para o comportamento baseada num código de ética, em que a medida de justiça. De bem e de mal esteja em conformidade com critérios universalistas e de bem estar geral da coletividade. Ao contrário, as noções de certo e errado pautam-se pelas relações entre cada fiel e a divindade que o protege, e o mundo é entendido como um campo de conflitos e enfrentamentos no qual o fiel deve procurar sua realização pessoal (Prandi, 1991). Enquanto o kardecismo toma como ideal de sabedoria o individuo que logrou desenvolver-se intelectualmente por meio da escola, alcançando posto elevado na escala das profissões liberais, artes e ciências, as religiões afro-brasileiras valorizam sobremaneira a sabedoria que decorre da própria vivencia, glorificando a senioridade dos que vencem por esforço próprio a partir da experiência concreta da vida e que se destacam na luta pela realização dos sonhos inerentes a todos os que partilham a existência terrena. As religiões afro-brasileiras valorizam o bravo, o experiente, o realizador, o vencedor, mas ainda sofrem com o peso de sua herança da sociedade escravista patriarcal, fazendo com que a valorização da dádiva e o apego ao clientelismo se mostrem ainda presentes e fortes.

As religiões afro-brasileiras representam apenas 1,5% dos brasileiros, mas chegam à proporção de 4% na cidade de São Paulo e de 5% na cidade do Rio de Janeiro, mostrando-se bastante expressivas e especialmente visíveis nesses dois cenários particularmente importantes da vida pública brasileira. São religiões tipicamente urbanas, melhor dizendo, metropolitanas. O candomblé é ainda mais marcadamente metropolitana do que a umbanda (74% contra 69%).

Ao falar de religiões afro-brasileiras, é inevitável tocar na questão racial, na cor de seus adeptos. Quando aqui se diz que elas são hoje, e cada vez mais, propostas religiosas “para todos”, estamos enfatizando o fato de que é bem alta entre esses grupos religiosos a participação de brasileiros brancos. Mais da metade dos fiéis dos cultos afro-brasileiros são brancos (51%). Na vertente umbandista, a proporção de brancos é ainda maior: 56%, numero semelhante ao encontrado nas CEBs (56%), nos evangélicos (56%) e nos sem religião (57%) – taxas ligeiramente inferior à de brancos no conjunto da população (59%).

Ocorre, por outro lado, que a participação dos pretos (blacks), que é de apenas 8% da população, sobe para 15% entre os umbandistas e para 24% entre os seguidores do candomblé, o que obviamente faz subir para 18% a proporção de pretos no conjunto dos cultos afro-brasileiros. Por conseguinte, a cor, ainda hoje, constitui traço sensível na composição dos grupos religiosos afro-brasileiros (sobretudo nos Estados do Nordeste, onde se originaram). Em se tratando porém dos “pardos” ou mulatos, é maior sua presença entre os pentecostais (34%) e os católicos das CEBs (34%), do que entre os afro-brasileiros (29%). Assim, se agora somarmos pardos e pretos (os não-brancos), vamos descobrir que vão atingir a casa dos 45% entre os pentecostais, taxa superior à observada entre os umbandistas, que é de 42%, a qual, por sua vez, é muito próxima da taxa de pretos e pardos nas CEBs católicas: (42%). No candomblé, todavia, a proporção sobe para 57%, o que representa forte contraste em relação ao total da população, no qual a participação de pretos e pardos se encontra na casa dos 40%.

Restam 2% formados de adeptos de um conjunto muito diversificado de religiões que não se classificam nos grandes grupos acima enumerados: Judaísmo, Budismo, Adventista, Testemunhas de Jeová, Mórmons, Seicho-no-eê, Perfst Liberty, Igreja Messiânica, Santo Daime e União do Vegetal, além de seitas de práticas esotéricas e várias outras. Difícil tratar aqui de agregado tão heteróclito. Resta chamar a atenção para dados curiosos, como, por exemplo, sua maior concentração na cidade de Salvador, onde a taxa global dessas outras religiões dobra para 4%.

Vale a pena determo-nos um pouco no grupo dos “sem religião”. Eles são 5%, cerca de cinco milhões. Pelo menos em três grandes capitais sua presença é bem marcada: 6% na cidade de São Paulo, 7% em Salvador e 11% no Rio de Janeiro. Este último dado – mais de um décimo dos cariocas não tem religião – é realmente impressionante. É no Rio de Janeiro que vamos encontrar a população mais laicizada, a mais pluralista em termos religiosos, a menos católica te todo o país.

