segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA DE JESUS.

O Verbo Eterno se fez homem “Vim trazer o fogo à Terra; e o que desejo senão que ele se inflame?” (Lc 12, 49) OS JUDEUS CELEBRAVAM uma festa chamada “Dia do Fogo” em memória do fogo com que Neemias consumou a vítima oferecida a Deus, quando ele voltou com seus compatriotas do cativeiro da Babilônia. A festa do Natal deveria também, e com muito mais razão, chamar-se “Dia do Fogo”, porque nesse dia um Deus veio ao mundo sob a forma de uma criancinha para atear o fogo do amor no coração dos homens. “Vim trazer o fogo à Terra”, disse Jesus Cristo, e o trouxe de fato. Antes da vinda do Messias, quem amava a Deus sobre a Terra? Ele era apenas conhecido numa pequena região do mundo, isto é, na Judeia; e mesmo lá, quão poucos eram os que o amavam no tempo da sua vinda! No resto da Terra, uns adoravam o sol, outros os animais, as pedras ou criaturas mais vis ainda. Mas, depois da vinda de Jesus Cristo, o nome de Deus se espalhou por toda parte e foi amado por muitos. Desde então os corações abrasaram-se das chamas do divino amor, e Deus foi mais amado em poucos anos do que nos quatro mil aos que decorreram depois da criação. Muitos cristãos costumam preparar com bastante antecedência em suas casas um presépio para representar o nascimento de Jesus Cristo. Mas há poucos que pensam em preparar seus corações, a fim que o Menino Jesus possa neles nascer e repousar. Sejamos nós desse pequeno número: procuremos dispor-nos dignamente para arder desse fogo divino, que torna as almas contentes neste mundo e felizes no Céu. Consideremos o Verbo Eterno de Deus que se fez homem para inflamar-nos com seu divino amor. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe que nos iluminem sobre tal mistério, e comecemos. Mistério da Encarnação: o milagre dos milagres — milagre incompreensível! PECA NOSSO PAI, ADÃO. Ingrato para com Deus, do qual recebera tantos benefícios, revolta-se contra Ele e transgride a sua lei comendo do fruto proibido. Em consequência Deus vê-se obrigado a expulsar imediatamente o homem do paraíso terrestre e a privá-lo e a seus descendentes, no futuro, do paraíso celeste e eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Ei-los pois condenados a uma vida de sofrimentos e de misérias, e excluídos para sempre do Céu. Mas também, para expressarmos à maneira de Isaías, eis que Deus parece afligir-se e queixar-se. E agora, diz Ele, que me resta no paraíso, já que perdi os homens, nos quais encontrava as minhas delícias? Mas, meu Deus, Vós que possuis no Céu tão grande multidão de serafins e outros anjos, como podeis sentir tão vivamente a perda dos homens? Vossa felicidade não é perfeita sem eles? Sempre fostes e sempre sois feliz em Vós mesmo. Que pode pois faltar à vossa felicidade, que é infinita? Tudo isso é verdade, responde o Senhor, como o imagina dizer o Cardeal Hugo, explicando o texto citado de Isaías; tudo isso é verdade, mas, perdendo o homem, penso que perdi tudo, que nada mais me resta; as minhas delícias consistiam estar com os homens, e eu os perdi; ei-los condenados a viverem longe de mim para sempre!... Sacrifício do Inocente para salvar o pecador Mas como pode Deus dizer que os homens são as suas delícias? — Ah!, responde Santo Tomás, é que Deus ama o homem, como se o homem fosse seu Deus, e como se não pudesse ser feliz sem o homem. São Dionísio acrescenta que, devido ao amor que tem aos homens, Deus parece fora de si mesmo. Há um provérbio que diz que o amor põe fora de si aquele que ama: Amor extra se rapit. Não, disse Deus, não quero perder os homens; haja um Redentor que satisfaça por eles à minha justiça, e os resgate das mãos de seus inimigos e da morte eterna que mereceram... Aqui São Bernardo, contemplando esse mistério, julga ver uma contenda entre a Justiça e a Misericórdia de Deus. — Estou perdida, diz a Justiça, se Adão não for punido. — Estou perdida, diz por sua vez a Misericórdia, se o homem não obtiver perdão. O Senhor põe fim a essa contenda:“Morra um inocente, diz ele, e salve-se o homem da pena de morte, em que incorreu”. Na Terra não havia esse inocente. Então, disse o Padre Eterno, já que entre os homens não há quem possa satisfazer a minha justiça, qual dos habitantes do Céu descerá para resgatar a humanidade? Os anjos, os querubins, os serafins, todos se calam, ninguém responde. Só responde o Verbo Eterno e diz: — Eis-me aqui, mandai-me. Meu Pai, uma pura criatura, um anjo, não poderia oferecer a Vós, Majestade infinita, uma digna satisfação pela ofensa recebida do homem. E mesmo que vos quisésseis contentar com uma tal reparação, pensai que até esta hora nem os nossos benefícios, nem as nossas promessas e ameaças puderam decidir o homem a amar-nos. É que ele não sabe ainda a que ponto o amamos; se quisermos obrigá-lo a amar-vos infalivelmente, eis a mais bela ocasião que possamos ter: eu, vosso unigênito Filho, encarregar-me-ei de resgatar o homem perdido, descerei à Terra, tomarei um corpo humano, morrerei para pagar a pena que ele deve à vossa justiça; esta será assim plenamente satisfeita e o homem se persuadirá do nosso amor para com ele. — Mas, pensa, meu Filho, responde o Padre Eterno; pensa que, se te encarregares de satisfazer pelo homem, terás de levar uma vida cheia de trabalhos e dores. — Não importa, eis-me, mandai-me... — Pensa que terás de nascer numa gruta, que será estábulo de animais; que depois terás de fugir para o Egito a fim de escapar das mãos desses mesmos homens que procurarão, desde a infância, tirar-te a vida. — Não importa, mandai-me... — Pensa que, voltando do Egito, terás de levar vida extremamente penosa e abjeta como auxiliar de um pobre artífice. — Não importa, mandai-me... — Pensa enfim que, quando apareceres em público para pregar tua doutrina e te manifestar ao mundo, terás sim discípulos, mas serão pouquíssimos; a maior parte dos homens te desprezará, te tratará de impostor, de mago, insensato, samaritano e não deixará de perseguir-te, enquanto não te fizer morrer nos mais ignominiosos tormentos e suspenso num patíbulo infame. — Não importa, mandai-me... Lavrado o decreto de que o Filho de Deus se faria homem para ser o Redentor do gênero humano, o arcanjo Gabriel foi enviado a Maria. A humilde Virgem consente em tornar-se a Mãe de Deus e o Verbo Eterno se faz carne. Eis pois Jesus no seio de Maria; e entrando no mundo, Ele diz com a mais profunda humildade e inteira obediência: — Meu Pai, já que os homens não podem aplacar vossa justiça por suas obras nem por seus sacrifícios, eis-me aqui, o vosso Filho unigênito, revestido da carne humana, e pronto a expiar as faltas humanas por meus sofrimentos e por minha morte. Assim o faz falar São Paulo: Entrando no mundo, diz: Não quiseste hóstia, nem oblação, mas me formaste um corpo... E eu disse: Eis-me que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade (Hb 10,5). Assim, pois, por nós míseros vermes e para ganhar o nosso amor, é que Deus quis fazer-se homem. Sim, isso é de fé, como a Santa Igreja o proclama: “Por nossa causa e para nos salvar, Ele desceu do Céu..., diz ela, e se fez homem”. Sim, um Deus fez isso para nos obrigar a amá-lo. Encarnação do Verbo de Deus revela a divina bondade Quando Alexandre Magno venceu a Dario e se apoderou da Pérsia, para cativar o afeto daqueles povos, se vestiu à moda deles. O nosso Deus empregou, de certo modo, o mesmo meio para cativar os corações dos homens: tomou a sua semelhança e mostrou-se ao mundo feito homem. Quis assim manifestar até aonde ia o seu amor a nós: O amor de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens (Tt 2,11). O homem não me ama, parece dizer o Senhor, porque não me vê; vou mostrar-me a ele e conversar com ele, e assim me fazer amar. Ele foi visto sobre a Terra, disse o profeta, e viveu familiarmente com os homens (Br 3,38). O amor de Deus pelo homem é imenso, e o foi desde a eternidade: Eu te amei com amor eterno, diz-nos Ele, e por misericórdia te tirei do nada (Jr 31,3). Mas esse amor não se manifestara em toda a sua incompreensível grandeza. Apareceu realmente quando o Filho de Deus se fez ver sob a forma de uma criança reclinada sobre palha num estábulo. Foi então que, como diz o Apóstolo, se manifestou a bondade, a ternura, ou, segundo o texto grego, o amor singular do nosso Deus Salvador aos homens (Tt 3,4). Deus já havia mostrado o seu poder criando o mundo, observa São Bernardo, e sua sabedoria governando-o. Na encarnação do Verbo, porém, manifestou a grandeza de sua misericórdia. Antes que Deus aparecesse sobre a Terra revestido da natureza humana, continua o mesmo Santo, os homens não podiam fazer-se uma justa idéia da bondade divina. Por isso Ele se encarnou a fim de descobrir aos homens toda a extensão de sua bondade. . E de que outro modo poderia o Senhor