quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vida em Narazé



O Viver Quotidiano em Nazaré

Nazaré! Este é o nome de um lugar na terra, sem igual na história: o lugar onde Deus se encarnou no seio de uma Virgem. A Virgem Maria aí vivenciou o dia-a-dia de todas as mães. Sua vida era humilde e dedicada a Deus por meio das ocupações diárias: cuidados com a casa e o jardim, apoio a José em seu trabalho, educação de Jesus, oração em família e na Sinagoga, vida social e relacionamento com a vizinhança.



Como todas as mães... Entretanto, tendo como filho Aquele que será o Salvador do mundo! Assim, é em Nazaré, rodeado pelo desvelo de Maria e de José, que o Verbo de Deus feito homem viverá os trinta primeiros anos de sua vida terrestre (de sua “vida oculta”), onde iría se desenvolve toda uma espiritualidade da vida familiar; a espiritualiídade de Nazaré, bem simples e modelo perfeito para nossas famílias.



Um grande número de vestígios arqueológicos da época de Cristo, descobertos na Galiléia e em toda a Palestina, muito contribuíram para que se possa representar concretamente o que foi a vida da Sagrada Família. Muitas histórias da época de Cristo fazem, igualmente, referência à existência de “Jesus, o Nazareno”, na Palestina, sob Tibério – o imperador romano de então – testemunhando, destarte, a realidade histórica do Evangelho.



Descubramos, pois, abaixo, o viver quotidiano de Maria de Nazaré, os vestígios concretos de sua história e a espiritualidade de Nazaré...


Nazaré no ano 0 : uma pequena aldeia com algumas dezenas de casas...
Com uma população de cerca de 60. 000 habitantes dos quais, entre 30 e 35 % , cristãos, Nazaré é hoje a mais importante cidade da Palestina.

É nos textos dos Evangelhos que ela é mencionada pela primeira vez.



Testemunhos arqueológicos indicam que se tratava de uma aldeia agrícola com cerca de duas centenas de habitantes, apenas. O que provavelmente explica por que não existem referências anteriores, e por que a aldeia não é citada entre as 45 cidades da Galiléia, enumeradas por Flavius Josèphe, nem entre as 63 outras, mencionadas no Talmude.



Mas não é por ela, uma simples aldeola, ser de tamanho insignificante que Natanael de Caná lança ao apóstolo Felipe a frase que se tornou célebre:



"De Nazaré pode sair algo de bom ?" (João 1, 46)...



Com efeito, por mais modesta que seja a povoação de Nazaré, trata-se de uma localidade de moradias "principescas", ou, simplesmente, de "personalidades", pois nela duas coisas são dignas de nota:



a presença do "túmulo do Justo" no estilo daqueles próprios das nobres famílias da época, provando que Nazaré não era apenas uma aldeia de simples agricultores, pois lá ninguém teria tido os meios necessários para oferecer a si mesmo um túmulo tal ;
a presença da "casa de Maria": com efeito, a casa conservada em Loreto – e que foi perfeitamente certificada como vinda de Nazaré – é uma casa de pedra de ótima execução, que os simples aldeões de uma povoação rural não poderiam possuir...


A quem podiam, então, pertencer esta habitação e este túmulo, senão a pessoas de uma certa linhagem?



É preciso saber que em aramaico o termo nazor, ou nazir, quer dizer príncipe ou coroa, ou tonsura, e que os nazarenos, ou eram pessoas de linhagem importante, ou eram consagrados a Deus (tonsurados e que apenas usavam uma "coroa" de cabelos). Ora, em Nazaré viviam os descendentes do ramo principesco do norte, da ilustre família do rei Davi... (entre os quais José e Maria). Sabe-se também que esta linhagem davídica do Norte, que tinha reinado em Israel nos séculos passados, fora posta em cheque na época dos Macabeus, pois, desde então, não mais foram escolhidos os dirigentes da nação hebraica na família de Davi. E ao lugar para onde, modestamente, se retiraram os herdeiros desta principesca família desapossada, foi dado o nome de... Nazaré.



Torna-se então mais claro o reparo de Natanael acerca de Nazaré (João, 1, 46): ele não tem nada a ver com a insignificância da aldeia, mas sim com o malogro dos seus ilustres habitantes de uma linhagem davídica "decaída", que aí vivia, retirada das alamedas de um poder perdido... Sendo assim... O que é que poderia sair de bom de Nazaré...?


A História do povo de Israel

A história do Povo de Israel, quer dizer, a história dos Hebreus, é bem mais conhecida que o povo judeu – pequeno em relação ao número (aproximadamente dez milhões de Judeus, em todo o mundo, neste início do terceiro milênio); grande, porém, por sua influência constante no decurso da história universal.


Este povo se origina de Abraão, Isaac e Jacó (que Deus torna a batizar chamando-o "Israel") como relata a Bíblia nos livros da Primeira Aliança (chamados "Antigo Testamento" pelos cristãos).