Ainda dos “sem religião” pode-se dizer que são o grupo mais masculino; que nada menos do que 17% têm instrução universitária: que 26% são jovens entre 18 e 24 anos; que 50% deles são metropolitanos; que sua taxa de ocupação (72%) é das mais altas do país; e, finalmente, que a quantidade de “sem religião” com renda familiar acima de dois mil dólares é o dobro do verificado para o total de brasileiros (6%).

Essas diferentes religiões que se reproduzem no Brasil de hoje podem ser vistas como múltiplas fontes de legitimação as sociedade brasileira e como distintas agências de orientação para a vida quotidiana, sobretudo para imensas parcelas de homens e mulheres marginalizados no curso das mudanças sociais e desertados de sua religião tradicional, o catolicismo, que foi ficando cada vez mais desinteressado de oferecer orientação para a vida quotidiana, sofrendo profundo esvaziamento axiológico, (para dentro de si). Elas se dispõem num amplo e variado mercado religioso, com seus distintos planos que enfocam diferentemente muitas soluções possíveis para o conflito da difícil arte de viver, especialmente quando pouco de realmente significativo para a vida o progresso material, cientifico, intelectual foi capaz de oferecer a essa grande maioria de homens e mulheres.

Considerando-se as características dessas alternativas religiosas que têm tido tão forte apelo junto às massas, pode-se imaginar que o reavivamento da crença religiosa tão vigorosa no Brasil de hoje, ao lidar crucialmente com as questões mais candentes da vida quotidiana em sociedade e da vida privada dos indivíduos, acaba tendo conseqüências no próprio mundo da política. Essas religiões populares podem, certamente, trazer as populações de adeptos para mais perto do sagrado e da magia e os levar, simultaneamente, para mais longe da política.

De fato, as comunidades Eclesiais de Base, que marcaram forte presença no espaço da política, estão em refluxo. No interior do mesmo catolicismo, o Movimento de Renovação Carismática Católica agora se espalha velozmente, usando técnicas e conteúdos doutrinários do pentecostalismo, reintroduzindo o milagre, a preocupação centrada no indivíduo e reinaugurando em grande estilo, uma vez que agora fica disponível para as massas católicas, a valorização do êxtase religioso. O transe do Espírito Santo já é bem comum no interior das igrejas catedrais católicas. Com a generalização do transe – afro-brasileiro, pentecostal, católico carismático – há agora uma ampla variedade de escolhas religiosas que praticam o rito da supressão temporária da identidade para dar lugar à manifestação de deuses, entidades e forças sagradas: orixás, vodus, inquices, caboclos, pretos-velhos, ciganas, pomba giras, exus, boiadeiros, marinheiros, mestres da jurema, espíritos de luz, desencarnados em geral e o Espírito Santo. A expressão máxima do homem não é mais a sua consciência, o ideal religioso prega a negação da identidade como meio para alcançar a experiência de sentido mais profundo.

Fora das CEBs, nenhuma destas modalidades religiosas se propõe a transformar o mundo. O pentecostalismo de cura divina que se alastra pelo Brasil, muito diferente da matriz original protestante desencantada, recolocou em seu antigo lugar a importância da magia e quer a transformação moral do indivíduo isolado no interior da comunidade religiosa, em que ele vigia e é vigiado. Os afro-brasileiros querem o individuo inserido no mundo, mas para tirar dele todo o proveito que possa significar a sua auto-realização, que reafirma o poder da divindade, pelo aumento do axé, a força mágica que move o mundo, na concepção afro-brasileira, numa luta diária contra as adversidades da vida, em que o adepto pode contar fartamente com fórmulas rituais de manipulação de forças sobrenaturais. Os católicos carismáticos apostam numa transcendência imediata, muito diferente da grande e distante transcendência das comunidades de base da teologia da Libertação. Eles crêem na cura pela imposição das mãos, no contato direto com o sagrado, através dos dons do Espírito Santo, abandonando completamente qualquer dos velhos ideais de solidariedade fundados na “opção preferencial pelos pobres” do catolicismo dos anos 1960 e 1970.