provar ao homem ingrato a sua bondade e amor? Desprezando a Deus, diz São Fulgêncio, o homem separara-se dele para sempre. Mas não podendo mais o homem voltar-se para Deus, o Senhor veio procurá-lo sobre a Terra. Santo Agostinho havia já expressado o mesmo pensamento:“Como não podíamos ir ao nosso celeste médico, ele dignou-se vir a nós”. De diversos modos, diz São Leão, havia Deus beneficiado o homem. Jamais, porém, manifestou melhor o excesso de sua bondade para conosco do que enviando seu unigênito Filho para nos resgatar, ensinar o caminho da salvação e proporcionar a vida da graça. Então, assim se expressa o santo, “Ele saiu dos limites ordinários de sua ternura, quando, na pessoa de Jesus Cristo, a Misericórdia desceu aos pecadores, a Verdade se apresentou aos desviados, e a Vida veio em socorro dos que estavam mortos”. Santo Tomás pergunta por que a Encarnação do Verbo se diz obra do Espírito Santo: Et incarnatus est de Spiritu Sancto. É certo que todas as obras de Deus chamadas pelos teólogos Opera ad extra, isto é, que têm por objeto as criaturas, pertencem às três pessoas divinas. Por que então a Encarnação é atribuída só ao Espírito Santo? A principal razão, alegada pelo Doutor Angélico, é que todas as obras do amor divino são atribuídas ao Espírito Santo, que é o amor substancial do Pai e do Filho; ora, a obra da Encarnação foi o puro efeito do amor imenso que Deus tem para com o homem. Isso quis significar o profeta dizendo que Deus viria ao lado do meio-dia, expressão que designa, segundo o Abade Ruperto, o grande amor de Deus para conosco. Também Santo Agostinho afirma que o Verbo Eterno veio ao mundo, principalmente para que o homem soubesse quanto Deus o ama. E, segundo São Lourenço Justiniano, “Jamais Deus fez resplandecer aos olhos dos homens a sua adorável caridade, como quando se fez homem”. Porém o que mais faz conhecer o amor divino para com o gênero humano, é que o Filho de Deus veio buscá-lo, quando este dele fugia. É a isso que alude o Apóstolo quando diz referindo-se ao Verbo divino: Não tomou a natureza dos anjos, e sim a carne dos filhos de Abraão. A palavra apprehendit empregada aqui, observa São João Crisóstomo, significa que ele se apoderou do homem à maneira de quem persegue um fugitivo a quem deseja prender. Sim, Deus desceu do Céu como para prender o homem ingrato que dele fugia, como se lhe dissesse: “Homem, vê quanto te amo; desci do Céu à Terra expressamente para te buscar. Por que foges de mim? Pára, ama-me; não fujas mais de mim que tanto te amo”. De Criador, criatura enquanto natureza humana, nascida de uma criatura Deus veio pois procurar o homem perdido; e a fim de melhor lhe testemunhar o seu amor e movê-lo a amar enfim Aquele que tanto o tinha amado, o Senhor quis, ao manifestar-se-lhe pela primeira vez, aparecer sob a forma de uma tenra criancinha reclinada sobre a palha. “Felizes palhas, mais belas do que as rosas e os lírios!, exclama São Pedro Crisólogo; Que terra afortunada vos produziu? E que felicidade é a vossa por haverdes servido de leito ao Rei dos Céus! Ah!,continua o Santo, sois bem frias para Jesus, porque não podeis acalentá-lo na gruta úmida, onde Ele tirita de frio; mas sois para nós fogo e chama, pois que acendeis em nossos corações um incêndio de amor que todas as águas dos rios não poderiam apagar”. Não bastou ao amor divino, diz Santo Agostinho, ter feito o homem à sua imagem, quando criou nosso primeiro pai Adão; quis fazer-se à nossa imagem para resgatar-nos. Adão comeu do fruto proibido por instigação da serpente, que dissera a Eva que lhe bastaria provar desse fruto para se tornar semelhante a Deus, quanto à ciência do bem e do mal. Eis por que o Senhor disse então:“Adão se fez como um de nós” (Gn 3,22). Deus falava assim por ironia, e para censurar a Adão a sua temeridade; “Mas nós, observa Ricardo de São Vítor, depois da Encarnação do Verbo, podemos dizer em verdade: Eis que Deus se fez como um de nós”. “Considera esse prodígio, ó homem”, exclama Santo Agostinho: “O teu Deus se fez teu irmão”, tornou-se semelhante a ti; fez-se filho de Adão como tu, revestiu-se da mesma carne, tornou-se passível e mortal como tu. Podia tomar a natureza angélica. Mas não, preferiu unir-se à tua própria carne, a fim de satisfazer à justiça divina com uma carne vinda de Adão pecador, embora isenta de seu pecado. E disso se gloriava chamando-se repetidas vezes o Filho do homem, e