quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Maria nas Escrituras
Costumam dizer que Maria é pouco citada nas Escrituras. Pouco? Efetivamente, se pesamos a Escritura por quilo e se contamos os versículos. Mas, será que Deus quer que raciocinemos assim?
Em poucas palavras, a Escritura nos faz compreender que Jesus passou trinta anos com Maria, sem contar o tempo da gravidez e os anos de vida pública (Lc 2, 51).
Em duas frases, o Apocalipse afirma que ela é a Arca verdadeira, a que estava no cerne de todo o Antigo Testamento (Ap 11, 19).
Maria “bendita entre todas as mulheres” (Lc 1, 42), “cheia de graça’ (Lc 1, 28) sobre quem o Espírito Santo repousa (Lc 1, 35) deve, ela mesma, declarar que “todas as gerações a chamarão de bem-aventurada” (Lc 1, 48).
E todo o Antigo Testamento anuncia o Cristo de forma velada e profética, mas desenha, igualmente, o Rosto de Maria de forma velada (Arca da Aliança, Arca de Noé, Sarça Ardente, Tabernáculo do Altíssimo, Templo de Deus, Filha de Sion, Virgem de Isaías, Bem-amada do Cântico, Paraíso do Céu etc.).
Do mesmo modo, o Espírito Santo é pouco invocado na Escritura, mas as poucas passagens que se referem a Ele (p. ex. Mt 28, 20) nos induzem a compreender que Ele é igual ao Pai e ao Filho e que Ele é Deus em pessoa. É preciso, pois, ir além das aparências.
Importa procurar compreender e aprofundar, com a Igreja (Ac 8, 31), todo o peso da Palavra de Deus. Jesus disse, por exemplo, que devemos julgar a árvore pelos frutos e que a boa qualidade dos frutos nos faz conhecer a boa qualidade da árvore (Mt 7,20; 12,33; Lc 6,43). Ora, não pode haver fruto mais belo do que o Próprio Jesus. E como Jesus é o fruto bendito (Lc 1, 42) do seio desta árvore extraordinária que é Maria, basta que O olhemos para termos idéia da grandeza e da bondade da Mãe de Deus... Voltemos, então, à Escritura. Assim resumia Hugues de Saint Victor o pensamento de Santo Alfonso de Ligóri:
“Tal Cordeiro, tal Mãe, pois a árvore se conhece pelos frutos”.
Cristo na Santa Escritura
Cristo proclama em seu Evangelho: "Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento" (Mat 5, 17). Jesus indica, então, de que forma a Nova Aliança que Ele inaugura se fundamenta na Primeira Aliança, contida na Lei e no que foi referido pelos Profetas até a Sua chegada. Pois, a Lei e os Profetas anunciavam a vinda do Messias-Salvador a Israel e preparavam o povo eleito a reconhecê-Lo quando chegasse.
Portanto, Cristo Jesus, o Messias, está no centro das Sagradas Escrituras, visto ser Ele, de igual forma, Aquele em quem são cumpridas as Promessas anunciadas ao povo eleito na Primeira Aliança e, igualmente, Aquele, por meio do qual se inicia a Nova Aliança com Israel, selada em sua Encarnação messiânica. Como formulado pelo antigo adágio, segundo a admirável fórmula de Santo Agostinho, o Novo Testamento está oculto no Antigo, e o Antigo está desvelado no Novo.
"O Novo se esconde no Antigo e o Antigo se revela no Novo" (Santo Agostinho, Hept. 2, 73: PL 34, 623)
Anúncios de Maria no Antigo Testamento
Segundo a visão cristã, Eva, a primeira mulher, logo se tornou aquela que, com Adão, arrastou toda a humanidade para o naufrágio do pecado original. Deus prometeu um Salvador e a mãe do Redentor foi anunciada naquele mesmo momento, no texto no Gênesis já citado: “Porei hostilidade entre ti e a mulher” (Gn 3, 15).
A mais autêntica das filhas de Abraão
Abraão, nosso “pai na fé”, obedeceu de forma total e incondicional às promessas de Deus, mesmo quando, por causa de fatos externos, tenha sido difícil, para ele, visualizar de que forma as promessas Divinas poderiam se realizar. O Papa João Paulo II, quando em Nazaré - 25 de março de 2000 - em sua homilia designou a Virgem Maria como “a mais autêntica das filhas de Abraão” porque, com grande fé, ela se tornou a Mãe do Messias e a Mãe de todos aqueles que crêem. (cf. homilia publicada no Osservatore Romano, edição semanal em língua francesa, 4/4/2000, p. 11).
Imagens e figuras de Maria no Antigo Testamento :
Eis os símbolos referentes à Virgem Maria que poderemos encontrar na Bíblia hebraica, o Antigo Testamento para os cristãos: Encontramos no Antigo Testamento, a Virgem prometida no Gênesis e em Isaías, a Filha de Sião, o Jardim do Éden, a Bem-amada do Cântico dos Cânticos, e o Arco da Aliança. Ruth é um símbolo de Maria e da igreja porque é colocada de forma providencial na árvore genealógica do Cristo. Esther e Judith são, igualmente, símbolos de Maria, como associadas ao Salvador no desenvolvimento do plano divino da Salvação (1).