Jesus, o Cristo, nasce desse povo. Descendia do Rei Davi, cujo nascimento virginal foi anunciado pelo Anjo Gabriel a Maria, jovem hebréia (1) que vivia em Nazaré, na Galiléia. A existência histórica de Jesus, o Cristo, é mencionada, igualmente, por alguns historiadores do Império Romano da época (o judeu Flavius Josèphe e o romano Suetônio, entre outros), assim como pelos historiadores do Império Persa.


(1) Na época de Jesus, distinguem-se os Judéens (ou "Judeus"), habitantes da região de Jerusalém chamada Judéia e os Hebreus, habitantes de outras regiões da Palestina, principalmente a Galiléia. A Virgem Maria, nascida na Galiléia, é, pois, hebréia.

Foi apenas, posteriormente, que o termo Judeus foi estendido a todos os Hebreus da Palestina.

Assim, quando São Paulo escreveu a Carta aos Cristãos da Palestina (e aos da diáspora), intitulou-a "Carta aos Hebreus".



A vida da Sagrada Família em Nazaré

A realidade dominante do que terá sido a vida de Jesus, Maria e José em sua pequena cidade de Nazaré, onde José exerceu a profissão de carpinteiro, foi a simplicidade.



Se bem que de descendência ilustre, por parte de seus antepassados - pois descendia do rei David – a Sagrada Família levava uma vida modesta, em meio a uma numerosa parentela, constituindo um lar nem pobre, nem rico, ganhando o pão de cada dia com o suor de seu rosto, respeitando as leis administrativas e sociais de seu povo.



No ritmo da oração comunitária na sinagoga, os ritos e as numerosas festas religiosas do judaísmo (onde, entre outros, o rito da circuncisão, a festa das Tendas, a peregrinação ao templo de Jerusalém), a vida de oração da Sagrada Família era, exteriormente, a de todo bom israelita praticante daquela época.



Portanto, por trás da modéstia deste comportamento respeitoso dos usos e costumes de sua cultura, a Sagrada Família vivia uma realidade tão grandiosa que apenas o silêncio e a discrição poderiam assegurar, ao Lar de Nazaré, a serenidade necessária ao desenvolvimento do plano de Deus, o nascimento do Messias, tão esperado pelo povo hebreu, depois de tantos séculos. Serenidade também para zelar pela infância e adolescência de Jesus, o Cristo Salvador do mundo, até que ele alcançasse sua plena maturidade de homem e pudesse iniciar sua vida pública e a pregação de seu Evangelho.



Foi efetivamente na humilde morada de Nazaré que começaram a se desenrolar, entre os membros da Sagrada Família, as primeiras páginas do Novo Testamento que o Céu, em seu Verbo, se fez carne e veio se doar aos homens, por amor e pela salvação de todos.



O testemunho do Cristo e de seus pais demonstra, também, o imenso resplendor que pode atingir uma vida familiar comum, vivenciada em Deus, na simplicidade e num grande amor compartilhado.


Vida de oração

Pouco a pouco o Templo de Jerusalém foi aceitando a presença das mulheres



A sociedade patriarcal teve que se adequar e se abrir ─ talvez sob a influência da sociedade romana ─ à mentalidade do maior respeito à mulher. O Templo era, essencialmente, uma instituição masculina: apenas os machos tornavam-se sacerdotes, somente os animais machos eram ofertados em sacrifício. Como à época do segundo Templo, famílias inteiras tinham se habituado a vir em peregrinação a Jerusalém, nasceu a permissão para as mulheres apresentarem, igualmente, o sacrifício da Páscoa. Além disso, a presença de mulheres obrigou os sacerdotes a introduzirem cerimônia especial para a festa das Tendas: a iluminação do pátio das mulheres, à noite.



Entretanto, as mulheres e os homens deveriam assistir à cerimônia, separadamente. Quanto ao Pentecostes, permitiu-se que as mulheres levassem os primeiros frutos, pois os primeiros a se beneficiarem eram os sacerdotes. O rabino Gamaliel havia até mesmo decidido acrescentar a bênção especial quando encontrava uma bela mulher no templo: "Bendito seja o autor da beleza."



A casa familiar, verdadeiro lugar da oração judia



Três vezes ao ano, Jerusalém era centro de peregrinação. Porém, o verdadeiro local de oração judaica era o próprio lar. A casa da Sagrada Família em Nazaré, no cerne da vida religiosa de Israel, já era, não somente a primeira igreja doméstica, mas, simplesmente, a primeira Igreja.


O mistério dos 30 anos de vida oculta de Cristo
Segundo os Evangelhos, nós não conhecemos quase nada sobre o que chamamos "a vida oculta" de Jesus, em Nazaré, ou seja, o período que abrange os trinta primeiros anos dos trinta e três em que o Salvador da humanidade viveu na Terra, entre nós! É o Evangelho de São Lucas que nos dá mais informações sobre esta parte da vida de Cristo, essencialmente no que diz respeito à sua infância: "Jesus crescia em sabedoria, estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens" (Lc 2, 52). Jesus viveu, pois, com Maria e José, uma infância afetuosa e submissa, marcada pela doçura, humildade e obediência.