autorizando-nos assim a chamá-lo nosso verdadeiro irmão. Um Deus fazer-se homem é um abaixamento incomparavelmente maior do que se todos os príncipes da Terra e todos os anjos e todos os santos do Céu, sem excetuar a Mãe de Deus, se abaixassem ao ponto de não serem mais do que um fio de erva ou um pouco de fumo. Pois que a erva, o fumo, bem como os príncipes, os anjos e os santos são criaturas, enquanto que da criatura a Deus a distância é infinita. — Mas, observa São Bernardo, quanto mais esse Deus se humilhou fazendo-se homem por nós, tanto mais fez conhecer a grandeza de sua bondade.Também o Apóstolo exclama que o amor de Jesus Cristo para conosco é tal, que nos constrange e força extremamente a amá-Lo. Ah! se a fé não nos desse a certeza, quem poderia jamais imaginar que por amor de um verme da terra, como é o homem, um Deus se fez verme da terra como o homem! Se acontecesse, diz um piedoso autor, que passando pela estrada pisásseis casualmente um verme e o matásseis, e que alguém, vendo-vos ter dele compaixão, vos dissesse:Se quereis restituir a vida a esse pobre verme, deveis primeiro tornar-vos como ele, e depois abrindo-vos as veias, banhá-lo em vosso sangue; — que responderíeis? — Que me importa, diríeis certamente, que o verme ressuscite ou fique morto, por que eu tenha de buscar a sua vida com a minha morte? Essa seria com mais razão a vossa resposta, se se tratasse não de um verme inocente, mas de um áspide ingrato que, depois de beneficiado por vós, vos tentasse tirar a vida. Mas se, não obstante isso, levásseis o amor ao ponto de sofrer a morte para restituir a vida a essa malvado réptil, que diriam os homens? E se esse animal salvo assim pela vossa morte tivesse raciocínio, que não faria por vós? Mas Jesus Cristo fez isso por ti, mísero verme da terra; e tu ingrato tentaste muitas vezes tirar-lhe a vida, e os teus pecados O teriam matado realmente, se Ele ainda estivesse sujeito à morte. Tens sido mais vil a respeito de Deus do que o verme a teu respeito! Que importava a Deus que ficasses ou não no pecado, presa da morte e da condenação segundo o teu mérito? E esse Deus teve tanto amor por ti que, para livrar-te da morte eterna, primeiro se fez verme como tu, e depois para salvar-te quis derramar todo o seu sangue e sofrer a morte que merecias. Sim, tudo isso é de fé: O Verbo se fez carne, diz São João, e amou-nos a ponto de nos lavar em seu próprio sangue (Ap 1,5). A Santa Igreja, ao considerar a obra da Redenção, declara-se aterrada. E ela não faz senão repetir as palavras do profeta ao exclamar: Senhor, eu ouvi a tua palavra, e temi; tu saíste para a salvação do teu povo, para o salvar com o teu Cristo (Ha 3,2-13). Santo Tomás tem, pois, razão de chamar o mistério da Encarnação o milagre dos milagres; milagre incompreensível, em que Deus mostra o poder de seu amor pelos homens; pois que, de Deus que é, esse amor O faz homem; de Criador, criatura nascida de uma criatura, diz São Pedro Damião; de soberano Senhor, simples servo; de imortal, sujeito às penas e à morte. É assim que, segundo a palavra da Santíssima Virgem, Ele fez brilhar o poder de seu braço. São Pedro de Alcântara, ao ouvir uma vez cantar o Evangelho que se reza na terceira missa de Natal: In principio erat Verbum etc., contemplando esse mistério ficou de tal modo inflamado de amor para com Deus que em êxtase se elevou nos ares e, embora distante, foi levado para diante do Santíssimo Sacramento. E Santo Agostinho dizia que não se saciava nunca em considerar a grandeza da bondade divina na obra da Redenção dos homens. É sem dúvida por causa da grande devoção a esse sublime mistério, que o Senhor mandou escrever sobre o coração de Santa Maria Madalena de Pazzi estas palavras: E o Verbo se fez carne. Encarnação do Verbo: belo incêndio de amor divino QUEM AMA, NÃO AMA SENÃO PARA SER AMADO; assim, diz São Bernardo, Deus que tanto nos amou, só quer de nós o nosso amor. Dirigindo-se depois a cada um de nós, ajunta: “Homem, qualquer que seja, viste o amor que Deus te mostrou fazendo-se homem, sofrendo, morrendo por ti; quando é que Deus verá por experiência em tuas ações o teu amor a Ele?” Ah! ao ver que um Deus se quis revestir da nossa carne, levar vida tão penosa, e padecer morte tão cruel por nós, cada homem deveria arder de amor para com esse Deus tão amoroso. Oxalá romperás tu os Céus, e descerás de lá! Os montes se derreteriam diante da tua