terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Virgem dos Reis



A Virgem dos Reis foi esculpida pelos Santos Anjos

São Fernando de Castela (século XIII), Patrono de Sevilha, dos engenheiros da infantaria do exército e da juventude espanhola, cujo corpo permanece incorrupto até hoje na Espanha. Relatamos abaixo, em homenagem ao seu dia, como se deu o milagre que fez nascer a devoção a uma imagem sete vezes secular: Nossa Senhora dos Reis ou a Virgem dos Reis.
O cerco sobre Sevilha já durara muito tempo e São Fernando sofria muito com esta demora. O pobre homem vivia agora em contínuas vigílias de orações e penitências. Três vezes por semana se flagelava até empapar de sangue a terra. No entanto, era consolado por alguns religiosos que o acompanhavam, como seu confessor Dom Remondo e frei Domingos, um santo homem que havia sido discípulo de São Domingos de Gusmão. Confiado humildemente no que ouvia de seu confessor e do outro religioso, continuava na sua empresa sem deixar transparecer que sofria terríveis dramas interiores de consciência.
Outro temor que o atormentava era imaginar que poderia morrer ali sem conseguir conquistar Sevilha para Seu Senhor, Jesus Cristo, e assim deixar de cumprir sua missão. Consolava-o porém a idéia de que seu filho e sucessor no trono, Dom Alfonso, iria continuar sua empresa.
A rainha D. Joana percebia claramente que seu santo esposo estava sofrendo muito com aquela situação, mas que sua santidade aumentava com isto e crescia muito nele uma grande devoção à Santíssima Virgem, Mãe de Deus. Ouviu ele queixar-se várias vezes de que os homens não sabiam fazer as imagens da Virgem Santa Maria com um rosto que sorrisse como Ela realmente o faz. Deduziu a boa rainha que seu santo esposo, se dizia isto, provavelmente era porque havia visto a Santíssima Virgem. Pensou que seria para ele uma grande alegria ter uma imagem de Santa Maria que a retratasse mais fielmente.
Enviou a rainha algumas cartas para Burgos pedindo que lhe mandassem um artífice, o melhor que houvesse por lá.
Já se passara um mês e nada do artífice chegar. O calor no acampamento era intenso e horroroso, muitos adoeciam e morriam, e as coisas andavam prenunciando terríveis calamidades para frente. A rainha estava impaciente com a demora da chegada do artífice que solicitara quando um dia se lhes apresentou dois escultores. Segundo contam as crônicas sobre a história da Virgem dos Reis, eram dois anjos. Chegavam em boa hora, pois o próprio rei não os vira e ela queria mandar fazer a encomenda de uma forma reservada. Pediu a um capitão que arranjasse um local onde os dois homens pudessem trabalhar sem que ninguém o soubesse. Levaram-nos então para uma torre e lá permaneceram encerrados até que um dia mandaram avisar à rainha que tinham terminado sua obra.
A rainha foi ao local apreciar a obra de arte. Ela havia pedido que os artífices se esmerassem no rosto da Virgem e o fizesse da forma como seu esposo desejaria que fosse. Ficou a rainha comprazidíssima com a imagem, pois seu rosto tinha uma expressão amável e dulcíssima. Tudo fazia crer que realmente eram anjos os dois artífices daquela belíssima imagem, pois logo desapareceram sem se declararem quem eram ou receber o pagamento de seu trabalho. Deixou D. Joana a imagem naquele mesmo local e voltou à sua tenda para providenciar com suas damas as vestes e adereços da Virgem. Costuraram sem parar os ricos panos reais com as mais formosas sedas que mandaram buscar em Granada. As roupas foram bordadas de ouro e pedrarias. Foram encomendados os sapatos, o véu e tudo o que faltava para ornamentar a imagem sem que São Fernando de nada tomasse conhecimento.
Preparada a imagem, D. Joana chama Dom Remondo, o confessor do rei, e lhe mostra para saber dele se realmente o rei gostaria da expressão do rosto e da beleza daquela imagem. O religioso concordou em que realmente a expressão do rosto era muito piedosa. Era preciso levar a imagem até à capela real sem que São Fernando a visse. Assim, quando o mesmo saíra, Dom Remondo, que também tinha a chave da capela, entrou no interior dela com a imagem e a colocou no altar principal.
Que surpresa teve o rei quando pela manhã foi à capela fazer suas orações matinais! Tão viva foi a recordação que a imagem lhe dera da Mãe de Deus que, todo o tempo que duraram a Santa Missa e as orações dos clérigos, o rei permaneceu absorto contemplando a Senhora que ali via pela primeira vez. Somente escultores angélicos poderiam realmente transmitir para a madeira algo da expressão divinal da Virgem Maria.
- Esta é a Virgem dos Reis! – falou o rei para os circunstantes.
A rainha olhava de lado, contentíssima por ver que o rei permanecia ajoelhado e comprazido aos pés da Virgem.

(Fonte: “Nuestra Señora en el Arzon”, de C. Fernandez de Castro, A. C. J., publicada em 1948 pela Editora Escelicer, S.L., de Cádiz, Espanha).

Nenhum comentário:

Postar um comentário