Parece assim que a religião no Brasil não só reaviva, mas o faz reassumindo formas que pareciam estar em final de processo de esgotamento, pelo qual caberia à religião modernizada (desmagieizada, desencantada), especialmente, manter e renovar a confiança do ser humano na providencia divina, como garantia ao homem de que ele não está só, embora deva sempre agir neste mundo por si só, sem ter de solicitar com freqüência a interferência de Deus. Mas, ao contrário, a presença dessas religiões populares que apelam constantemente no sentido da intervenção sobrenatural nas coisas deste mundo dá a idéia de que o desencantamento da sociedade, como processo irreversível de mudança sociocultural de abandono da magia (e que nem mesmo teria chegado ainda a muitos setores da nossa sociedade), esta posto em questão. Pois tudo indica que a Igreja Católica percebeu essa inesperada tendência do mundo atual, oferecendo-se aos carismáticos, adotando-os ainda que às vezes de má vontade, para se manter na disputa pelas almas com evangélicos e afro-brasileiros: com os carismáticos a Igreja Católica volta ao êxtase místico, assume a incorporação do Espírito Santo, que apaga momentaneamente a consciência e adere ao milagre na sua forma mais tradicional.

Na verdade, é a própria sociedade que tem se mostrado incapaz de solucionar graves problemas de sua constituição. Tão graves que ela é obrigada a se valer dessa multiplicidade religiosa que leva para longe da vida política e para perto da magia a possibilidade de encontrar respostas para toda sorte de problemas que afligem a população. Por não termos completado a formação de uma sociabilidade capaz de instrumentalizar a participação na vida pública independentemente da construção da identidade e dos mecanismos de representação pela via religiosa de estilo tradicional, as religiões de conteúdos éticos vazios ou acanhados, mas de repertórios mágicos robustos, acabam se mostrando bastante aptas a florescer nessa sociedade problemática, atrasada e sem muitas esperanças confiáveis.

O sucesso da religião e a crise da sociedade urbana, racional, moderna são, assim, faces da mesma moeda, cuja medida é a própria crise da razão. Essas religiões que trabalham o mundo buscando seu reencantamento esbarram, contudo, no fato de que a sociedade, por mais frágil que se encontre, já incorporou, por assim dizer, os elementos fundamentais da modernidade, de tal modo que é impossível pensá-la desprovida de todo o aparelhamento cientifico e racional que a sustenta. Mesmo do ponto de vista das populações, vastos segmentos têm no pensamento moderno não religioso a base da sua experiência de vida. Alem dos segmentos pobres que por várias razões se mostram pouco afetos ao apelo religioso, as classes altas e as camadas médias, sobremaneira escolarizadas, enquanto “representantes” do mundo desencantado, ainda que eventualmente possam fazer uso dos serviços prestados pela religião, como um serviço de utilidade tópica, constituem um limite social à propagação da religião não racionalizada além de um determinado ponto, cujo lugar, a rigor, está ainda para ser desvendado. Conhecer esse limite pode significar, também, a compreensão da força política dessas religiões. Conhecer melhor as religiões, por sua vez, talvez nos permita conhecer melhor esse homem e essa mulher que habitam, solitariamente, a imensidão da cidade brasileira desconhecida e amedrontada.

Neste variadíssimo quadro de alternativas e possibilidades, move-se o converso com uma legitimidade que talvez nunca tenha tido antes; hoje qualquer um se sente com direito de abraçar a religião que melhor lhe convém, ou não abraçar nenhuma. Mais que isso, a conversão não é uma adesão definitiva e permanente. Pode-se trocar de religião tantas vezes quantas necessário for. O transito de uma religião para outra é intenso, o que pode obrigar religiões antagônicas a reconhecerem umas às outras como religião, ainda que esse reconhecimento implique a idéias de que a outra representa o mal a ser desfeito e combatido. A disputa religiosa no Brasil de hoje, às vezes com agressões e enfrentamentos com violência física (caso dos ataques de evangélicos a afro-brasileiros ocorridos no Rio de Janeiro), dá-se entre grupos que poderiam facilmente intercambiar seus participantes. Nesse jogo de negações vai-se construindo um reconhecimento e identidades múltiplas que povoam a cultura de um alargamento da sacralidade jamais conhecido pelo mundo contemporâneo.



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Antonio Flavio Pierucci e Reginaldo Prandi, introdução:as religiões no Brasil contemporâneo

Dom Jorge, O renascimento da Religião