face; as águas arderiam em fogo (Is 64, 1). Meu Deus, exclamava o profeta antes da vinda do Messias, dignai-vos descer do Céu, tomar a natureza humana e habitar entre nós! Vendo-vos os homens, feito como um deles, as montanhas se derreterão, aplanar-se-ão para eles todos os obstáculos, todas as dificuldades que os impedem de observar os vossos preceitos e os vossos conselhos; e as águas arderão em fogo: a chama que acendereis nos corações penetrará nas almas mais glaciais e as abrasará de amor por vós! E de fato, depois da encarnação do Verbo, que belo incêndio de amor divino se viu resplandecer em tantas almas generosas! Desde que Jesus Cristo veio habitar entre nós, Deus foi certamente mais amado pelos homens num só século, do que o fora durante os quarenta séculos que precederam sua vinda. Quantos jovens, nobres e até monarcas renunciaram às riquezas, às honras e à dignidade régia, retiraram-se ao deserto ou ao claustro, e abraçaram uma vida pobre e desprezada a fim de melhor mostrar a Deus o seu amor! Quantos mártires caminharam jubilosos e sorridentes aos tormentos e à morte! Quantas tenras virgens recusaram a mão dos grandes do mundo e derramaram seu sangue por Jesus Cristo a fim de retribuir de alguma maneira a um Deus que quis encarnar-se e morrer por seu amor! Sim, tudo isso é verdade; mas consideremos agora o que nos deve fazer chorar. Tem-se visto igual maneira de agir em todos os homens? Têm todos procurado corresponder a esse grande amor de Jesus Cristo? Ah! a maior parte lhe pagou e ainda paga com ingratidão. E tu, meu irmão, dize-me: qual tem sido o teu reconhecimento para com um Deus, que tanto te amou? Tens-lhe sempre agradecido? Tens considerado o que significam as palavras: um Deus feito homem e morto por ti? Um homem que assistia uma vez a missa sem devoção, como fazem tantos, não fez nenhum sinal de reverência ao ouvir dizer no fim: “E o Verbo se fez carne”. O demônio deu-lhe uma rude bofetada dizendo: “Ingrato, lembra-te que Deus se fez homem por ti, e tu nem te dignas inclinar-te? Ah! se Deus tivesse feito outro tanto por mim, eu lhe ficaria grato eternamente” Dize-me, cristão, que mais poderia Jesus Cristo fazer para merecer o teu amor? Se o Filho de Deus tivesse de salvar da morte a seu próprio Pai, que mais poderia fazer do que se abaixar ao ponto de tomar carne humana e sacrificar sua vida para resgatá-lo? Digo mais: Se Jesus Cristo fosse um simples homem e não uma pessoa divina, e quisesse por qualquer prova de afeição obter o amor de seu Pai, poderia Ele fazer mais do que fez por ti? E se um dos teus servos tivesse dado o seu sangue e sua vida por amor de ti, não te prenderia o coração e te obrigaria a amá-lo ao menos por gratidão? E por que Jesus Cristo, mesmo dando por ti a sua vida, não conseguiu ganhar o teu amor? Ah! se os homens desprezam o amor divino, é porque não compreendem, digamos melhor, não querem compreender que felicidade é possuir a graça de Deus, a qual, segundo a expressão do Sábio, é um tesouro infinito, e faz amigos de Deus aos que dela gozam (Ecl. 7,14). Os homens estimam e procuram o favor de um príncipe, de um prelado, de um rico, de um sábio, até de um desclassificado na sociedade; e há infelizes que não fazem caso da graça de Deus: renunciam-na por uma fumaça, um prazer brutal, um pouco de terra, um capricho, um nada. E tu, caro irmão, que dizes? Queres ser também do número desses ingratos? Se Deus não te satisfaz, diz Santo Agostinho, vê se podes encontrar algo que valha mais. Vai, pois, procura um príncipe mais benfazejo, um protetor, um irmão, um amigo mais amável, e quem te tenha amado mais do que Deus; procura alguém que, mais do que Deus, te possa fazer feliz nesta vida e na outra. Quem ama a Deus nenhum mal tem a temer; pois Deus assegura que não pode deixar de amar a quem O ama; e quando alguém é amado por Deus, que temor poderá ter? É assim que falava Davi: O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem pois temerei? E as irmãs de Lázaro contentaram-se em dizer ao Senhor que seu irmão estava enfermo, pensando: Jesus o ama e isso basta; Ele não podia deixar de ir em seu auxílio e curá-lo. De outro lado, como pode amar a Deus quem despreza o seu amor? Ah! resolvamo-nos uma vez a pagar com amor a um Deus que tanto nos tem amado. Peçamos-lhe sem cessar nos conceda o grande dom de seu amor. Segundo São Francisco de Sales, é essa a graça que devemos desejar e