O que se passou entre a infância de Jesus e sua "idade adulta" (trinta anos), nós conhecemos, em parte, graças ao que conseguimos vislumbrar, indiretamente, por meio da Sagrada Escritura. Entretanto, temos maior conhecimento por meio do conjunto dos textos escritos e testemunhos da Tradição da Igreja, e por meio de seus Santos e Doutores. Por conseguinte, o que descobrimos é que, antes de se lançar pelas estradas da Galiléia, para pregar, como fadava a sua missão divina, Jesus viveu, inicialmente, em Nazaré da Galiléia, junto aos seus, a vida de uma família judia, piedosa e laboriosa. Filho de carpinteiro, formado por José, seu pai, nosso Salvador exerceu, igualmente, durante muitos anos, esta profissão de artesão; Jesus seguiu, além disso, os costumes e preceitos da religião de Israel, freqüentando a Sinagoga com os fiéis de seu tempo.



Em resumo, durante noventa por cento de sua existência, neste mundo, Cristo – Verbo de Deus, Deus mesmo e mestre do Universo! – viveu como que escondido, ao abrigo dos olhares do mundo, em santidade, na obediência filial e no trabalho de suas mãos... O Papa Paulo VI vê nesta maneira de viver reservada, no coração da Sagrada Família, uma verdadeira "escola do Evangelho". Esta vida – absolutamente simples – da Sagrada Família, em Nazaré, não é, na verdade, uma escola de espiritualidade do viver cotidiano para cada cristão? Uma escola de vida, humilde e afetuosa, cujo Mestre não é outro senão o Próprio Deus feito homem...


O Que Sabemos Sobre São José?

A bem dizer, se nós nos ativermos apenas aos evangelhos não encontraremos muita coisa sobre São José: São Marcos não diz absolutamente nada, São João só o cita duas vezes (Jo 1, 45; 6, 42). É verdade que estes dois evangelistas começam a sua narrativa (depois de um prólogo) apenas no início da vida pública de Jesus. Mateus e Lucas, que nos relatam a infância do Senhor, serão, pois, as nossas fontes privilegiadas. Porém, as 25 citações em São Lucas e as 17 em São Mateus não nos trazem qualquer elemento. Nós ignoramos tudo sobre o local e a data de nascimento de São José, e nenhuma palavra sua nos foi transmitida. "José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus" (Mt 1, 16).

(...)


São José trabalhador

Leão XIII quis intervir, com palavras claras e corajosas, na condição dos operários, e ele manifestou sua solicitude pelos pobres (Cf. Quamquam pluries, 1889). Uma prova concreta desse amor é justamente a encíclica posterior, Rerum Novarum, que, segundo João Paulo II, é um “documento imortal”, “uma data de grande importância no presente período da história da Igreja e também do meu pontificado. [...] ; pode-se dizer que o destino histórico de Rerum Novarum foi ritmado por outros documentos, que atraíam a atenção sobre ela e ao mesmo tempo a atualizavam.” (João Paulo II, centesimus annus 1).


José, de origem real, trabalhava de suas mãos


[…] Ora, o ponto de referência é o mistério da encarnação, que pões em relevo a dignidade do trabalho através daquele que o exerce, e no caso de são José, ele mesmo sobre o exemplo do Filho [...]. Leão XIII escreveu: “José, de origem real, unido em matrimônio com a sublime e a mais santa das mulheres, e pai putativo do Filho de Deus, passa, entretanto, sua vida ao trabalho, e pela sua obra e sua arte, ele obtém o necessário para a subsistência dos seus. [...[ O trabalho do operário, longe de ser desonrado, pode, ao contrário, quando a virtude aí está associada, ser altamente enobrecedor.” (Leão XIII, Quamquam pluries, 1889). “Jesus, ele o Filho de Deus e Deus ele próprio, quis ser visto e considerado como filho de um artesão, e melhor, ele não se negou de passar uma grande parte da sua vida ao trabalho manual. ‘não é este o carpinteiro, o filho de Maria?’ (Mc 6,3). “ (Leão XIII, Rerum Novarum, 1891)


A encíclica Centesimus Annus, na data de … são José Trabalhador


[…] Entre as múltiplas celebrações do centenário de “Centesimus Annus” (1991), em todo o mundo, não seria fácil encontrar a lembrança da figura e da missão de são José. Ele não é, todavia, estranho, nem ao pensamento de Leão XIII nem ao de João Paulo II, que quis datar sua encíclica sobre o trabalho não do dia 15 de maio, como “rerum Novarum”, mas sim de 1º de maio, memória de são José trabalhador. E se compreende o porquê.


(San Giuseppe nel mistero di Dio, Piemme 1992, p. 202-206)

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