terça-feira, 28 de setembro de 2010







Irmãos de Jesus







Doutrina da Igreja Católica



Os “irmãos de Jesus” na Sagrada Escritura são um grupo de varões – Tiago, José (ou Joset), Judas e Simão – que aparecem vinculados a Cristo por íntimo parentesco (cf. Mt 13,55; Mc 6,3). Além disso, acompanham frequentemente a Mãe do Senhor, como narram, Mt 12,46; Mc 3,31; 7,19; Jo 2,12.

O termo “irmão” (ah em hebraico, adelphós na tradução grega dos LXX) designava na linguagem dos hebreus não somente os filhos do mesmo leito conjugal, mas também um familiar ou consangüíneo próximo. Ló, por exemplo, sobrinho de Abraão, é chamado “irmão” deste em Gn 13,8; 14,16. Algo de análogo se dá com Jacó, sobrinho de Labã (cf. Gn 29,12,15). Em Lv 10,4, Moisés manda a Misael e Elisafã façam sair da frente do santuário seus “irmãos” que, no caso, eram propriamente seus primos. Os primos são designados como “irmãos” também em 1Cr 23,21-22, onde se lê: “Os filhos de Merari foram Moholi e Musi. Os filhos de Moholi foram Eleázaro e Cis. Eleázaro morreu sem ter filhos, mas apenas filhas; os filhos de Cis, seus irmãos, as tomaram por mulheres”.

Ora no santo Evangelho os “irmãos de Jesus” não significam em absoluto os filhos da mesma genitora, Maria considerada Santissima para os católicos. Com efeito, entre as mulheres que assistiram à crucificação de Cristo, Mt 27,56 menciona Maria, mãe de Tiago e José. Essa Maria, conforme Jo 19,25, não é esposa de São José, mas de Cléofas e, segundo a interpretação mais óbvia, a irmã de Maria, Mãe de Jesus: “Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria (esposa) de Cléofas, e Maria Madalena”.

Pois bem: os nomes Cléofas e Alfeu designam a mesma pessoa: Klopas parece será forma grega do apelativo aramaico Chalphai, ao passo que Alphaios ou Alfeu é a transcrição direta desse vocábulo aramaico. Como refere Hegesipo (séc. II), o mais antigo historiador da Igreja, Cléofas ou Alfeu era irmão de São José.

Cléofas, portanto, e Maria de Cléofas eram os genitores de Tiago e de José; tinham um terceiro filho, Judas, o qual no início da sua epístola se apresenta como irmão de Tiago (este Tiago só pode ser o filho de Cléofas, não de Zebedeu, pois não era irmão de João Evangelista; confira-se Mt 13,55, onde Tiago, Judas e José, não João, são chamados irmãos.

Quanto a Simão, o quarto dos irmãos de Jesus, Hegesipo o apresenta também como filho de Cléofas. Por conseguinte, os quatro irmãos do Senhor seriam primos de Jesus por descenderem de uma irmã de Maria Santíssima, também chamada Maria, irmã casada com Cléofas, irmão de São José. Há quem não aceite que duas irmãs, vivendo contemporaneamente, tenham tido o mesmo nome “Maria”. A dificuldade, porém, perde muito do seu peso se se levam em conta os costumes dos antigos: entre outros, pode-se citar o caso de Otávia, irmã do Imperador Augusto, a qual tinha quatro filhas vivas ao mesmo tempo: duas delas chamavam-se “Marcella” sem cognome, e duas outras “Antônia”. O nome “Maria” era, de resto, muito freqüente na Galiléia.

Outros objetam que Maria não podia ter irmã, devia ser filha única, única herdeira; isto explicaria que haja sido obrigada a tomar esposo dentro da sua parentela, a fim de que a herança continuasse em poder da mesma linhagem. Quem, na base destes argumentos, não queira admirar que Maria, esposa de Cléofas, tinha sido irmã de Maria, esposa de José, poderá muito bem interpretar o texto de Jo 19,25, acima transcrito, como se quatro, e não três, mulheres tivessem estado ao pé da cruz; distinguir-se-iam então Maria, Mãe de Jesus, a irmã anônima desta, a seguir, Maria esposa de Cléofas e Maria Madalena. Neste caso, os filhos de Cléofas ainda seriam ditos com razão “primos” de Jesus, pois Cléofas era irmão de São José, pai de Jesus.

Eis, pois, como esquematicamente se representaria o parentesco vigente entre Jesus e “seus irmãos”: HELI (Lc 2,23) gerou Cléofas e José: Cléofas ou Alfeu casado com Maria teve Tiago Menor, José (Jeset), Judas Tadeu e Simão; São José casado com Maria Santíssima - JESUS CRISTO.

Neste esquema fica aberta apenas a questão: Maria esposa de Cléofas era irmã de Maria, Mãe de Jesus?

Em apoio de quanto foi dito acima, observe-se mais o seguinte: Maria Santíssima nunca é chamada nas Escrituras “Mãe dos irmãos de Jesus”, mas apenas “Mãe de Jesus” (Jo 2,1); em Mc Jesus é precisamente dito “o Filho de Maria”, em oposição aos seus “irmãos”, os quais, segundo a lógica, não podiam ser igualmente filhos de Maria: “Não é este o carpinteiro, o Filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão?”.

É preciso outrossim considerar que, se Maria tivesse tido algum filho de Jesus, o Senhor na cruz não a teria confiado a João, filho de Zebedeu; os filhos propriamente ditos seriam os primeiros indicados como arrimo materno. A fórmula mesma com que Jesus se refere a João, dá a entender que este seria para Maria o representante e, de certo modo, substituto de seu único Filho: “Mulher, eis o filho teu” (Jo 19,27); o artigo teria sido omitido se Maria tivesse outro filho.

Quanto ao fato de que Maria é frequentemente mencionada com os “irmãos de Jesus” nos Santos Evangelhos (cf. Mt 12,46; Mc 3,31; Lc 8,19; Jo 2,12; At 1,14), explica-se bem pelas íntimas relações que uniam as famílias de Cléofas e São José; provavelmente este Santo Patriarca morreu antes do início da vida pública de Jesus; parece então que Maria Santíssima se retirou com seu Divino Filho para a casa de seu cunhado, de sorte que as duas famílias se fundiram como que numa só. Outros pensam que foi Cléofas quem primeiro morreu; em conseqüência, José teria recebido em sua casa a viúva e seus filhos, primos de Jesus.

Em debates sobre o nosso tema, é por vezes citado o texto de São Paulo, 1Cor 9,5: “Não temos o direito… como os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas?”. Esta passagem não implica que os irmão do Senhor devam ser excluídos do grupo dos Apóstolos; em tal caso, Cefas também não poderia ser considerado Apóstolo. São Paulo faz a tríplice enunciação acima apenas para realçar o grau de dignidade progressiva dos que compunham o grupo dos Apóstolos.

A título de ilustração, vão aqui referidas duas sentenças que de pouca ou nenhuma probabilidade gozam no assunto: os “irmãos de Jesus” seriam filhos de São José nascidos de um primeiro matrimônio do Patriarca ou seriam filhos adotivos do mesmo. Não há necessidade de estudo demorado dessas teses, hoje não mais em voga.

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