pedir mais que toda outra graça, porque com o amor divino obtemos todos os outros bens como no-lo assegura o Sábio. Eis por que Santo Agostinho dizia: “Amai e fazei o que quiserdes”. Quem ama alguém foge de tudo que o possa desgostar e procura agradar-lhe sempre mais. Assim quem ama verdadeiramente a Deus nada faz que O possa desagradar, mas aplica-se a fazer o possível para lhe causar prazer. Para obtermos mais depressa e mais seguramente esse precioso dom do divino amor, recorramos Àquela que mais amou a Deus, digo, a Santíssima Virgem Maria sua Mãe: o seu coração era tão inflamado de amor por Deus, que os demônios, no dizer de São Bernardino de Sena, não ousavam aproximar-se d´Ela para tentá-la. Ricardo ajunta que os próprios serafins podiam descer do Céu para aprender de Maria o modo de amar a Deus. E já que o coração de Maria era sempre todo abrasado do divino amor, continua São Boaventura, Ela comunica o mesmo fogo a todos os que a amam e d´Ela se aproximam, tornando-os semelhantes a Ela. O VERBO ETERNO DE GRANDE SE FEZ PEQUENO “Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um filho” (Is 9, 6). PLATÃO DIZIA QUE O AMOR ATRAI O AMOR:Magnes amoris, amor. Daí o provérbio citado por São João Crisóstomo: Se queres ser amado, ama. De fato, o mais seguro para cativar-se o afeto de uma pessoa, é amá-la e dar-lhe a entender que é amada. Mas, Jesus meu, essa regra, esse provérbio é para os outros, para todos os outros e não para Vós. Os homens são gratos para com todos, menos para convosco. Não sabeis o que mais fazer para testemunhar aos homens o amor que lhes tendes; nada mais vos resta a fazer para conquistardes o coração dos homens. E quantos são os que vos amam? Ah! a maior parte, digamos melhor, quase todos não só não vos amam, mas nem sequer vos querem amar. Ainda mais: vos ofendem e desprezam. Queremos também nós ser do número desses ingratos? Oh! não, que não o merece esse Deus tão bom, tão amante que, sendo grande, e de uma grandeza infinita, quis fazer-se pequeno para ser amado por nós. — Peçamos a Jesus e Maria nos esclareçam. Que são os homens diante da infinita grandeza de Deus? Para se compreender qual foi o amor que determinou a um Deus fazer-se homem e criancinha em favor dos homens, seria preciso ter uma ideia da grandeza de Deus. Mas que homem ou que anjo poderia compreender a grandeza divina que é infinita? Segundo Santo Ambrósio, dizer de Deus que Ele é maior que os Céus, que todos os reis da Terra, que todos os santos é fazer-lhe injúria, como seria injuriar a um príncipe dizer que ele é maior do que um cálamo de erva ou uma mosca. Deus é a grandeza mesma, e toda a grandeza é apenas mínima parcela da grandeza de Deus. Considerando essa divina grandeza, convencido de sua absoluta incapacidade para compreendê-la, Davi exclamou: “Senhor, onde encontrar uma grandeza comparável à vossa?” De fato, como poderia uma criatura, cuja inteligência é finita, compreender a grandeza de Deus, a qual não tem limites: Grande é o Senhor, cantava o mesmo profeta; Ele é digno de todo o louvor, e sua grandeza é infinita. — Não sabeis, disse Deus aos judeus, que Eu encho o Céu e a Terra? De sorte que para falarmos segundo o nosso modo de entender, não passamos de atomozinhos imperceptíveis nesse imenso oceano da essência divina. Dizia o Apóstolo: “Nele temos a vida, o movimento e o ser”. Que somos nós em relação a Deus? Que são todos os homens, todos os monarcas da Terra, e mesmo todos os santos e todos os anjos do Céu diante da infinita grandeza de Deus? Somos menos que um átomo relativamente ao mundo inteiro; e para falarmos como Isaías, todas as nações são na presença de Deus como a gota d’água suspensa no bordo do vaso, como o peso que faz pender apenas a balança; e todas as ilhas não são senão um pouco de pó; numa palavra, todo o universo é diante d’Ele como se não existisse. Ora esse Deus tão grande se fez criança, e para quem? Por nós. Nasceu-nos um Menino, disse ainda Isaías. Mas para que fim? Santo Ambrósio responde: “Fez-se pequeno para nos tornar grandes; quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à Terra a fim de que pudéssemos subir ao Céu”. Eis pois o Ser imenso feito criança; Aquele que os Céus não podem conter, ei-lo enfeixado em pobres paninhos, e deitado num presépio estreito e grosseiro, sobre um pouco de palhas que lhe servem de leito e de travesseiro! São Bernardo exclama: Vinde ver um Deus que