Junto a Cristo, Maria é a maior glória do povo judeu
A Virgem Maria poderia ser vista, junto a Cristo, como a maior glória do povo judeu. Foi no seio do povo da Aliança que Deus escolheu esta figura excepcional que daria nascimento ao Salvador da humanidade. Nós devemos rezar a Maria para que Ela obtenha de Deus a graça de promover, sempre mais e melhor, as relações entre judeus e cristãos.
Cardinal Francis Arinze
Réflexions données lors du Colloque sur "Marie dans les relations œcuméniques et inter-religieuses", Lourdes, 8 juin 2001.
Réf. : OMNIS TERRA (Édition française), n. 382, mai 2002, pp. 182-188.
O que são as Santas Escrituras ?
A chamada «Sagrada Escritura» – ou Bíblia – é o conjunto dos Escritos sagrados inspirados na Primeira Aliança e na Nova Aliança de Deus com os homens.
Entre os livros santos da humanidade, a Bíblia se distingue pelo sentido dos acontecimentos históricos que ela traz: nela descobrimos, através destes acontecimentos que marcaram a história de Israel (Primeira Aliança ou, em linguagem cristã “Antigo Testamento”) que não é somente o homem que busca a Deus, mas é o próprio Deus quem procura o homem e estabelece a aliança com ele.
Como foi formada a Bíblia cristã?
Nos primeiros séculos após Jesus Cristo, a Igreja reúne certos escritos que avalia como santos e inspirados, distinguindo-os de outros que julga serem apócrifos. No fim do terceiro século muitos Concílios acrescentaram um conjunto de 27 Livros das Santas Escrituras de Israel definindo assim a Bíblia cristã tal como a conhecemos hoje.
Mas a Igreja que reuniu, canonizou, conservou e divulgou a Palavra de Deus em todo o mundo, ao longo dos séculos, é, igualmente indispensável para discernir a beleza, a força e o sentido profundo da Sagrada Escritura.
"Compreendes então o que estás a ler ?"
No Ato dos Apóstolos, a troca entre Filipe e o Etíope convida a buscar ajuda:
« Um Etíope viera a Jerusalém em peregrinação para adorar e regressava para a sua casa. Sentado na carruagem, lia o profeta Isaías. Filipe o ouviu e perguntou-lhe:
“Entendes o que estás lendo ?”
“Como poderia, disse ele, se alguém não me explicar?” » (At 8, 27-30)
Se não temos um guia, como poderemos compreender as Escrituras? Nós somos como os discípulos de Emaús; para que nossos olhos se abram para o mistério do Cristo, centro das Sagradas Escrituras, nós precisamos nos aprofundar nos ensinamentos da Igreja, na sua liturgia, nos ensinamentos dos Padres, Doutores da Igreja e Santos que escrutaram a Palavra de Deus, para bem discernir o seu conteúdo e, com a ajuda do Espírito Santo, encontraremos a beleza, a força e o sentido autêntico da Bíblia.
Os acontecimentos históricos da Primeira Aliança são figuras representativas (1) daqueles da Nova Aliança
Por exemplo, quando Jesus estava na Cruz, São João conta que “um dos soldados, traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 34), os apologistas e doutores da Igreja nos dizem que o sangue e a água figuram nos sacramentos da Igreja, Esposa de Cristo, que nasceu ao lado do Novo Adão, mergulhado no sono da morte, da mesma forma como, originalmente, Eva tinha nascido da costela de Adão, quando este estava mergulhado num sono misterioso.
De igual forma, nos tempos que precederam a Encarnação, a espera do Messias era muito intensa, pois os historiadores conseguiram enumerar mais de cem candidatos a Messias no Primeiro século a.C. Jesus cumpriu e tornou fato o conjunto de anúncios simbólicos e proféticos dados durante os séculos da Primeira Aliança, ao longo da História de Israel, e o que Ele realizou, constitui-se uma realidade verdadeiramente surpreendente e única no mundo. Para que estas evidências sejam descobertas, é preciso aprender a ler a Escritura como ela foi escrita, com a Igreja, no Espírito Santo!
(1) Atenção, este tipo de leitura, sublinhando como os acontecimentos da Primeira Aliança possam ser figuras representativas da Nova Aliança, não suprime a consistência própria, o acontecimento ou a realidade histórica do que se passou realmente na época do Antigo Testamento. Simplesmente, com a revelação do Cristo no Evangelho descobre-se que o Antigo Testamento se cumpre no Novo: “Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento”, diz Jesus (Mt 5, 17).
Revelação de Deus e a Sagrada Escritura
A Igreja em seu Magistério, sempre ensinou que a Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamentos) é uma Escritura santa, quer dizer, inspirada a seus autores pelo próprio Deus em seu Espírito Santo. Assim, para a Igreja, todos os textos da Primeira Aliança preparam, por intermédio de tantos autores inspirados, a Revelação Evangélica, pelo Próprio Cristo, na Nova Aliança.