pode tudo, preso em paninhos de sorte a não poder mover-se; um Deus que sabe tudo, privado da palavra; um Deus que governa o Céu e a Terra, necessitando ser carregado nos braços; um Deus que nutre todos os homens e todos os animais, precisando de um pouco de leite para viver; um Deus que consola os aflitos, que é a alegria do paraíso, e que chora, que geme e que procura quem o console! Em suma, diz São Paulo que o Filho de Deus vindo à Terra se aniquilou a si próprio. E por quê? Para salvar o homem e para ser por ele amado. “Meu divino Redentor,exclama São Bernardo, na medida em que vos abaixastes fazendo-vos homem e criança brilharam a misericórdia e o amor que nos mostrastes a fim de ganhar os nossos corações”. Soberano, mas nascido numa manjedoura em fria gruta Embora os hebreus tivessem claro conhecimento do verdadeiro Deus que se lhes manifestara por tantos milagres, não estavam satisfeitos. Queriam vê-lo face a face. Deus achou o meio de contentar também esse desejo dos homens. Tomou a natureza humana e tornou-se visível a seus olhos, diz São Pedro Crisólogo. E para melhor se insinuar aos nossos corações, continua o mesmo santo, quis mostrar-se primeiro como uma criancinha, porque nesse estado Ele devia parecer-nos mais grato a nossos afetos. Sim, acrescenta São Cirilo de Alexandria, Ele se abaixou à humilde condição de uma criancinha a fim de se tornar mais agradável a nossos corações. Era esse, com efeito, o meio mais próprio para se fazer amar. O profeta Ezequiel tinha pois razão de dizer: ó Verbo encarnado, que a época da vossa vinda à Terra devia ser o tempo do amor, o tempo dos que amam. E, com efeito, por que motivo Deus nos amou tanto e nos deu tantas provas de seu amor, senão para ser amado por nós? Deus só ama para ser amado, diz São Bernardo. Aliás, o Senhor mesmo o declarou desde o início: E agora, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que O temas... e O ames? (Dt 10,12). Para obrigar-nos a amá-Lo, Deus não quis confiar a outrem a tarefa de nossa salvação, mas quis fazer-se homem e vir resgatar-nos em pessoa. São João Crisóstomo tem uma bela observação sobre a expressão de que se serve São Paulo ao falar desse mistério; Ele nunca tomou a natureza dos anjos, mas tomou a carne dos filhos de Abraão. Por que, pergunta ele, o Apóstolo não diz simplesmente que Deus se revestiu da carne humana, mas que a tomou como que à força, segundo a significação própria do vocábulo apprehendit? E responde: afirmou assim como metáfora, para explicar que Deus desejava ser amado pelo homem, mas o homem lhe voltara as costas e não queria reconhecer o amor que Deus lhe votava. Eis por que desceu do Céu e tomou um corpo humano para se fazer conhecer e amar, como que à força, pelo homem ingrato que d´Ele fugia. É por isso que o Verbo Eterno se fez homem, e é também por isso que Ele se fez criança. Ele poderia apresentar-se sobre a Terra como homem feito à semelhança do nosso primeiro pai Adão, mas o Filho de Deus preferiu mostrar-se ao homem sob a forma de uma graciosa criança, a fim de ganhar mais depressa e com mais força o seu coração. As crianças são amáveis por si mesmas e atraem o amor de quem as vê. O Verbo divino fez-se menino, diz São Francisco de Sales, a fim de conciliar o amor de todos os homens. Ouçamos São Pedro Crisólogo: “Não é porventura desse modo que deveria vir a nós Aquele que queria banir o temor e fazer reinar o amor? Que alma haverá tão feroz que não se deixe vencer pelos encantos dessa criança? Que coração tão duro que não se enterneça à sua vista? E que amor não exige Ele de nós? Assim pois quis nascer Aquele que desejava ser amado e não temido”. O Santo Doutor nos faz compreender que, se o divino Salvador quisesse, vindo ao mundo, fazer-se temer e respeitar pelos homens, ter-se-ia apresentado sob a forma de um homem perfeito e cercado da dignidade régia. Mas, como procurava apenas ganhar nossos corações, quis aparecer no meio de nós como uma criança, e como a criança mais pobre e humilde, nascida numa fria gruta entre dois animais, colocado sobre a palha num presépio, sem lume e envolta em paninhos insuficientes para defendê-la do frio. Assim quis nascer Aquele que almejava ser amado e não temido! O Pai Eterno não despreza o sangue de Jesus vertido por nós E falando em geral do que concerne a todos, como podemos recear não obter o perdão de nossos pecados, quando pensamos em Jesus Cristo? Não foi para reconciliar os pecadores com Deus que o Verbo Eterno se humilhou a ponto de revestir-se da natureza humana? Não vim chamar os justos, disse ele, mas os pecadores. Digamos-lhe, pois com São Bernardo: “Sim, Senhor, abaixando-vos assim por nós, mostrastes até onde se estendeu a vossa misericórdia e a vossa caridade para conosco”. E tenhamos confiança, como nos exorta São Tomás de Vilanova com as palavras: “Que temes, pecador? Se te arrependeres de teus pecados, como te condenará aquele Senhor que morre para não te condenar? E se queres voltar novamente à sua amizade, como te repelirá Aquele que veio do Céu para te procurar?” Não tema pois o pecador que não quer mais ser pecador, mas deseja amar a Jesus Cristo; não se apavore mas confie. Detesta o pecado e procura a Deus, longe de se afligir, alegre-se, como a isso o convida o Salmista. O Senhor protesta que anseia se esquecer de todas as ofensas de um pecador que se arrepende. Se o ímpio fizer penitência, já não me recordarei de todas as suas iniquidades. E para nos inspirar ainda mais confiança, nosso divino Salvador se fez menino. “Quem temeria aproximar-se de uma criança?”, pergunta São Tomás de Vilanova. As crianças nada têm de terrível, respiram só doçura e amor. Alegrai-vos, pois, ó pecadores, exclama São Leão, o nascimento de Jesus é a aurora de alegria e de paz. — Ele é chamado por Isaías o Príncipe da paz. Jesus é Príncipe, não de vingança contra os pecadores, mas de misericórdia e de paz. Constituiu-se Mediador de paz entre Deus e os pecadores. Se não podemos pagar a justiça divina, diz São Agostinho, o Pai Eterno não pode desprezar o sangue de Jesus Cristo, que satisfaz por nós. O célebre duque Afonso de Albuquerque, transpondo os mares, viu certo dia o seu navio em risco de arrebentar contra os escolhos. Julgava-se já perdido, quando, percebendo uma criança que chorava, tomou-a nos braços e erguendo-a para o céu exclamou: “Senhor, se eu não mereço ser atendido, atendei ao menos os prantos desta criança inocente, e salvai-nos”. Terminada a prece, a tempestade acalmou-se e desapareceu o perigo. — Sigamos esse exemplo, nós, miseráveis pecadores. Temos ofendido a Deus. Merecemos ser condenados à morte eterna. Com razão a justiça divina quer ser satisfeita. Que devemos fazer? Desesperar? Oh!, não, ofereçamos a Deus essa terna criancinha que é seu Filho. E digamos-Lhe com confiança, se não podemos expiar as ofensas que vos temos feito, lançai os olhos sobre o divino Infante, que geme, que chora, que treme de frio sobre a palha nesta gruta; Ele satisfaz por nós e vos pede misericórdia. Se não merecemos o perdão de nossos pecados, considerai os sofrimentos e as lágrimas do vosso Filho inocente, que os merece por nós e Vos pede misericórdia. Intercessão da augusta Mãe junto de seu divino Filho Esse meio de salvação é precisamente o que Santo Anselmo nos indica. Ele diz que Jesus mesmo, não querendo nos ver perdidos, encoraja a quem se acha réu diante de Deus nestes termos: “Pecador, toma ânimo; se tuas iniqüidades já te fizeram escravo do inferno e não tens meio de te livrares dele, toma-me, oferece-me a meu Pai; assim escaparás à morte e te salvarás. Será possível imaginar-se maior misericórdia?”. A Mãe de Deus ensinou o mesmo à Irmã Francisca Farnese. Colocou-lhe nos braços o Menino Jesus e disse-lhe: “Eis meu Filho; aproveita-te dele oferecendo-o muitas vezes a Deus”. E se quisermos estar ainda mais seguros do perdão, reclamemos a intercessão dessa augusta Mãe, que é todo-poderosa junto de seu divino Filho para obter o perdão aos pecadores, como ensina São João Damasceno. E com razão, porque, segundo São Antonino, as preces de Maria junto de um Filho que tanto a quer e deseja vê-la honrada, têm o valor de ordens. É isso que leva São Pedro Damião dizer que quando a Santíssima Virgem vai pedir a Nosso Senhor em favor de algum de seus servos, Ela parece antes mandar que pedir: “Vós vos aproximais do trono de Jesus, não só para lhe suplicar, mas para, em certo sentido, lhe dar ordens, e antes como Rainha do que como serva, porque, para honrar-vos, o vosso Filho nada do que lhe pedis vos recusa”.Também São Germano acrescenta que Maria, em virtude da autoridade materna que exerce, ou, para melhor dizer, que exercera outrora sobre a Terra a respeito de seu divino Filho, pode impetrar o perdão aos maiores pecadores.

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