Para os Padres da Igreja, a Bíblia é o Cristo, pois cada uma de suas palavras nos coloca diante d´Ele
"Que o nascer do sol te encontre com a Bíblia na mão." Esta exclamação de Evagre exprime de forma adequada a tradição patrística... Os Padres da Igreja viviam a Bíblia, pensavam e falavam por meio da Bíblia, com esta admirável penetração que chega à identificação do seu ser, com a própria substância bíblica. Se nos aprofundamos em sua escola, compreendemos, rapidamente, que a Palavra lida e compreendida sempre conduz à Pessoa Viva do Verbo. São João Crisóstomo reza diante do livro Santo a seguinte oração: "Senhor Jesus Cristo, abre os olhos do meu coração para que eu possa compreender e realizar a tua vontade... ilumina meus olhos com a tua luz." Assim também nos aconselha Santo Efraim: "Antes de qualquer leitura, reze e suplique a Deus para que Ele se revele a ti." Poderíamos dizer que, para os Padres, a Bíblia é o Cristo, pois, cada palavra sua nos coloca em sua presença: "Ele, Aquele que eu busco nos livros", confessa Santo Agostinho...
Segundo o C.I.C. (1), a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras assim como venera o Corpo do Senhor
Quanto ao Catecismo da Igreja Católica, vejamos de que forma o artigo consagrado à Sagrada Escritura é apresentado:
– 102 "Por meio de todas as palavras da Santa Escritura, Deus profere uma única Palavra, seu Verbo único, a expressão total do seu ser" (cf. He 1, 1-3): "Lembrem-se de que é a mesma Palavra de Deus que se ouve em todas as Escrituras, é o mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados, ele que, sendo no início Deus, junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo”(Santo Agostinho, Sl 103,4,1: PL 37, 1378).
- 103 Por este motivo a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera o Corpo do Senhor, não deixando, jamais, de apresentar e distribuir aos fiéis o Pão da vida, recebido na Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo (cf. Dei Verbum 21)".
(1) Catecismo da Igreja Católica
Maria na Bíblia
Às vezes, acreditamos que a Virgem é pouco evocada na Bíblia...
Este capítulo irá mostrar que as citações diretas, observadas no Novo Testamento, são bem mais numerosas do que pensamos e, muitas vezes, plenas de sentido, em momentos cruciais da vida de Cristo. Quanto às alusões indiretas a Maria, estas são numerosas e fundamentais: será que nós não descobrimos claramente que Maria é Aquela – a única no mundo – que viveu mais de trinta anos ao lado de Cristo, durante a sua vida terrena? E que, além disso, Ela é ainda, Aquela a quem o Apocalipse se refere como a “Arca da verdadeira Aliança”; Aquela que, primeiramente e acima de tudo, foi saudada pelo anjo da Anunciação como a “cheia de graça” e que pode anunciar a toda a Criação: “de agora em diante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada”... ?
O Antigo Testamento também está repleto de figuras, imagens e profecias nas quais tanto o Magistério, como os Padres da Igreja, seus Doutores e Santos, reconheceram o anúncio d´Aquela que deu ao mundo o Messias esperado. Do “Gênesis” ao Livro do Profeta Isaías, e até aos últimos profetas da Primeira Aliança, prefigurações e outros anúncios, respeitantes à Virgem Mãe do Salvador, atravessam o conjunto dos textos do Antigo Testamento, do Pentateuco aos Profetas, passando pelos livros históricos e sapienciais!
Maria nos outros escritos da Igreja
Se o Novo Testamento refere-se muito pouco à Virgem Maria, numerosos são, entretanto, os outros escritos, pertencentes ao tesouro da Igreja, a evocar a Mãe de Jesus (1):
inicialmente, os escritos da Tradição: dogmas e ensinamentos do Magistério da Igreja (pontifical, conciliar, apostólico), textos e homilias dos Pais da Igreja, textos da liturgia, tratados dos Doutores da Igreja;
há, igualmente, escritos e comentários exegéticos dos teólogos;
e ainda, os numerosos testemunhos dos grandes místicos reconhecidos e canonizados;
há, enfim, os inumeráveis “Evangelhos Apócrifos” (2): escritos estes, que constituem, verdadeiramente, a fonte, a mina maior de informações sobre a vida da Mãe do Cristo, pois eles provêm da época, do meio e das relações que cercavam a vida da Santa Família.
Mesmo que esses escritos não sejam canônicos, muitos deles, contudo, são considerados escritos sérios, apesar de tudo, e são citados aqui e acolá pela Hierarquia da Igreja e seu magistério.
(1) « Os grandes testemunhos marianos »
(2) O termo « apócrifo » (do grego apockryphos = escondido) designa um escrito, geralmente atribuído a um personagem próximo ao meio ou à época do Cristo, mas que não foi incluído ou mantido no cânon das Escrituras bíblicas cristãs.
(3) O Cânon (do grego kânon = junco, regra) é a lista das Escrituras cristãs reconhecidas como inspiradas. Um livro é “canônico” quando faz parte da Bíblia, o que o difere do livro “apócrifo”.
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